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domingo, 6 de julho de 2025

HUMBERTO GESSINGER - REVENDO O QUE NUNCA FOI VISTO

 


Seguindo a boa e velha tradição de revisitar o passado sem a menor cerimônia, Humberto Gessinger nos entrega “Revendo o que nunca foi visto” – título curioso para um álbum ao vivo que, na prática, revisita aquilo que a gente já viu, ouviu e, se bobear, já até decorou. O disco vem com duas músicas inéditas de estúdio: “Paraibah”, que surge numa parceria inusitada com Chico César, e “Sem piada nem textão”, reunindo três ex-Engenheiros – Adal Fonseca, Luciano Granja e Lúcio Dorfman. Quem lembra do Gessinger Trio sabe que dois deles foram parte da aventura de Humberto tentando voltar às raízes do trio clássico, uma fase que durou pouco, logo interrompida com o retorno do nome Engenheiros da única forma que a história já conhece.

No palco, o time que acompanha o cara nos últimos anos também não dá sopa: Rafa Bisogno na bateria, Felipe Rotta no violão, Nando Peters entre o baixo e o violão, e Paulinho Goulart no acordeão – sim, aquele instrumento que já não é novidade, mas que insiste em marcar presença, como um personagem coadjuvante que se recusa a sair de cena. O repertório? Ah, o repertório! Uma seleção cuidadosamente tirada da última turnê que passeou pelos já clássicos “Acústicos MTV” e “Acústico Novos Horizontes”. Ou seja, versões acústicas de versões acústicas de hits que, originalmente, eram puro rock elétrico. Se você achou que essa repetição soa meio redundante, bem-vindo ao clube.

O título do disco provoca uma leve confusão: “Revendo o que nunca foi visto” soa, no mínimo, pretensioso quando o que se tem nas mãos é basicamente mais do mesmo. Por que não resgatar aqueles velhos esqueletos do armário? Aqueles clássicos menos celebrados como “Sob o Tapete” ou “Problemas... Sempre Existiram” teriam dado um tempero diferente, talvez um pouco mais de surpresa. Mas, não, preferiu-se o caminho seguro do repertório consagrado, da nostalgia sem maiores rupturas.

Não me leve a mal: o disco não é ruim. Pelo contrário, é bem gravado, os músicos são competentes e o setlist é agradável. O problema é que nada aqui sacode o espectador, nenhuma versão supera sua antecessora e a sensação que fica é a de um conforto musical que beira o comodismo. O acordeão? Já virou figurinha carimbada na carreira solo do Humberto – como um velho amigo que insiste em aparecer nas festas, mesmo quando ninguém mais está animado para dançar.

E falando em voltar no tempo, o ano passado trouxe uma surpresa digna de novela: Carlos Maltz e Augusto Licks, que foi expulso da banda há mais de três décadas, fizeram as pazes. Junto com Sandro Trindade, resolveram reviver os tempos de ouro dos Engenheiros em shows que traziam os arranjos fieis ao passado. Claro, Humberto não quis saber. O homem afirmou que prefere seguir em frente e não tem interesse em revisitar velhas glórias.  

Se isso soa contraditório vindo de alguém que lança turnês comemorativas e álbuns revisitando seu repertório, bem, essa é a graça do personagem Humberto Gessinger. Ele não faz o que se espera dele – ou melhor, faz, mas sempre com um toque de ironia, uma piscadela para quem o acompanha. Fazer “mais do mesmo” é quase um estilo, e um jeito bem particular de brincar com as expectativas do público.

No fim, “Revendo o que nunca foi visto” é mais uma página no livro de Humberto: um artista que sabe que revisitar não é repetir, mas pode ser uma forma de entender melhor o que o tempo fez com as canções que já são parte da nossa história – mesmo quando a gente já conhece a letra de cor. E, cá entre nós, não é todo mundo que consegue fazer isso com tanta classe e aquela pitada de ironia que só ele sabe entregar.

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Em tempo. A Capa, esta sim é horrível





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