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sexta-feira, 25 de julho de 2025

Eu Quero Segurar Sua Mão — e Dar o Play no Lado B da Memória

 Seguindo a onda de revisitar textos antigos, aqui outro, que foi publicado originalmente AQUI no longíquo ano de 2009

Eu preciso te contar uma coisa — e acho que você vai entender. Ou, pelo menos, vai fingir que entende, o que já ajuda.

Trata-se da maior banda de todos os tempos. Não estou falando de “maior” no sentido “vende muito”, tipo essas playlists genéricas que o algoritmo empurra pra gente às seis da tarde de uma quarta-feira. Estou falando dos Beatles. Sim, aquelesBeatles: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. E antes que você pergunte, sim, eu também sei os nomes completos deles, o que já denuncia a gravidade da situação.

George, aliás, é o meu preferido. O mais quieto, o mais místico, o mais “deixa que eu componho uma aqui no canto”. Pra mim, ele era o verdadeiro beatle secreto — tipo o ingrediente misterioso da receita da vó.

Agora, veja: eu nasci depois da tal "Bitoumania". Nem perto. Quando dei o primeiro choro no mundo, os Beatles já tinham se separado, brigado, processado uns aos outros e provavelmente estavam todos de bigode. Mesmo assim, minha primeira lembrança ligada à banda foi, pasme, a morte do Lennon. Lembro vagamente de estar assistindo à TV e ver a notícia do assassinato. Perguntei ao meu pai quem era aquele cara, e ele respondeu com a sensibilidade típica da geração dele:
— “Ah, um tonto aí.”

E foi assim, com essa introdução calorosa, que entrei no universo Beatle.

Alguns anos depois, na casa dos vizinhos, ouvi dois álbuns que abriram minha cabeça como quem abre uma caixa de Lego e descobre que tem um castelo ali dentro: Rock’n’Roll Music e The Beatles Oldies. Foi amor imediato. Dancei sozinho na sala com "Twist and Shout" como se fosse o Ferris Bueller no desfile. Aliás, prometo escrever depois sobre Curtindo a Vida Adoidado. Talvez até cantar junto.

Meu primeiro disco de banda internacional ? Nada menos que Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. A capa parecia mais uma reunião de condomínio dos surrealistas. Eu, é claro, não entendi absolutamente nada na época. Provavelmente achei que era um disco infantil. Só muitos anos depois percebi que tinha comprado um pedaço de história. E isso me deu uma alegria besta, daquelas que só quem já encontrou dinheiro esquecido no bolso do casaco entende.

Mas veja bem, eu não vim aqui falar exatamente sobre os Beatles (Mas se alguém quiser nesse link eu falo). Vim falar de dois filmes meio esquecidos que orbitam esse universo e que moram no meu coração como se fossem parentes que vêm pouco, mas sempre trazem comida boa.

O primeiro é Febre de Juventude (ou I Wanna Hold Your Hand), dirigido por Robert Zemeckis — antes dele inventar DeLorean e fluxos de tempo. É sobre um grupo de adolescentes tentando invadir o hotel onde os Beatles estão hospedados durante a primeira visita à América. Tem uma cena da garota escondida debaixo da cama que hoje provavelmente daria processo, mas na época só causava gargalhadas nervosas.

Outro é um filme australiano de 1992 chamado Secrets (ou One Crazy Night) mas que aqui foi lançado como "O Clube dos Cinco – Parte 2" (sim, a criatividade no título foi patrocinada por um camelô com pressa). É sobre jovens presos num porão com um show dos Beatles rolando ali em cima, e tudo que eles conseguem fazer é discutir suas vidas enquanto o mundo vibra sobre suas cabeças. Uma sessão de terapia involuntária regada a mop tops, psicanálise improvisada e um fã do Elvis no meio do fogo cruzado.

Achei esse filme numa locadora esquecida, entre um VHS de A Lagoa Azul e uma fita com etiqueta “rebobine por favor”. Comprei por cinco reais e saí me sentindo o Indiana Jones da cultura pop. E você que disse "Ah Febre de Juventude" nem é tão esquecido assim, toma ! (Vou confessar , só lembrei desse filme revisitando esse texto, até eu já tinha o apagado da memória. Vou fuçar as velhas fitas guardada numa casa velha)

No fim, tudo isso serve pra dizer que, de alguma forma, os Beatles estão sempre por perto. Mesmo quando não são o assunto. Eles são a trilha de fundo, o pano de cena, o tempero do feijão. E como já cantavam, ou quase filosofavam:
“And in the end, the love you take is equal to the love you make.”
Ou, numa tradução livre e um pouco livre demais: no fim, o que você leva da vida é o amor que colocou na vitrola. E se possível, com a agulha bem alinhada. Se bem que disco riscado é tipo a mente da gente: vive voltando pro mesmo lugar.

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