"Mas é você que ama o passado e não vê que o novo sempre vem."
Essa frase, que escutei pela primeira vez sem muito entusiasmo, hoje parece me seguir pela casa como uma música de elevador. Cada vez mais, ela faz sentido. Já tentei usar em conversas com amigos, como um argumento definitivo — ou ao menos para parecer profundo. Mas o que recebo de volta são rajadas de comentários sobre a música atual, a decadência do cinema, o fim da criatividade e outras desgraças culturais. E, convenhamos, quando o argumento é o "gosto popular", fica realmente difícil defender qualquer tese sem parecer maluco ou esnobe.
Mas aqui o texto é meu. E, por sorte, ele não precisa de consenso. Se houver comentários, posso ignorá-los com a elegância de quem fecha um livro no meio da página e diz: “já entendi”.
É verdade, a indústria cultural anda meio perdida. Custos nas alturas, bilheterias incertas, e a criatividade anda sobrevivendo à base de refilmagens, continuações e pacotes prontos de nostalgia. É o velho com roupa nova, fingindo que é inédito. O que me deixa mais deprimido, no entanto, não é isso. É ver o que empolga as pessoas, o que se torna referência de “qualidade”, o que move corações em emojis apaixonados nas redes sociais. Dá vontade de sentar na sarjeta e chorar em plano-sequência.
Veja bem, não estou me excluindo. Eu também consumi muita coisa duvidosa na vida. E a infância tem esse talento estranho de transformar o ruim em sagrado. Goonies, por exemplo. Um filme que, tecnicamente, é uma bagunça, mas que me arranca um sorriso sempre que ouço aquela trilha. Ou Caça-Fantasmas, que hoje seria esculhambado por qualquer crítico de Twitter, mas que pra mim continua sendo quase um documento afetivo. “Ah, mas esses são clássicos!”, dirão os indignados. Tudo bem. Só não me peçam para chamar isso de De Volta Para o Futuro, que é de fato uma obra-prima, uma exceção que confirma a regra: o passado também sabia o que fazia — às vezes.
Lembro que Harry Potter já não conversava comigo nem na época do auge. Já era coisa “de jovem”, mesmo eu ainda sendo tecnicamente jovem. E é nesse ponto que você percebe que a bifurcação chegou: ou você evolui, ou vira seu pai.
Eu li muito gibi. Muito mesmo. Marvel, DC, tudo. Sonhava com heróis no cinema, mesmo sabendo que, naquela época, isso quase sempre resultava em catástrofes visuais com figurinos de lycra e atores constrangidos. A esperança começou a se realizar com os primeiros X-Men, Homem-Aranha, aqueles do começo do milênio. Vibrei, claro. Mas, aos poucos, fui perdendo o interesse. Os filmes começaram a parecer versões diluídas de algo que já tinha vivido com mais intensidade nas páginas amareladas. Hoje prefiro reler os gibis antigos, e felizmente o mercado entendeu que tiozões nostálgicos com cartão de crédito são um bom público-alvo.
Mas tem gente que insiste. Que não quer crescer — no melhor (e pior) sentido possível. E vão empolgados ver o novo Vingadores, quando ele surgir das cinzas do último. Nem preciso ser vidente para prever a decepção. Mas sei que alguns vão sair animados do cinema, porque a animação é muitas vezes apenas a ausência da tragédia total. Se o filme não for um desastre, já está ótimo. O problema é que a expectativa é tão inflada que a realidade, por mais barulhenta, nunca dá conta do trailer.
Usei Vingadores aqui, mas poderia ser qualquer outro. Qualquer filme feito com algoritmo, vendido como evento e esquecido até a próxima sequência. O novo sempre vem. A pergunta é: com o que ele vem?
E a resposta, cada vez mais, parece ser: com menos do que a gente esperava.
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