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segunda-feira, 28 de julho de 2025

Wet Leg

Quando o Wet Leg apareceu com “Chaise Longue” (vide clipe no final) em 2021, parecia mais um caso típico de viral passageiro: clipe caseiro, riff simples, letra provocativa. era uma releitura dos punk setentista de bandas como Wire ou The Fall  passando pelos anos 90 em bandas como Bleeders e Elásticas. Mas havia algo a mais no som — direto, sarcástico e com senso de humor — que grudava na cabeça. O sucesso foi rápido e, surpreendentemente, sustentado. O primeiro álbum, lançado em 2022, não apenas confirmou o potencial como consolidou o duo como um dos nomes mais comentados da cena britânica.

O disco homônimo, um hype que deu certo, foi recebido com entusiasmo por crítica e público, lembrando o impacto inicial do Is This It, dos Strokes, em 2001 — ambos modernizando referências do passado com personalidade. No caso do Wet Leg, isso veio com doses extra de ironia e um aguçado olhar tipicamente britânico sobre a vida cotidiana.

Em meio a um cenário indie previsível, Rhian Teasdale e Hester Chambers sem inventar a roda e caçando referencias do passado, seja do pós-punk ao shoegazzzer, embalaram tudo com um novo frescor: guitarras diretas, letras bem-humoradas e uma estética despreocupada, que ao menos a época soava autêntica. Faixas como “Wet Dream”, “Angelica” e “Ur Mum” uniam banalidades com comentários ácidos, sem soar forçado. As influências estavam lá, mas eram usadas como ponto de partida, não como fórmula.

A produção de Dan Carey ajudava: limpa, objetiva, sem enfeites desnecessários. O disco era curto, coeso e certeiro — que parecia espontâneo, mas deixava entrever um projeto bem pensado. O Wet Leg mostrava consciência de seu tempo e de como se destacar nele, sem precisar exagerar.

Diante disso, o segundo disco chega com mais estrutura — agora com banda completa — e também com mais ambição mercadológica. Percebe-se mais o dedo da gravadora que aposta num retorno mais popular. Mas nem sempre isso funciona. A produção mais densa tenta dar complexidade ao que antes soava leve, e o resultado é um álbum irregular. Há momentos inspirados, como a deliciosamente pop “Davida McAll” (vide clipe no final) , mas também passagens em que o excesso de camadas esconde o que havia de mais interessante: o senso de humor e o tom espontâneo. Sai o pós-punk seco de “Chaise Longue”, entram os sintetizadores, batidas mais eletrônicas e uma produção mais encorpada, ainda que com um toque indie que remete a bandas como Blur quando travestido de Gorillaz.

Não é um disco ruim, mas está longe do impacto do primeiro. Falta equilíbrio entre o desejo de evoluir e a essência que tornou o Wet Leg relevante. A banda parece, por enquanto, em busca desse ponto de estabilidade — entre amadurecer e não se perder no caminho.


Essa mudança também se reflete no visual. Rhian Teasdale, antes associada a um estilo mais despojado — vestidos retrô, cabelos bagunçados e um ar de despreocupação (vide primeira foto) —, agora aparece com uma imagem mais polida, quase glamourosa (logo acima). Uma diva pop disfuncional. A mudança reforça o afastamento daquele espírito irreverente que marcou o começo.

De qualquer forma, para o bem ou para o mal é mais do que uma questão estética, é uma mudança de postura. O Wet Leg parece mais consciente da própria imagem, mais preparado para grandes palcos — e talvez também mais preocupado com expectativas. O desafio, a partir de agora, é justamente esse: como crescer sem abrir mão do que fez a banda se destacar?

Ainda é cedo para conclusões definitivas. A nova fase está em construção. E mesmo com altos e baixos, o Wet Leg continua com talento e presença suficientes para se manter relevante. A questão é até onde vale moldar essa nova versão — e o quanto ela ainda carrega da original.


Acima o clipe de  “Chaise Longue” 

                                                       Abaixo o clipe de “Davida McAll” 


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