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quarta-feira, 9 de julho de 2025

SAGA, de Brian K Vaughan e Fiona Staples




Saga, de Brian K Vaughan teve 11 encadernados publicados pela Devir sendo que os 9 primeiros correspondem as 54 edições iniciais da série que completam o primeiro Arco. Atualmente está sendo publicado o segundo arco de historias, que até o momento conta com 2 encadernados contendo as edições 55 a 66 sendo que um terceiro esta para ser publicado nos EUA ainda este ano

Abaixo, uma analise das 6 primeiras edições que compreende o Primeiro Encadernado. Não preciso dizer aos leitores mais inteligentes que contem muitas revelações sobre a série.


EDIÇÃO 1

         A primeira edição de Saga abre com um nascimento: Alana dá à luz sua filha, Hazel, em meio a um esconderijo precário, logo sendo atacada por soldados,.A cena estabelece o cerne da série — a história de uma família improvável fugindo de uma guerra interestelar. Alana e Marko, de raças inimigas. Ela, alada do planeta Aterro  (Landfall no original); Ele, com chifres, da lua Grinalda (Wreath no Original), se apaixonaram e agora estão sendo caçados por ambos os lados do conflito, desta vez no Planeta Fenda (Cleave no Original)

Um adendo interessante dessa edição. A Guerra entre o Planeta e sua Lua tem uma questão interessante, Se qualquer um for destruído, isso influirá na orbita do restante, por ser um Planeta e sua Lua. Mesmo assim, a Guerra é inevitável e se estende pelos demais Planetas do sistema solar, que abraçam essa guerra como deles fossem. A Saga se inicia no Planeta Fenda, devastado pela Guerra originaria de Aterro e sua lua Grinalda.

A edição introduz também caçadores de recompensas chamado "O Querer"(O Will no Original) e o Príncipe Robô IV, preparando o palco para uma trama complexa e politicamente carregada. A narrativa é conduzida por uma narração de Hazel, a recém-nascida, indicando que esta é a retrospectiva de sua vida.

Vaughan e Staples constroem um universo vasto e rico desde a primeira página, misturando ficção científica e fantasia com uma naturalidade onde o tom é ao mesmo tempo íntimo e épico: enquanto acompanhamos um parto e uma discussão de casal, há uma galáxia em guerra ao fundo.

Brian K. Vaughan emprega diálogos ágeis e carregados de humanidade, evitando a armadilha do excesso de exposição — o mundo é explicado de forma orgânica, através de ações e conversas. Os personagens, mesmo introduzidos rapidamente, têm profundidade emocional desde o início, especialmente Alana, cuja força e sarcasmo equilibram o idealismo pacifista de Marko. A escolha de Hazel como narradora adiciona uma camada de melancolia e ironia à história, sinalizando que o desfecho pode não ser feliz

Fiona Staples entrega uma arte de traços expressivos e paleta suave, com design de personagens e cenários marcantes. Sua arte confere fisicalidade e emoção às cenas, sem jamais parecer caricatural — mesmo criaturas bizarras, como o Príncipe Robô IV com uma cabeça de monitor de TV, parecem estranhamente plausíveis. O contraste entre tecnologia e magia, carne e metal, está visualmente bem representado.

A edição inicial já introduz temas centrais como o absurdo da guerra, o preconceito entre espécies, o amor proibido, a fuga e o nascimento em tempos de destruição. A série claramente quer ser uma alegoria moderna de refugiados, famílias inter-raciais e o impacto da guerra nas gerações futuras — tudo isso sem perder o senso de aventura e maravilhamento.

A primeira edição de Saga é um exemplo de como criar um universo envolvente e emocional em poucas páginas. Com roteiro maduro, personagens fortes e uma estética distinta, Saga se estabelece não apenas como uma space opera, mas como uma poderosa história sobre amor, identidade e sobrevivência. É uma introdução promissora para uma série que viria a se tornar uma das mais aclamadas dos quadrinhos modernos.

EDIÇÃO 2

Na segunda edição de Saga, a trama avança com a fuga de Alana e Marko por um pântano em busca do foguete-floresta, uma nave viva que pode tirá-los de Fenda (Cleaver) — o planeta devastado onde estão escondidos. Ainda fugindo das forças de Aterro e Grinalda, o casal começa a se abrir um com o outro, aprofundando o relacionamento que até então parecia movido apenas por paixão.

Enquanto isso, somos apresentados de maneira mais aprofundada ao caçador de recompensas conhecido como O Querer, um dos personagens mais intrigantes da série. Ele recebe a missão de capturar Alana e Marko e é retratado como alguém profissional, mas não desprovido de princípios ou sentimentos — especialmente ao confrontar o funcionamento de um bordel com crianças escravizadas, o que o afeta visivelmente.

A edição termina com um momento de suspense, quando Marko é ferido gravemente, estabelecendo um clima de tensão e perigo constante, e reforçando o tom adulto e imprevisível da série.

Se a primeira edição foi uma introdução explosiva, a segunda edição de Saga solidifica a qualidade e o escopo da obra, servindo com o aprofundamento emocional e ético do universo.

Brian K. Vaughan continua seu trabalho com diálogos afiados, alternando com fluidez entre momentos de humor, tensão e afeto. A conversa entre Alana e Marko revela detalhes do relacionamento deles e da guerra entre Aterro e Grinalda sem recorrer a exposição forçada. É especialmente eficaz a forma como o autor revela os contrastes culturais entre os dois — tecnologia versus magia, disciplina militar versus filosofia espiritual — sem maniqueísmo. A oposição entre Aterro e Grinalda vai além do conflito bélico, revelando tensões ideológicas e religiosas mais profundas.

O destaque, no entanto, vai para O Querer, que entra em cena como um antagonista moralmente ambíguo. Em poucas páginas, Vaughan já planta a dúvida: será que ele é realmente um vilão? Sua reação ao encontrar uma criança escravizada num bordel (estou adiantando a Edição 4) e sua tentativa de salvá-la mostram que ele é muito mais do que um simples mercenário. O personagem levanta questões sobre ética, abuso e violência que desafiam o leitor a repensar arquétipos.

a segunda edição de Saga também apresenta uma personagem fundamental: A Caçadora de Recompensas conhecida como A Espreita (em inglês, The Stalk), que atua como uma espécie de rival e antagonista direta de O Querer.

A Espreita aparece como uma figura impactante logo em sua introdução, visualmente e narrativamente. Ela é uma das mais memoráveis criações visuais de Fiona Staples: tem forma humanóide feminina da cintura para cima, mas embaixo possui um corpo de aranha com múltiplas pernas. Esse design não é gratuito: ele evoca reações ambivalentes no leitor — atração e repulsa —, tornando A Espreita um símbolo perfeito da complexidade moral e estética que permeia Saga. Essa fusão de sensualidade e monstruosidade reforça uma das marcas da série: quebrar expectativas visuais e temáticas. 

Enquanto O Querer é retratado como introspectivo, relutante e até compassivo, A Espreita é impiedosa, fria e totalmente focada na missão de capturar Alana, Marko e a bebê Hazel. Sua presença torna claro que o universo dos “freelancers” (os caçadores de recompensas) é competitivo e brutal. Ela é apresentada como uma profissional rival que, ao contrário de O Querer, não hesita em usar violência extrema para cumprir seus objetivos.

Esse contraste entre os dois personagens dá mais profundidade ao universo de Saga: os vilões não são unidimensionais, e mesmo entre antagonistas há uma hierarquia de valores e métodos. É possível sentir uma tensão de respeito e desconfiança mútua entre eles, sugerindo que há um histórico compartilhado — algo que o roteiro irá explorar mais à frente na série.

Na versão original em inglês, ela se chama The Stalk, um nome com múltiplos sentidos. “Stalk” pode significar tanto o ato de perseguir silenciosamente (como um predador) quanto o “caule” de uma planta — o que ecoa o visual meio aracnídeo, meio orgânico da personagem.

Na edição brasileira, a escolha por A Espreita é extremamente adequada, pois captura com precisão o caráter ameaçador e furtivo da personagem. “Espreitar” carrega uma conotação de vigilância oculta, de aproximação silenciosa e fatal — todas características centrais da atuação dessa caçadora de recompensas. A tradução, portanto, é mais que literal: é eficaz em transmitir a aura ameaçadora da personagem.

A Espreita não é apenas uma rival profissional de O Querer, mas também uma figura de seu passado — algo que será explorado em edições futuras. Ainda assim, já na edição 2, há uma tensão não apenas competitiva, mas emocional entre eles. O Querer menciona A Espreita com uma mistura de desprezo e dor, sugerindo uma ligação íntima que transcende a rivalidade por contratos.

Essa dualidade — inimiga e ex-amante — adiciona uma profundidade dramática à série e torna A Espreita uma personagem trágica, ainda que temível.

A arte de Fiona Staples realmente brilha na criação de A Espreita. Ela não é apenas grotesca ou assustadora — sua forma híbrida transmite ameaça e beleza ao mesmo tempo, reforçando a estranheza do universo de Saga, onde nada é simples ou puramente simbólico. Ela não se encaixa facilmente em arquétipos como "vilã sexy" ou "monstro ameaçador": ela é ambos, e nenhum ao mesmo tempo.

A chegada de A Espreita ao planeta Fenda intensifica o suspense, pois revela que não apenas O Querer está na cola da família, mas que há múltiplos interesses em jogo — e nem todos seguem códigos morais.

Sua presença também prepara o leitor para o caos que está por vir. Ela é uma personagem que representa o lado mais sombrio do universo de Saga, onde a guerra produziu mercenários que funcionam como forças quase mitológicas de destruição e sobrevivência.

Espreita representa mais que uma ameaça física: ela é o reflexo da natureza impiedosa do mundo em que Hazel nasce. Sua imagem aracnídea evoca o arquétipo da “fêmea predadora” — presente em mitologias como a da aranha-tecelã (criadora e destruidora ao mesmo tempo), ou mesmo em arquétipos modernos de figuras femininas perigosas, como medusas ou assassinas.

No entanto, Saga evita a misoginia frequentemente associada a esse tipo de figura: A Espreita é poderosa, letal e sensual, mas não é desumanizada. Seu destino posterior reforçará isso.

Fiona Staples continua impressionando com sua arte expressiva e cinematográfica (odeio esse termo que acho equivocado  mas visualmente funciona). Ela retrata tanto os cenários naturais quanto os momentos íntimos com grande habilidade. O visual do planeta Fenda — orgânico, perigoso, e com um quê de místico — contrasta bem com a frieza tecnológica dos agentes de Aterro e com a estética melancólica de O Querer.

O uso de cores suaves, quase aquareladas, ajuda a dar um ar de fantasia adulta à narrativa, sem nunca perder o peso emocional.

EDIÇÃO 3

Nessa edição de Saga ainda esta ambientada em Fenda, onde Alana, Marko e Hazel se deparam com os temidos Horrores — espíritos infantis que assombram o local, entre eles a espectral Izabel que aqui surge como guia para Alana atravessar Fenda em busca de neve para um feitiço de cura para Marko, à beira da morte após ter sido ferido por "A Espreita" na edição anterior. Inicialmente desconfiada, Alana acaba aceitando a ajuda de Izabel, que assume a role de “babá fantasma” de Hazel. Em sua conversa, Izabel revela sua história — morreu pisando numa mina, tinha uma namorada e lamenta a brevidade da vida.

A introdução de Izabel oferece uma rica pausa dramática, combinando horror fantasmagórico com ternura maternal — suas falas, especialmente “Só no dia em que termina” (sobre o vínculo com Hazel), ecoam profundamente. Os “Horrores” são apresentados como vítimas inocentes da guerra e exploram o tema da violência contra crianças; Fenda se torna um microcosmo da brutalidade que molda todo o universo de Saga

A passagem por Fenda marca uma desaceleração narrativa, algo que pode incomodar leitores ansiosos por ação, embora funcione bem como um interlúdio emocional.

Esta edição se destaca por equilibrar horror e ternura, incorporando elementos fantasmagóricos sem sacrificar o drama familiar central. Izabel, em seus poucos atos, assume papel comovente e muda a dinâmica emocional da história. Porém, essa pausa introspectiva pode passar a impressão de fragmentação — uma "história dentro da história" que se sustenta bem emocionalmente, mas pouco avança os arcos principais de Alana, Marko e Hazel.

Um interlúdio sombrio e sensível, com icônicos elementos de terror/fantasia, que aprofunda a humanidade de Hazel e Alana por meio de Izabel. Imperdível para quem busca drama emocional — menos se você espera avanço contínuo da trama principal.

EDIÇÃO 4

 O caçador de recompensas O QUERER chega a nave planeta Sextilion, um protibulo intergaláctico sem glamour onde a exploração revela um horror brutal. Quando ele encontra uma menina de seis anos vendida como escrava sexual, reage de forma violenta e devastadora, esmagando o crânio do explorador — um momento que destaca a linha tênue entre herói e monstruosoIsso torna O QUERER ainda mais fascinante: ele é cruel, mas tem seus limites. Como a protagonista narra, "Existem monstro piores que os outros"

Marko reaparece após ser curado, e os traumas de sua vida anterior — especialmente seu noivado com Gwendolyn — vêm à tona. A conversa entre ele e Alana sobre desconfiança e insegurança é escrita de modo cru e sincero, refletindo o desgaste de um relacionamento em fuga. Esse drama íntimo, mais fraco em ação, ainda é intenso emocionalmente, com momentos desconfortáveis que mostram a fragilidade do amor sob pressão .

Essa edição desacelera o ritmo, priorizando o interior dos personagens em vez das batalhas. Alguns leitores apontam que isso a torna menos dinâmica — até "plana" — em comparação com os volumes anteriores.Mas esse momento de “pausa”, é essencial para que o leitor se reconecte com os protagonistas e sinta as apostas reais da história .

A edição termina com tensão renovada: uma nave se aproxima de Marko & Alana. Essa guinada retoma a urgência da saga e promete resgatar a dinâmica entre os protagonistas, ampliada agora por uma camada emocional mais densa .

EDIÇÃO 5

O Querer tenta libertar a garota escravizada do prostíbulo em Sextillion. Há tensão emocional e ética na cena — o contraste entre sua determinação heróica e o ambiente de exploração sexual. Em um dialogo onde uma cafetã diz que não vê diferença entre os soldados matarem crianças e o que ela faz , O Querer responde "se eu preciso explicar pra você isso, não vou perder meu tempo". Uma vez um amigo revoltado em explicar a algumas pessoas por que ele não vota em determinado candidato eu respondi algo parecido "nem perco meu tempo em explicar pois se a pessoa não entendeu por si só não tem salvação". Claro que as de outro candidato podem falar o mesmo invertendo a situação mas se elas não entendem a diferença entre ambos, então não há argumento que possa mudar.

Enquanto isso em Fenda, Marko e Alana enfrentam soldados do Aterro (ex parceiros da Alana) em um momento de grande violência. Marko perde o controle e quase comete um massacre usando sua espada. Isso reacende sua luta interna entre pacifismo e necessidade de proteger sua família

A caçadora A Espreita ressurge rapidamente ao final da edição. Ela recebe um telefonema de O Querer, que a chama para ajudar no resgate. Algumas frases são trocadas dando mais pistas entre a relação pregressa entre eles.

Eta edição mantém o tom de "pausa dramática", dialogando com o que vimos na anterior:  ação intensa, mas com foco emocional. Marko enfrenta suas contradições internas, enquanto O Querer luta com seu ideal de justiça em um ambiente terrivelmente corrupto (a uma citação muito eficaz sobre a Policia)

A edição segue um padrão caro a Saga: violência gráfica, dilemas morais e complexidade emocional — tudo envolvido em uma estrutura de ritmo que mescla tensão com desenvolvimento humano. Marko e O Querer repreendem dois aspectos antagônicos — pacifismo e violência justificada — mas ambos demonstram que extremismos podem cegar.

A edição 5 funciona como catalisador: cria divisões internas, afia conflitos e reinstala ameaças. O leitor sente a tensão palpável — a família está próxima do colapso, e O Querer pende entre redenção e obsessão. Essa fase é essencial para mergulhar nas questões morais individuais antes de voltar ao ritmo galáctico mais amplo. O  ritmo é mais lento mas o impacto emocional compensa . 

EDIÇÃO 6

Marko, Alana, Hazel e Izabel escapam de A Fenda a bordo da icônica Árvore-Nave. O momento funciona como um novo estágio de liberdade e solidão, um contraste entre maior segurança e a incerteza que ainda desola essa família em guerra

Quietus, o Planeta Farol, representa um santuário intelectual: um povo pacífico, centrado em ideias, cultura e expressão. Mas aqui é somente citada como objetivo, vai ser desenvolvida a partir da próxima edição. O Principe Robô IV deduz que estão indo para lá por causa de um Livro que Alana estava lendo, onde reside o autor, Oswald Heist.

A narração de Hazel, como sempre, cria uma sensação de nostalgia e continuidade emocional — sua voz conecta passado, presente e futuro, enquanto os leitores sentem a profundidade da saga familiar. É da sua narração que antecipamos muito sobre o Planeta Quietus

O Querer tem apenas uma breve aparição, lamentando a morte de A Espreita e ameaçando o Principe Robô IV que conta da morte dela através de um Comunicador onde eles (O Querer e A Espreita) estavam conversando durante sua morte. 

O Principe Robô IV também conversa com o agente Especial Gale sobre o envio de Caçadores de Recompensas pelos Lunários (Grinalda) no mesmo objetivo de matar os desertores e capturar o Bebê e abre alguns questionamentos políticos

No final somos apresentados aos Pais de Marko como gancho para a próxima edição, que abre o Encadernado 2



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