Vamos ser sinceros? Envelhecer é uma merda.
Não me venha com acusações de etarismo — essa palavra de efeito que agora brota em todo debate como planta daninha em calçada velha. Não sou contra os velhos. Sou contra o tempo. Ele é que não perdoa ninguém. E é justamente por isso que eu gosto tanto de X, o filme de Ti West. Um dos melhores terrores dos últimos tempos. Não só por ser um slasher raiz, bem dirigido e deliciosamente sujo, mas por uma cena em especial — aquela que fez muita gente torcer o nariz nas redes sociais.
Sim, a cena da velha nua entrando na cama. Aquela que fez parte do público gritar "etarismo!" com a mesma intensidade com que gritam em sustos falsos de filme genérico da Netflix.
Mas, veja bem, essa cena não tem nada de etarismo. Pelo contrário: ela expõe o etarismo de quem assiste. É provocadora, sim. É desconfortável, claro. E é pra ser mesmo. Porque o que o filme joga na nossa cara não é a nudez em si, mas o nosso incômodo com ela. Quando é uma jovem saindo do lago, todos acham "arte erótica". Quando é uma senhora enrugada buscando algum afeto ou desejo, vira "nojento" ou "gratuito".
Ora, gratuito por quê? Porque nos tira do conforto? Porque nos obriga a lembrar que vamos todos acabar como ela? Porque o corpo velho não cabe no imaginário sexual higienizado do cinema? Essa cena é uma rasteira no moralismo disfarçado de bom gosto. E o mais interessante: ela não é feita pra chocar gratuitamente, mas pra confrontar. E é isso que um bom filme de terror deveria fazer — não apenas nos assustar com monstros, mas com a própria condição humana.
Em tempos em que tudo parece moldado para agradar, onde até o horror precisa vir com glossário e manual de etiqueta, Xacerta ao ser incômodo de propósito. Ele não pede desculpas por existir. Ele não suaviza sua proposta para caber no feed. Ele quer provocar. E consegue.
A nudez da personagem idosa em X não é um susto fácil — é um espelho. Um espelho daqueles que ninguém quer olhar, porque mostra o que vem depois da juventude, depois da beleza, depois do desejo. E isso, para muita gente, é mais assustador do que qualquer vilão mascarado.
Aliás, que ótimo que o filme faz isso. Chega de filmes que parecem ter medo de incomodar. Chega de personagens velhos que só existem para dar conselhos sábios ou morrer na primeira cena. Que venham mais velhas nuas em camas alheias, mais rugas em 4K, mais roteiros que encostem a plateia na parede e perguntem: “o que exatamente te incomoda aqui?”
Porque o terror de verdade não está só no sangue. Está no que evitamos olhar — e X obriga a olhar de frente.
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