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quinta-feira, 17 de julho de 2025

Geração Z, BIS no talo e o cancelamento da cultura: o tiro que sai pela culatra

 Até pouco tempo atrás, existia uma ideia quase romântica de que cultura era um território para o confronto — de ideias, estéticas, visões de mundo. A arte não precisava ser confortável, muito menos segura. Ela podia incomodar, provocar, até mesmo irritar. Era justamente esse desconforto que nos fazia crescer, pensar diferente, mudar de opinião ou solidificar convicções.

Mas de uns anos pra cá — digamos, de 2015 em diante — algo mudou. Palavras, livros, personagens, piadas e filmes que antes eram aceitos com naturalidade ou debatidos em voz alta passaram a ser percebidos como ofensivos, perigosos ou traumatizantes. Surgiu uma geração que, ao se deparar com qualquer conteúdo que atravesse sua zona de segurança, dispara o alarme do pânico cultural.

Essa geração não quer contextualizar, refletir ou confrontar ideias contraditórias — quer apagar. Se um autor escreveu algo que hoje soa datado, pronto: cancelado. Se uma piada não agrada aos ouvidos do moralismo digital, a sentença é a condenação em público e a exclusão do repertório coletivo. Não há diálogo — há litígio.

Monteiro Lobato? Racista. Woody Allen? Criminoso — ainda que nunca condenado e vítima de uma disputa judicial tão complexa quanto desconfortável. Roman Polanski? Injustificável, ainda mais com uma filmografia que é um tratado cinematográfico. E se por acaso alguém quiser separar o artista da obra, esse alguém também será rotulado, no mínimo, como conivente.

Até a cerimônia do Oscar, com seu verniz politicamente correto, não escapou do tribunal de hashtags: o prêmio a O Oficial e o Espião (Polanski) em Cannes foi suficiente para que Adèle Haenel anunciasse sua aposentadoria precoce, como quem abandona a cultura por desgosto ético. E o filme? Brilhante. Mas virou tabu.

A patrulha vai além do cinema. Dave Chappelle foi hostilizado por piadas que atravessaram as sensibilidades da vez. J.K. Rowling foi expulsa do universo que criou por declarações controversas sobre identidade de gênero. Mas para desgosto de muitos a obra dela rende demais para ser cancelada. E veja bem, não estou endossando o pensamento deles, nem conheço ela e só sei de sua obra porque não vivo em Marte, mas nunca li e tão pouco sou fã, ainda porque ja era adulto quando ela começou e mesmo filmes baseados em sua obra me interessavam mais no momento.

E o mais intrigante: essa geração tem plena capacidade crítica. Sabe usar palavras difíceis, lê manifestos, compartilha vídeos que explicam por que tudo é problemático. Mas é como se essa capacidade viesse casada com uma ansiedade paralisante diante da ambiguidade. A complexidade virou ameaça, e o pensamento nuançado foi trocado por manuais de conduta que se atualizam a cada semana.

O problema não é a crítica — é a histeria moral. Não é o desconforto — é a incapacidade de sustentá-lo. Numa era onde tudo pode ser sinalizado como ofensivo, a única cultura possível é a da censura disfarçada de zelo. E, no fim, o que se perde é a bagagem: livros deixam de ser lidos, filmes deixam de ser vistos, nomes são apagados de capas e biografias.

Cresce, assim, uma geração que consome cultura como quem anda em campo minado, sempre pronta a denunciar o que a machuca, mas cada vez menos disposta a escutar o que a desafia. O resultado? Um repertório cultural cada vez mais raso, higienizado e — ironia máxima — conservador. Porque, no fundo, toda essa moralidade progressista carrega uma nostalgia autoritária dos bons costumes: tudo deve ser puro, limpo, aprovado.

Cultura, no entanto, não é zona segura. É território de embates. Quem não suporta a colisão de ideias talvez devesse abrir mão da arte e focar em outras formas de expressão. Como por exemplo, administrar condomínio — que é bem mais previsível e, convenhamos, também envolve muito julgamento.

Notas Cinéfilas #3

Notas Cinéfilas são como o nome diz, Notas. São pequenos pensamentos que me passaram rapidamente e que pretendo depois reescrever de outra forma. Aqui abordar coisas no estilo "Tudo ao mesmo tempo agora", sem me preocupar em fugir do tema e passar para outro. Pequenos fragmentos de ideias que não pensei muito ao escrever e possivelmente vou achar bobagem quando reler mais para frente

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Odeio essa palavra que virou o “pau pra toda obra” do debate preguiçoso: superestimado. Não me entenda mal, claro que existe coisa superestimada por aí — aquele filme, aquela banda, aquele livro que a galera toda idolatra e que, quando você finalmente confere, pensa “ué, cadê o hype todo?”. Mas o problema não está na palavra em si, e sim em quem a usa como um escudo da preguiça intelectual 

Tem muita gente que lança “superestimado” como se fosse um argumento final, tipo “fechei o caixão, não quero nem discutir”. Mas, na real, o que acontece é que essas pessoas não querem se dar ao trabalho de entender por que algo é tão celebrado. É mais fácil cuspir o rótulo, fazer cara de quem já sacou o segredo do universo e sair achando que ganhou o debate. Aí fica aquele ar de “eu sou o diferente, o crítico que não segue a manada”, quando na verdade só está na superfície, sem mergulhar fundo.

E olha que essa preguiça não para aí. Também tenho uma implicância danada com termos da moda que viraram muletas para quem não quer pensar: “woke” e “lacração”. Dois palavrões atirados à toa, quase sempre por quem mal entende o que significam, só repetindo feito papagaio de pirata que acha que está navegando contra a maré. É a famosa pose de “eu sou livre, eu não me deixo manipular”, enquanto se deixa manipular por mantras vazios que só reforçam preconceitos e bloqueiam qualquer debate de verdade.

Essas palavras, usadas como jargões de efeito, não passam de atalhos para evitar a complexidade. E o pior: elas se tornam armas para cancelar conversas, podar ideias, e condenar qualquer coisa que desafie a visão estreita do mundo que essas pessoas carregam. Assim, em vez de expandir horizontes, a gente acaba presa numa bolha rasa, onde “superestimado”, “woke” e “lacração” são os únicos termos que valem a pena debater.

No fundo, é uma preguiça cultural, um comodismo intelectual que, se deixar, vai continuar condenando o diálogo e fazendo a gente perder a chance de aprender, crescer e, quem sabe, até mudar de ideia. Mas isso dá trabalho — e, convenhamos, quem quer isso?

Notas Cinéfilas #2

Notas Cinéfilas são como o nome diz, Notas. São pequenos pensamentos que me passaram rapidamente e que pretendo depois reescrever de outra forma. Aqui abordar coisas no estilo "Tudo ao mesmo tempo agora", sem me preocupar em fugir do tema e passar para outro. Pequenos fragmentos de ideias que não pensei muito ao escrever e possivelmente vou achar bobagem quando reler mais para frente

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 E cá estamos, continuando esse papo meio amargo sobre a geração que parece ter perdido o manual básico da paciência. Porque, veja só, hoje em dia ninguém mais assiste a um filme inteiro — é muito tempo, né? Muito mais fácil passar horas no Instagram, TikTok, ou até no YouTube, mas só assistindo aos famosos “shorts”, vídeos de poucos segundos que se sucedem numa velocidade frenética. Um atrás do outro, um flash de imagens, uns memes, umas dancinhas, uns comentários ácidos, e você mal percebe o tempo passar.

O relógio corre, a timeline não para, o dedo desliza sem dó pela tela e, de repente... opa! Já é hora de dormir. E o que ficou? Nada realmente aproveitado, nada que tenha feito pensar, rir de verdade ou sentir alguma coisa além da ansiedade do próximo vídeo.

É a era do “scroll infinito”, onde o lazer virou uma competição para consumir o máximo de conteúdo em menos tempo possível. A concentração virou artigo raro, quase uma espécie em extinção. Esqueceram que assistir a um filme, ler um livro ou mesmo curtir uma música inteira envolve imersão, atenção, entrega — uma experiência completa, não um recorte fragmentado e jogado na sua cara em doses homeopáticas.

E o pior: quando você tenta falar disso, diz que “isso é coisa de velho” ou “tá viajando, tudo mudou”. Só que não mudou para melhor, pelo menos não nesse quesito. Passar o dia inteiro vendo pedaços soltos de vídeos, numa velocidade que nem o Flash conseguiria acompanhar, é a receita para o esgotamento mental, o vazio de tempo mal aproveitado e aquela sensação incômoda de que você não fez nada de útil ou prazeroso.

No fim, essa pressa toda é só uma fuga. Fugir do silêncio, da reflexão, da sensação de estar ali, presente, curtindo de verdade algo que exige mais que um tapinha na tela. Nessa pressa frenética, a cultura vira fast food — fácil, descartável, e no fim das contas, indigesta.

Mas, quem sabe, um dia a geração do “scroll” descubra que desacelerar também é um ato revolucionário. Até lá, que a gente continue assistindo aos filmes inteiros, lendo os livros e vivendo experiências com calma, porque paciência, meus amigos, nunca sai de moda.

Notas Cinéfilas #1

Notas Cinéfilas são como o nome diz, Notas. São pequenos pensamentos que me passaram rapidamente e que pretendo depois reescrever de outra forma. Aqui abordar coisas no estilo "Tudo ao mesmo tempo agora", sem me preocupar em fugir do tema e passar para outro. Pequenos fragmentos de ideias que não pensei muito ao escrever e possivelmente vou achar bobagem quando reler mais para frente

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Hoje, um amigo me pergunta: “Você já assistiu A Substância?” Respondo que sim, meio na dúvida se ele realmente gostaria do filme — afinal, ele não é lá muito cinéfilo. Mal consigo formular um pensamento e ele já despeja a história inteira, acompanhado de uma opinião pronta, dessas que envolvem palavrinhas mágicas como “cultura woke” e outras expressões inventadas por quem não tem muito saco pra pensar sozinho, mas gosta de parecer esperto e resistente a manipulações.

Aliás, quando assisto filmes com meu filho, que nunca viu o filme antes, ele não perde tempo: durante a sessão já começa a adivinhar quem vai morrer, o que vai acontecer, como se tivesse um spoiler automático embutido. E não é só ele.

Mas o problema nem é tanto ver análises depois do filme — ainda que boa parte do que rola no YouTube seja análise duvidosa, às vezes até equivocada. O que incomoda mesmo é essa mania de vasculhar tudo, teorizar e destrinchar o filme antes mesmo de assistir. Hoje em dia, os trailers já entregam praticamente tudo: querem mostrar a cereja do bolo, o plot twist, o clímax — e você, que ia assistir para se surpreender, já chega na sala sabendo quase tudo.

Eu? Sinceramente, não tenho paciência para essa overdose de informação antecipada. O tempo é curto, e perder vinte minutos vendo um sujeito falar sobre o que vai acontecer no filme, enquanto eu poderia estar assistindo de verdade? Não, obrigado. Meus amigos vivem me indicando canais “famosos” que eu deveria conhecer, mas juro que não rola. Prefiro mil vezes ver o filme sem nenhum roteiro na cabeça, sem spoilers antecipados, e tirar minhas próprias conclusões.

Lembro de uma conversa com outro amigo, numa época em que a internet ainda não era esse oceano de vídeos infinitos e trailers que entregam tudo. Ele não entendia como eu conseguia assistir a um filme por dia — ele mesmo perdia horas zapeando a TV, como se a diversão fosse justamente essa troca constante. Eu, na minha teimosia, preferia sentar e me dedicar a algo que valesse a pena, de verdade, sem precisar estar preparado para tudo que ia acontecer.

Então, voltando ao ponto: brinquei com meu amigo dizendo que ele nem precisava assistir “A Substância” porque já sabia tudo — e, infelizmente, é isso que virou o normal hoje. Já viu o trailer que conta o filme todo, já leu as teorias e as resenhas antes mesmo da estreia, já comentou nas redes sociais. O que sobra da experiência original? Pouco, senão nada. Afinal, para que se deixar surpreender, se dá pra engolir tudo mastigadinho antes mesmo de apertar o play?


                    


             

                   

 


terça-feira, 15 de julho de 2025

R.E.M. — Canções Que Já Chegaram Sabendo Quem Eu Era

 Algumas bandas exigem tempo. Outras, não. Algumas se infiltram lentamente na nossa história, amadurecem conosco, só revelam sua beleza com o passar dos anos — como aconteceu comigo com o Wilco e o The National. Mas o R.E.M. não. O R.E.M. me encontrou pronto. Ou talvez tenha me moldado sem que eu percebesse.

Eu tinha 15 para 16 anos quando Out of Time explodiu. Era um fenômeno. No interior onde morava, poucas bandas alternativas chegavam com essa força — e até então, eu sequer tinha ouvido falar neles. Talvez os nomes de discos anteriores, como Document ou Green, estivessem perdidos em alguma coluna cultural ou matéria da Bizz, mas para quem vivia distante dos grandes centros, o impacto era sempre tardio.

Foi com Losing My Religion e Shiny Happy People que o R.E.M. apareceu ao grande publico. Não lembro qual veio primeiro, mas o fato é que um amigo se empolgou com aquelas músicas, e eu fui junto. Mas ao contrário de tantas outras bandas que seguimos por convivência, com o R.E.M. houve um tipo de identificação imediata. Comprei o disco. Gravei um especial da TV Manchete, apresentado por um crítico musical que falava com entusiasmo, passando clipes intercalados com entrevistas e pequenas análises. Ali tive meu primeiro contato com a trajetória da banda — e com um tipo de rock que não fazia questão de gritar para ser ouvido.

Naquele momento, a cena roqueira ainda era dominante. Guns N' Roses era quase religião nos bailes do Clube Umuarama, e Use Your Illusion estava em nove de cada dez mochilas adolescentes. Mas mesmo naquele ambiente, o R.E.M. dividia comigo uma atenção silenciosa e exclusiva. Era como se aquelas músicas sussurradas em inglês, cheias de metáforas e arranjos pouco óbvios, estivessem dizendo algo só pra mim.

Quando Automatic for the People foi lançado, em 1992, lembro de ter comprado o disco numa das duas lojas que havia na minha cidade. Era uma tarde qualquer de aula, e passei o dia com o LP debaixo do braço, esperando o momento de chegar em casa. Nessa epocamorava na zona rural e, ao final do dia, peguei a perua escolar. Em casa, coloquei o disco pra tocar. Era outro clima. Lento. Introspectivo. Denso. Tão diferente da energia solar de Out of Time. Dormi ouvindo. Acordei com o barulho da agulha batendo no fim do Lado A.

Era um tempo em que o dinheiro era curto. Cada disco comprado precisava valer. E esse valeu. Mesmo com o marasmo inicial, ouvi até decorar. E mesmo quando não entendia exatamente o que Stipe dizia, sentia que falava de algo importante. Pouco depois, em Bauru descobri o sebo Porão Discos, onde encontrei GreenDocument, a coletânea de lados B Dead Letter Office, e o Best of R.E.M. — tudo em LP. Em 1994, Monster chegou com guitarras distorcidas e uma postura quase grunge, refletindo o espírito de um tempo que ainda estava tentando se recompor da morte de Kurt Cobain.

Nesse meio tempo, comprei o CD de Out of Time mesmo sem ter um aparelho. O CD começava a se popularizar uns anos depois, em 1994, e as lojas ainda estavam se adaptando. Em Bauru, no começo do Plano Real, quando o dólar estava tipo 1 por 1 encontrei um pequeno box importado com quatro singles da era Out of Time, chamado The Automatic Box, com lados B, faixas instrumentais e covers — um verdadeiro tesouro para quem colecionava com paixão e paciência, muito antes do streaming e das edições especiais em vinil colorido.

Em 1996, New Adventures in Hi-Fi não chegou às lojas da minha cidade. Acho que nem saiu no Brasil de imediato. Lembro de ver uma propaganda da loja London Calling na revista Bizz. Liguei, fiz um depósito bancário (coisa que hoje parece arqueologia), e alguns dias depois o CD importado chegou. Foi ali que ouvi pela primeira vez o nome de Patti Smith — que cantava com Stipe em “E-Bow the Letter”. Algum tempo depois, acabei comprando um disco errado de uma cantora country quase homônima. O tipo de erro que só quem viveu essa era pré-Google entenderia.

Up, lançado em 1998, não me encantou logo de cara. Ficou encostado. Mas anos depois, vi um programa na TV por assinatura chamado Storytellers, onde a banda apresentava versões acústicas de músicas desse álbum, intercaladas com histórias e comentários. Foi ali que o disco se redimiu. O tempo muda a forma como ouvimos. 

Lembro de uma entrevista antiga do Stipe em que ele dizia: “Não gosto de fazer canções de amor. Tudo fica florido e besta quando você está apaixonado”. E mesmo assim ele fez At My Most Beautiful, uma das maiores canções de amor que já ouvi — direta, melancólica, absolutamente precisa.

No fim dos anos 1990, The Great Beyond foi lançada com a trilha do filme Man on the Moon, e mais uma vez o R.E.M. parecia estar sincronizado com minha vida. 

Em 2001, fui ao Rock in Rio para ver a banda ao vivo. Dormi na praia, perdi uma unha tentando me manter no gargarejo (espero que o dedo daquela moça tenha ficado gangrenado), e fui recompensado com um show inesquecível. Michael Stipe passou por entre os fãs, e tive o privilégio de tocar sua mão — um gesto simples, mas que sintetiza o tipo de ligação que se cria com quem, por tanto tempo, compôs a trilha sonora da sua existência. Ouvi, ali, duas músicas inéditas que seriam lançadas no álbum Reveal meses depois: “She Just Wants to Be” e “The Lifting”. E quando Imitation of Life foi lançada, entendi que o R.E.M. ainda tinha muito a dizer.

Vieram mais discos — o irregular Around the Sun, o vigoroso Accelerate, e enfim o derradeiro Collapse into Now. E então, no dia 21 de setembro de 2011, a banda anunciou o fim. Por coincidência — ou sinal — era o meu aniversário.

Não sei o que isso diz sobre mim. Mas naquele dia, senti que algo se fechava junto. Uma banda que acompanhou meus anos formativos, que me educou musical e emocionalmente, encerrava sua jornada. Sem drama, sem turnê de despedida, sem grandes espetáculos. Apenas o silêncio elegante de quem sabe a hora de parar.

O R.E.M. nunca precisou me convencer. Eles chegaram com as respostas para perguntas que eu ainda nem sabia formular. Algumas bandas a gente escolhe. Outras nos escolhem. O R.E.M. me escolheu cedo. E ficou.

Canções Que Esperam a Gente Ficar Pronto – Parte 2: The National

 Nem todo disco nos ganha na primeira escuta. Aliás, alguns parecem fazer questão de se esconder. São obras tímidas, que nos olham de longe, desconfiadas, esperando que a vida nos dê tempo e sensibilidade suficiente para compreendê-las. Foi assim comigo e o Boxer, do The National.

Comprei o CD na época de seu lançamento, lá em 2007, meio no embalo da recomendação de um primo de um amigo que vinha de São Paulo e falava com convicção de quem parecia saber das coisas. “Escuta isso, é diferente”, ele disse, com aquele entusiasmo que a gente respeita mesmo sem entender. Comprei. Ouvi. E... nada.

Achei o disco lento. As músicas pareciam todas iguais, a voz do vocalista — grave, arrastada — dava a sensação de que estava sempre cantando a mesma faixa. Ainda assim, dei algumas chances. Mas logo o Boxer foi parar na estante, entre outros CDs que pareciam prometer mais do que cumpriam. Lá ficou. Silencioso. Esquecido. Um livro ainda não lido.

Os anos passaram. A fama do The National cresceu. A crítica elogiava, as pessoas comentavam, capas de revistas internacionais os colocavam ao lado dos grandes da geração. Mas eu ainda torcia o nariz, como quem guarda uma leve mágoa de uma decepção antiga.

Até que um dia, já em tempos de vinil ressuscitado, me deparei com Boxer e High Violet em LP, numa promoção qualquer. Algo me fez colocá-los na sacola. Talvez não fosse mais ceticismo, apenas desconfiança branda. Eu sabia que não era uma banda que eu havia “detestado”, apenas uma que ainda não me tinha tocado. E eu já tinha aprendido que algumas coisas simplesmente chegam tarde.

Coloquei os discos pra tocar. O som era bonito, mas ainda não me arrebatava. As músicas continuavam parecidas, o vocal de Matt Berninger ainda parecia preso numa névoa emocional espessa. Mas havia algo ali. Uma promessa, talvez. Um aceno.

Foi aos poucos. Como um perfume que se instala devagar na roupa. Comecei a ver alguns clipes, pedaços de shows. A banda já não parecia mais fria — parecia contida. Era outra coisa. Era contenção, não distância. Era vulnerabilidade, não apatia. Aos poucos, as músicas deixaram de parecer cópias umas das outras e passaram a soar como variações de uma mesma dor, uma mesma saudade, uma mesma entrega.

No meio disso tudo assisti a um show do The National no Lollapalooza, em meio a uma tarde abafada e aquela típica pressa de festival. Mas festival, convenhamos, não é o melhor lugar para ver uma banda como eles. O som é disperso, às vezes até ruim, e a beleza das músicas — que pede silêncio, atenção, uma certa entrega — se perde um pouco entre filas, conversas paralelas e palcos simultâneos. Ainda assim, em certos momentos, mesmo com toda essa distração em volta, dava para sentir a força daquelas canções tentando nos alcançar.

Anos depois veio The Alcott, parceria com a Taylor Swift. Vi alguém no Instagram — desses perfis que a gente respeita — postar um story emocionado com a canção. Fui ouvir. E torci o nariz. Taylor Swift? Com o The National? Era quase como ver seu restaurante favorito servindo ketchup na entrada.

Mas já era tarde para resistências. A música me encontrou em um momento mais aberto, mais curioso, mais calejado também. E com o tempo, ela foi revelando o que tinha de delicado, de doloroso. Era linda, afinal. O preconceito era meu, como costuma ser.

Era época de pandemia, e a música certa num momento de isolamento tem um poder devastador. Comprei o LP First Two Pages of Frankenstein assim que saiu. E ali não tinha mais como negar: eu tinha me rendido.

O disco bateu. De verdade. Como quem chega atrasado mas vem com as palavras exatas. Aquelas letras miúdas que pareciam crônicas da minha própria confusão. A banda que antes me parecia morna agora soava íntima, sincera, transparente em sua melancolia.

The National, como o Wilco, foi uma banda que esperou eu ficar pronto. Que respeitou meu tempo, minha maturação, minhas camadas. São músicas que não gritam. Que não imploram atenção. São canções que simplesmente existem, como pessoas que não falam muito mas têm um mundo dentro.

E é curioso pensar em quantas coisas deixamos passar simplesmente porque ainda não estávamos prontos para elas. Quantos discos, livros, filmes — e até pessoas — que não nos tocam de imediato, mas que, quando voltam, parecem ter estado conosco o tempo todo.

A beleza, às vezes, é paciente. E espera a gente crescer.

O The National, assim como o Wilco, acabou se tornando uma das minhas grandes bandas favoritas de todos os tempos — ao lado de outras que amo com igual devoção, como Pink Floyd, R.E.M., David Bowie, The Cure e The Smiths.

No fim das contas, as bandas que amamos de verdade não são só trilhas sonoras. São moradas. A gente vive nelas. Acorda num disco do R.E.M., almoça com o Bowie ao fundo, atravessa uma tarde cinza como uma faixa do The Cure. Há noites em que dormimos embalados pela tristeza elegante dos Smiths e outras em que acordamos com guitarras do Wilco, pedindo silêncio e ruído ao mesmo tempo.

Cada uma dessas bandas chegou de um jeito diferente. Algumas foram paixão à primeira nota. Outras, como Wilco e The National, chegaram devagar, pela porta dos fundos, pedindo licença para entrar. E entraram. E ficaram. E com o tempo se tornaram tão fundamentais quanto aquelas que sempre estiveram ali.

Pink Floyd foi descoberta adolescente, quando tudo era um pouco maior do que precisava ser. The Cure apareceu como um antídoto para o que eu não sabia nomear. R.E.M. era um amigo invisível no rádio. Bowie sempre foi um universo à parte — desses que você entra e nunca mais sai inteiro. The Smiths, com suas dores milimetricamente articuladas, me ensinaram que a melancolia também pode dançar.

E então vieram Wilco e The National. Vieram tarde, mas não vieram menos. Vieram como vêm as coisas que realmente nos transformam: quando estamos prontos. E nos ensinaram outra lição — talvez a mais bonita de todas: que a música não tem prazo de validade, mas ponto de encontro. Às vezes, ela só está nos esperando no lugar certo da vida.

É por isso que, ao olhar para trás, não consigo listar essas bandas como quem preenche um top 5. Elas não são ranking. São raízes. São mapas de tudo o que senti e ainda vou sentir.

Novamente, A beleza, às vezes, é paciente. E espera a gente crescer.

O Disco Que Me Esperou


Na época do lançamento de Yankee Hotel Foxtrot, do Wilco, lembro de ter lido críticas calorosas — daquelas cheias de palavras difíceis e entusiasmo genuíno. Era começo dos anos 2000 e, sim, ainda existiam revistas. Jornais, colunas especializadas, críticos que escreviam com a segurança de quem tinha passado uma vida inteira ouvindo discos em vez de apenas reproduzir playlists. Mesmo quando erravam, erravam com convicção e repertório. E isso fazia diferença.

Eu não conhecia a banda. O nome soava estranho, meio modesto: Wilco. Mas as críticas não. Elas beiravam a euforia, apontando o disco como uma reinvenção do rock, uma obra-prima à frente do seu tempo.  

Na minha cidade havia uma boa loja de CDs mas como é uma cidade pequena raramente chegava o que não era mainstream ou ao menos Rock antigo. Mas sempre ia pra Bauru, cidade ao lado, que tinha varias lojas. Uma em especial no piso superior do Bauru Shopping, eu frequentava com a devoção de quem ia à igreja. Eu ia com o dinheiro contado e passava horas escolhendo qual disco levar. Era um ritual de paciência e fé. Cada álbum comprado era uma aposta feita com o coração.

Mas o Yankee Hotel Foxtrot eu vi pela primeira vez exposto em outra loja, no piso inferior do mesmo shopping. Capa minimalista, meio sombria, meio misteriosa. Li a contracapa, observei as faixas, mas... deixei passar. Havia sempre algo que me parecia mais urgente, mais familiar. Wilco ficou na prateleira.

Naquele tempo, já existia Napster, Emule, essas formas meio tortas e demoradas de acessar música. Mas baixar um disco não era simples. Então, se você não comprava o CD, era bem possível que nunca o ouvisse. O tempo passou, a loja fechou, e o disco virou uma daquelas pequenas frustrações que a gente arquiva sem perceber.

Alguns anos depois, com as lojas online ganhando corpo e os preços ficando menos assustadores, finalmente consegui o disco. E fui ouvir — ansioso, curioso, cheio de expectativa acumulada. Mas… nada aconteceu. A voz de Jeff Tweedy me pareceu fina demais, o clima do álbum parecia distante, quase frio. Não achei ruim, mas também não me tocou. O CD foi pra estante, esquecido.

Enquanto isso, a banda seguia. A Ghost Is Born foi lançado, depois o ao vivo Kicking Television. Vieram também Sky Blue Sky e Wilco (The Album), aquele com o camelo na capa. Mas as revistas de música já rareavam. A Rolling Stone resistia, a Billboard era rasa. O nome Wilco ia crescendo, mas a banda continuava passando ao lado da minha vida.

Até que um dia — e não sei dizer exatamente quando — tive acesso a outro disco deles, talvez Being There, talvez Summerteeth. E algo começou a se conectar. A música falava outra língua, que eu agora entendia. Os sons, antes indecifráveis, começaram a soar como paisagem familiar.

Voltei ao Yankee Hotel Foxtrot. Sem grandes expectativas, ja que ja tinha ouvido varias vazes, mas quase por curiosidade. E foi ali que aconteceu.

De repente, o disco me atravessou. Como se estivesse me esperando todos aqueles anos. Aquilo que antes parecia estranho agora soava íntimo. Aquilo que soava distante agora me acolhia. As canções falavam comigo de um lugar que só o tempo pode abrir.

Desde então, a cada novo lançamento — The Whole LoveStar WarsSchmilco (com aquela capa insana do Joan Cornellà) — fui acompanhando como quem reencontra um velho amigo. Desses que você conhece há pouco tempo, mas tem a sensação de sempre ter estado por perto.

Não gosto muito de falar em “banda favorita”. Tenho muitas, e gosto de deixar o coração mudar de ideia. Mas o Wilco certamente ocupa um lugar privilegiado. Não só pela música, mas pelo jeito como entrou na minha vida: devagar, depois, no tempo certo.

Algumas bandas — como alguns livros, filmes e até pessoas — só a maturidade nos permite enxergar. São como cartas que só fazem sentido anos depois de escritas. Ou como discos que, de tanto esperarem, acabam encontrando a gente quando estamos prontos para ouvi-los de verdade.

X - O medo da velhice e o susto da nudez

                     

Vamos ser sinceros? Envelhecer é uma merda.

Não me venha com acusações de etarismo — essa palavra de efeito que agora brota em todo debate como planta daninha em calçada velha. Não sou contra os velhos. Sou contra o tempo. Ele é que não perdoa ninguém. E é justamente por isso que eu gosto tanto de X, o filme de Ti West. Um dos melhores terrores dos últimos tempos. Não só por ser um slasher raiz, bem dirigido e deliciosamente sujo, mas por uma cena em especial — aquela que fez muita gente torcer o nariz nas redes sociais.

Sim, a cena da velha nua entrando na cama. Aquela que fez parte do público gritar "etarismo!" com a mesma intensidade com que gritam em sustos falsos de filme genérico da Netflix.

Mas, veja bem, essa cena não tem nada de etarismo. Pelo contrário: ela expõe o etarismo de quem assiste. É provocadora, sim. É desconfortável, claro. E é pra ser mesmo. Porque o que o filme joga na nossa cara não é a nudez em si, mas o nosso incômodo com ela. Quando é uma jovem saindo do lago, todos acham "arte erótica". Quando é uma senhora enrugada buscando algum afeto ou desejo, vira "nojento" ou "gratuito".

Ora, gratuito por quê? Porque nos tira do conforto? Porque nos obriga a lembrar que vamos todos acabar como ela? Porque o corpo velho não cabe no imaginário sexual higienizado do cinema? Essa cena é uma rasteira no moralismo disfarçado de bom gosto. E o mais interessante: ela não é feita pra chocar gratuitamente, mas pra confrontar. E é isso que um bom filme de terror deveria fazer — não apenas nos assustar com monstros, mas com a própria condição humana.

Em tempos em que tudo parece moldado para agradar, onde até o horror precisa vir com glossário e manual de etiqueta, Xacerta ao ser incômodo de propósito. Ele não pede desculpas por existir. Ele não suaviza sua proposta para caber no feed. Ele quer provocar. E consegue.

A nudez da personagem idosa em X não é um susto fácil — é um espelho. Um espelho daqueles que ninguém quer olhar, porque mostra o que vem depois da juventude, depois da beleza, depois do desejo. E isso, para muita gente, é mais assustador do que qualquer vilão mascarado.

Aliás, que ótimo que o filme faz isso. Chega de filmes que parecem ter medo de incomodar. Chega de personagens velhos que só existem para dar conselhos sábios ou morrer na primeira cena. Que venham mais velhas nuas em camas alheias, mais rugas em 4K, mais roteiros que encostem a plateia na parede e perguntem: “o que exatamente te incomoda aqui?”

Porque o terror de verdade não está só no sangue. Está no que evitamos olhar — e X obriga a olhar de frente.





O novo sempre vem... mas vem como?

                            "Mas é você que ama o passado e não vê que o novo sempre vem."

Essa frase, que escutei pela primeira vez sem muito entusiasmo, hoje parece me seguir pela casa como uma música de elevador. Cada vez mais, ela faz sentido. Já tentei usar em conversas com amigos, como um argumento definitivo — ou ao menos para parecer profundo. Mas o que recebo de volta são rajadas de comentários sobre a música atual, a decadência do cinema, o fim da criatividade e outras desgraças culturais. E, convenhamos, quando o argumento é o "gosto popular", fica realmente difícil defender qualquer tese sem parecer maluco ou esnobe.

Mas aqui o texto é meu. E, por sorte, ele não precisa de consenso. Se houver comentários, posso ignorá-los com a elegância de quem fecha um livro no meio da página e diz: “já entendi”.

É verdade, a indústria cultural anda meio perdida. Custos nas alturas, bilheterias incertas, e a criatividade anda sobrevivendo à base de refilmagens, continuações e pacotes prontos de nostalgia. É o velho com roupa nova, fingindo que é inédito. O que me deixa mais deprimido, no entanto, não é isso. É ver o que empolga as pessoas, o que se torna referência de “qualidade”, o que move corações em emojis apaixonados nas redes sociais. Dá vontade de sentar na sarjeta e chorar em plano-sequência.

Veja bem, não estou me excluindo. Eu também consumi muita coisa duvidosa na vida. E a infância tem esse talento estranho de transformar o ruim em sagrado. Goonies, por exemplo. Um filme que, tecnicamente, é uma bagunça, mas que me arranca um sorriso sempre que ouço aquela trilha. Ou Caça-Fantasmas, que hoje seria esculhambado por qualquer crítico de Twitter, mas que pra mim continua sendo quase um documento afetivo. “Ah, mas esses são clássicos!”, dirão os indignados. Tudo bem. Só não me peçam para chamar isso de De Volta Para o Futuro, que é de fato uma obra-prima, uma exceção que confirma a regra: o passado também sabia o que fazia — às vezes.

Lembro que Harry Potter já não conversava comigo nem na época do auge. Já era coisa “de jovem”, mesmo eu ainda sendo tecnicamente jovem. E é nesse ponto que você percebe que a bifurcação chegou: ou você evolui, ou vira seu pai.

Eu li muito gibi. Muito mesmo. Marvel, DC, tudo. Sonhava com heróis no cinema, mesmo sabendo que, naquela época, isso quase sempre resultava em catástrofes visuais com figurinos de lycra e atores constrangidos. A esperança começou a se realizar com os primeiros X-MenHomem-Aranha, aqueles do começo do milênio. Vibrei, claro. Mas, aos poucos, fui perdendo o interesse. Os filmes começaram a parecer versões diluídas de algo que já tinha vivido com mais intensidade nas páginas amareladas. Hoje prefiro reler os gibis antigos, e felizmente o mercado entendeu que tiozões nostálgicos com cartão de crédito são um bom público-alvo.

Mas tem gente que insiste. Que não quer crescer — no melhor (e pior) sentido possível. E vão empolgados ver o novo Vingadores, quando ele surgir das cinzas do último. Nem preciso ser vidente para prever a decepção. Mas sei que alguns vão sair animados do cinema, porque a animação é muitas vezes apenas a ausência da tragédia total. Se o filme não for um desastre, já está ótimo. O problema é que a expectativa é tão inflada que a realidade, por mais barulhenta, nunca dá conta do trailer.

Usei Vingadores aqui, mas poderia ser qualquer outro. Qualquer filme feito com algoritmo, vendido como evento e esquecido até a próxima sequência. O novo sempre vem. A pergunta é: com o que ele vem?

E a resposta, cada vez mais, parece ser: com menos do que a gente esperava.

                    

                         

O dia em que o cinema me beijou (e outras sessões da memória)


Eu não me lembro exatamente da primeira vez que fui ao Cine Bauru 1 ou  2. Talvez porque, na época, minha atenção estivesse mais voltada à pipoca do que ao projetor. Ou porque minha memória, como certos filmes da Sessão da Tarde, insiste em cortar para os comerciais nos momentos importantes. 

Mas uma cena resiste bravamente ao esquecimento: Os Garotos Perdidos, lá por 1987 ou 88. Eu fui sozinho com minha prima. Sozinho com uma prima não é exatamente sozinho, nem exatamente acompanhado — é uma espécie de zona cinzenta da adolescência (sinto que roubei isso de alguém. Verissimo ?). Eu devia ter uns 12 ou 13 anos, idade em que a gente acha que sabe tudo sobre vampiros e nada sobre a vida. O cinema parecia gigante, sombrio, mágico. Lembro de não entender metade do enredo e ainda assim sair com a sensação de ter vivido algo épico. A pipoca tinha gosto de coragem.


Na década de 90, minha cidade já estava sem cinema. Foi um trauma cultural que só não me destruiu completamente porque inventaram o ônibus dos estudantes. Toda quarta-feira — dia de meia-entrada, também conhecida como a salvação do proletariado cinéfilo — eu embarcava rumo a Bauru. O ônibus parava no Liceu Noroeste, a duas quadras do paraíso.

A caminhada até os cinemas era rápida, mas eu fazia questão de dramatizar, como se estivesse cruzando o deserto do Saara em busca da última sessão de um filme do Kubrick. Que, aliás, assisti ali mesmo: 2001 – Uma Odisseia no Espaço, durante um festival. Já tinha visto o filme umas três vezes na TV, sempre com um primo me explicando que "na verdade, esse monolito aí representa outra coisa". Mas ali, na tela grande, tudo mudou. Era como ver Deus jogando xadrez com a humanidade em câmera lenta. Saí da sessão com vontade de ser astrônomo, ou pelo menos comprar um telescópio. Não fiz nenhum dos dois mas hoje tenho um APP no smartphone.

Foi também nesse cinema, em algum ponto nebuloso dos anos 90, que dei meu primeiro beijo. O filme eu não lembro — juro que não é desculpa — mas lembro da cadeira desconfortável, da mão suando, do medo de errar a pontaria e acertar o nariz dela. Foi um beijo curto, quase experimental. Mas, para quem amava cinema, ser beijado dentro de um era como entrar oficialmente para a academia do Oscar.

Tive dois conhecidos que moravam num prédio ao lado dos cinemas. Certa vez, por algum motivo que a memória prefere não detalhar (provavelmente perdi a sessão discutindo com a bilheteira se era meia-entrada de verdade ou não), fui até o apartamento deles. E lá, entre refrigerantes mornos e VHSs espalhados, conheci Kurosawa. Vimos Sonhos. Ou melhor, vi um ou dois dos episódios — até hoje não sei se era um filme ou vários, ou se Kurosawa era um filósofo japonês disfarçado de diretor. Mas fiquei impressionado com a ideia de que podia haver poesia mesmo sem explosões.

Claro que os cinemas foram demolidos — afinal, nenhuma cidade moderna resiste à tentação de transformar memória em estacionamento. O Bauru 1 e o Bauru 2 caíram em meados dos anos 2000. Foi como ver o fim de um épico em que o mocinho perde. Ainda passo por ali às vezes. Tem uma farmácia no lugar, ou um banco, ou algo igualmente deprimente, sei lá. Na verdade nunca mais passei, evito aquela rua. Ou melhor, não evito mas ela não me leva a mais nada. Mas sozinho em casa se eu me concentrar, consigo ouvir os ecos das sessões, o chiado da fita, a tosse de alguém que veio só pra dormir.

Alguns lugares não morrem — apenas mudam de forma. Os cinemas de rua de Bauru continuam em mim, como trilha sonora que não sai da cabeça. Porque, no fundo, não era só o filme que a gente via. Era a vida que passava pela tela.

E, às vezes, nos beijava de volta.


Em tempos: O filme do Beijo, foi "Uma Escola Atrapalhada", mas juro que queria esquecer


quarta-feira, 9 de julho de 2025

Sexta-Feira 13 - Jason Vive - Guia de Mortes e Nudez (?)

Poucas coisas são tão literais quanto Jason Vive, sexto capítulo da franquia Sexta-Feira 13. O título já entrega o plot inteiro, e sem firulas: Jason morreu, mas — surpresa! — ele vive. E não vive pouco. Vive pra caramba.

Depois do fracasso (anunciado) de tentar seguir a franquia sem seu mascote assassino, os produtores fizeram o que Hollywood sempre faz quando não sabe o que fazer: desenterraram o morto. Literalmente. Um raio acidental, um cemitério convenientemente molhado, um timing perfeito e voilà! — Jason está de volta com poderes que fariam inveja ao Frankenstein e ao zumbi mais bombado de The Walking Dead.

Mas a surpresa maior talvez seja outra: Jason Vive é bom. Bom mesmo. Para muitos, o melhor da série. Quem diria que o ponto alto de uma saga que começou como cópia de Halloween surgiria justo quando ela para de fingir ser séria e abraça o absurdo de vez? Aqui, Jason deixa de ser aquele matador meio esquisito e vira um tanque de guerra sobrenatural, indestrutível e sem qualquer traço de humanidade. Finalmente, a máscara agora esconde o completo vácuo emocional. É uma evolução, se pensarmos bem.

O roteiro? Bem escrito. Sim, você leu certo. Dentro da régua (baixa) da franquia, claro. Os diálogos são mais afiados, as referências ao terror clássico pululam (como a oficina Boris Karloff, que não conserta monstros, mas poderia), e até piadas funcionam — sem causar vergonha alheia. Isso tudo somado a um ritmo certeiro que não perde tempo com profundidade psicológica. Afinal, ninguém está aqui esperando o Cidadão Kane das machetes.

Há também a introdução de crianças reais no acampamento. Sim, depois de cinco filmes ambientados em um local supostamente infantil, finalmente temos... crianças. E elas não só existem como funcionam dramaticamente, gerando tensão real — ou pelo menos aquela preocupação leve de que o roteirista possa ousar mais do que devia. (Spoiler: ele não ousa tanto assim.)

E, convenhamos, o elenco é quase funcional. Menos canastrão que o de costume, com personagens que até têm nomes e falas com mais de uma linha. 

Claro, nem tudo é glória no acampamento. A fotografia ainda tem aquela vibe "acendemos a lanterna no mato e esperamos o melhor". Algumas mortes são censuradas, outras são tão exageradas que parece que Jason está em treinamento para o WWE. E, como sempre, temos os adolescentes genéricos tomando decisões tão idiotas que é difícil não torcer pelo vilão.

Mas, no fim das contas, é isso que torna Jason Vive especial. Ele aceita que está num filme B e resolve ser o melhor filme B possível. Não quer ensinar nada, não quer emocionar, não quer discutir moralidade. Quer apenas nos dar o prazer sádico e divertido de ver Jason metendo uma estaca de cerca em alguém, enquanto a trilha sonora faz sua parte.

E faz bem.

Se a série fosse um acampamento, Jason Lives seria aquele monitor que finalmente aparece sóbrio e com um plano — ainda que o plano envolva ressuscitar um psicopata com um raio.

Vamos ao que realmente importa: Jason Lives entrega mortes criativas e bem dosadas. Temos decapitações duplas, empalamentos, cabeças esmagadas e corpos partidos ao meio com a eficiência de um trator agrícola. Tudo com a inventividade que a série devia há tempos.

E sim, temos nudez — porque é Sexta-Feira 13, não um documentário da BBC. A tradicional cena do casal transando no meio do nada está presente, com direito a trilha sonora sensual e punição sangrenta logo em seguida. O velho mantra continua: fez sexo, morreu. E quem assiste já espera por isso com um sorrisinho cúmplice no canto da boca.

Esqueça qualquer moralismo. Aqui, a regra é clara: o que sustenta essa franquia desde os anos 80 são facadas, mamilos e adolescentes fazendo escolhas questionáveis no escuro. E nisso, Jason Lives acerta o alvo melhor do que qualquer um



 JASON VIVE
 E A SÉRIE AINDA SOBREVIVE








O Filme começa com Tommy (agora interpretado por Thom Matthews, de A Volta dos Mortos Vivos 1 e 2) com seu amigo de Instituto Allen Hawes (Ron Palilo, de A Febre dos Patins), indo até o Cemitério onde Jason está enterrado (O Xerife do filme anterior tinha razão, ele não foi cremado)
















Chegando lá , Hawes , que pode ser louco mas ao menos sensato, adverte Tommy de que podem ter seus privilégios no Instituto negados se eles ficarem sabendo, mas Tommy está possesso, ele leva a mascara de Jason para jogar dentro do túmulo e tem a intenção de cremar o corpo ele mesmo.

Mas ele tem um ataque quando vê o corpo, que mesmo depois de mais de 5 anos (se o filme se passa logo após ele se recuperar do final da parte V tem pelo menos 5 anos da morte de Jason, mas pode se passar alguns anos depois), então pega a grade que cerca o cemitério e começa a bater no peito de Jason, como se estivesse no final do Capitulo 4













Porem, no exato momento em que Tommy iria botar fogo no que resta de Jason, eis que um raio atinge a lança de aço cravada no coração do Maníaco e como um Frankenstein, o Ressuscita 
Tommy não percebendo que Jason está Vivo, arranca a lança de seu peito e quando se preparava para jogar gasolina, Jason levanta e o joga longe.










0:08:10 MORTE
Allen Hawes acerta Jason com uma pá e isso nem faz cócegas nele, que se vira e fura o peito de Hawes com a mão, arrancando-lhe o Coração

Tommy por sua vez pica a mula




















Após os créditos, James Bon... quer dizer, Tommy vai pedir ajuda na delegacia mas o Xerife Mike Garris (David Kagen),  além de não acreditar, ainda prende Tommy para envia-lo de volta ao Instituto















Ficamos sabendo que Crystal Lake mudou de nome para Forest Green para que ninguém os associe ao Jason. Mas não se preocupem com isso que no proximo capitulo volta a ser Crystal Lake.





Enquanto isso Lizbet (Nancy McLoughlin de Ás vezes eles voltam) e Dareen (Tony Goldwin de Ghost estreando no Cinema) estão chegando em Crys... Forest Green quando dão de cara com Jason







Jason muito que maldosamente, fura o pneu do Fusca, irritando Darren e deixando Lizbeth preocupada com a arma que Darren tem no porta luvas





Jason acaba quebrando mais um pouco o Fusca (Será que ele viu Alí fazendo o mesmo no filme 3 ?). Ainda bem que as peças não são das mais caras e parece que o casal teria condições de bancar o conserto. Se bem que à época devia ter seguro para Fusca. E se bem que eles não iriam ter que se preocupar com isso.


























1:14:23 MORTE

Darren tenta dar um tiro mas Jason nem sente cócegas, empalando-o e o arremessando longe














































1:15:15 MORTE

Lizbeth tenta comprar Jason mas ele é incorruptível e realmente não pratica a velha politica, segurando a cabeça da moça numa poça d’água até que ela se afogue (!)










Megan Garris (Jennifer Cooke de V a Batalha Final) a filha do xerife Mike Garris chega a delegacia com os amigos Cort Andrews (o único homem,Tom Fridley de Karatê Kid), Sissy Bake (a negra Renée Jones da abertura de Disneylandia),Paula Mott (a de lacinho no cabelo, Kerry Noonan de Taxi, aquele do Andy Kaufman) que é irmã da Lizbeth Morr, que acabou de ser afogada mas ninguém sabe.

Eles estão preocupados pois eles são os responsáveis pelo novo acampamento e não chegaram ainda.

Tommy alerta-os sobre Jason mas o xerife não é o do filme anterior e não acredita em fantasias

Já os jovens não são os mesmos da parte 3 e ao menos ouviram falar de Jason




Enquanto isso, nas proximidades do Acampamento,  Jason observa um grupo de jogadores de Paintball formado por Roy (Whitney Rydbeck, também da abertura de Disneylandia e Rocky II) , Burt (Wallace Merk de Tomates Verdes Fritos), Stan (Matthew Faison de Pesadelo 6 e outro da série Taxi do Andy Kaufman), Larry (Alan Brumenfeld de Jogos de Guerra) e Katie (Ann Ryerson de Minority Report), porque todo filme que se preze na época tem que ter um grupo de yuppies




































0:22:20 MORTE

Burt esta sozinho, zangado por ter sido morto justamente por Katie no jogo quando Jason que avante ao seu tempo já odiava machismo, pega o canalha e o arremessa numa arvore.

No fim Jason percebe ter ficado com um souvenir sem querer





































0:14:15 MORTE TRIPLA

Pela primeira vez Jason faz com 3 ao mesmo tempo, degolando katie, Stan e Larry com um facão, enquando Roy ao fundo, pronto para “matar” Katie e vencer o jogo vê tudo . Logo se vê que ele ficou mudado após a morte





















Numa sequência emocionante Roy dá um tiro de paintball no peito do Jason mas isso só faz com que ele fique mais irritado e começa o perseguir pela floresta

O Orçamento do filme nessa altura devia estar bem comprometido já que sua morte não é mostrada. Posteriormente (0:45:50) o policial Rick mostra ao xerife Mike o corpo de Roy, facilmente reconhecido pelos óculos, todo desmembrado






















0:31:13 MORTE
Martin (Bob Larkin, outro da série Taxi de Andy Kaufman), o coveiro, depois de um longo dia de labuta onde teve que cobrir novamente o túmulo de terra de Jason caminha tranquilamente pela floresta bebendo

Mas faz algo impensado e joga a garrafa vazia na mata , provocando a ira de Jason, protetor da floresta, seu lar

Jason, ativista ecológico antes disso virar moda então mata Martin com a própria garrafa e depois dando o toque final com o facão. Existe uma interessante leitura onde o Jason é a versão americana do mito do curupira

Steven Halavex (Roger Rose de Seinfeld) que estava na mata com sua namorada Annette Edwards  (Cynthia Kania de A Última Festa de Solteiro) ouve os gritos de Martin e corre ver, chamando a atenção do nosso querido herói











0:31:58 MORTE DUPLA
Jason que não gosta de testemunhas caminha tranquilamente enquanto Steve corre com Annete até sua moto e mata os dois amantes com uma só facada. Depois dos 3 anteriores, ele volta a empalar a dois, sua morte favorita














Cort Andress está curtindo uma musica com sua peguete Nikki Parsley (Darcy DeMoss de Dublê de Corpo) quando Jason chega no trailer onde estavam e causa um curto circuito, fazendo com que a musica que estava no seu climax , parasse























0:39:43 MORTE
Cort e Nikki saem do Trailer e descobrem que o fio de força esta cortado. Eles partem mas Jason que está no banheiro puxa Nikki pra dentro, amassando a cara dela no espelho e na lataria do trailer.

Um detalhe que o espectador mais novo pode não notar é referente a força de Jason, uma vez que a lataria da época era muito melhor e não como a dos carros de hoje

Carl ouve o barulho mas nem imagina o que aconteceu



















0:40:50 MORTE
Jason não respeita as regras de segurança no transito, acha que tem liberdade para fazer o que quer de sua vida e enfia o facão na cabeça de Court enquanto ele dirige o que faz com que o jovem se atrapalhe e perca o controle do Trailer











Mas são Cristovão intercedeu e graças ao bom Deus Jason saiu incólume desse terrivel acidente que Cort causou




Tommy marca encontro no Karloff’s General , uma oficina de beira de Estrada











A policia encontrou o fusca com o corpo de Darren e Lizbeth



Rick mostra ao xerife Mike o corpo de Roy, o ultimo dos jogadores de Paintball (0:45:46 ), cuja morte não foi mostrada, apenas o corpo agora








Enquanto isso no Crystal Lake  a pobre Nancy (Courtney Vickery de Zelly e Eu) tem um Pesadelo de um Homem maligno atacando-a. Possivelmente ela terá problemas futuros com isso quando estiver mais velha



























00:48:30 MORTE
Sissy ouve um barulho vindo de fora e crente ser o Cort que não chegou (e nem vai chegar diga-se de passagem) se aproxima da Janela, onde Jason a surpreende, puxando-a pra fora e arrancando sua cabeça. Paula ouve mas como só escuta alguns gemidos não percebe o que aconteceu de verdade.





 Logo depois ele é visto pela pequena Nancy (a da hora do pesadelo algumas cenas atrás) carregando o corpo de Sissy














Nancy vai contar para Paula que viu o Jason mas ela não acredita, mesmo com a menina trazendo um facão ensanguentado











































0:59:00 MORTE
Paula começa a ter a leve impressão de que a coisa é seria mas não dá tempo de nada. Jason entra no seu quarto e fecha a porta. Ouvimos vários gritos até que o sangue esguicha na janela antes de ser quebrado com o corpo de Paula.

E parece que Jason não está satisfeito porque puxa o corpo de volta para dentro. 








































Jason entra no quarto da criançada e é visto por Nancy, que assustada começa a rezar. Jason então ouve os carros da policia chegando e dá no pé pois sabe de seus problemas com a Justiça













 O Xerife Garis abre a porta do alojamento e embora o corpo não esteja lá, temos uma leve ideia do que aconteceu com a Paula (1:05:22). 

Jason antes de ressuscitar dificilmente deixava de limpar a sujeira que fazia. Pode ser que ainda não esteja totalmente recuperado, o que explicaria a preguiça dele nesse caso. Ou talvez a Morte o tenha mudado e ele passou a levar a Vida mais de boa, não se importando tanto com as aparências




















1:06:00 MORTE

O policial Thornton (Mike Nomad de A Noite das brincadeiras mortais) vai até o píer onde encontra Jason que lança um dardo na sua testa











































1:07:45 MORTE

Policial Pappas (Michael Swan de Piranhaconda) encontra a peraltinha Nancy (que não bastasse o Jason resolve dar sustos em todo mundo).

Mas o encontro é fulgaz. Logo ela sai correndo quando vê o Jason, deixando o pobre policial sozinho com o maníaco. Ele tenta alguns tiros que não fazem cocegas e então Jason o esmaga a cabeça








O Xerife Garris tropeça e encontra da pior maneira o policial Pappas (1:00:17).





De  quebra conhece o Jason
















































Garris até consegue derrubar Jason com a espingarda mas quando acaba as munições aprende a lição que o policial Pappas acabou de receber de que balas normais são inuteis


Então toma uma atitude sensata... sai correndo





















































1:14:00 MORTE

Já na Floresta, vendo que Jason não o está vendo e acabaria chegando até a sua filha Megan no acampamento, o Xerife Garris toma uma atitude agora nada sensata e pula sobre Jason


O nosso malvado favorito até brinca um pouco até dobrar o Xerife ao meio


Megan abre a porta da viatura e encontra a cabeça de Sissy (1:12:55). Sem saber que seu Pai também já foi encontrar o Criador, sai desesperada chamando por ele


















































Megan esta chegando num dos alojamentos quando Jason resolve quebrar mais uma janela e ataca-la, segurando sua cabeça.


Por sorte Tommy está vendo tudo do lago e desvia sua atenção fazendo com que ele a ignore














































Tommy consegue atrair Jason até o Lago e pelo seu plano ela da sinais de que não esteja totalmente curado. Se bem que, os mais atentos já tinham percebido no começo do filme, onde ele já dava sinais claros disso































Então Tommy tem uma ideia que, se parece não ser das melhores, não dá para negar que  dá ao filme uma bela fotografia


































E eis que Jason, matreiro como só ele, prova que consegue pular até na água, agarra Tommy até que ele consegue dar-lhe a correntinha de presente e Jason quebra o Barco






















Jason afunda com Tommy que consegue escapar mas boia inconsciente



















































Megan vai salvar Tommy mas Jason que não morre afogado nem quando era criança imagine agora que é imortal.


Ele agarra os pés da moça, que com muito custo consegue ligar o motor do barco e fazer com que Jason sinta cócegas e a largue

Alertamos aqui o leitor a nunca ligar o motor quando você estiver dentro d'água ao lado do mesmo #ficaadica












Megan consegue levar Tommy para a margem, onde o ressuscita com uma respiração boca a boca e todos vivem felizes para sempre


Pelo menos nunca mais ouvimos falar neles








Jason por sua vez está preso dentro do Lago. Talvez para sempre pois ninguém iria conseguir tirá-lo de lá, a não ser que tivesse algum tipo de poder especial






CONTAGEM FINAL
Nudez - 0 (e tem gente que ainda considera esse o melhor da série, vai vendo só)
Mortes - 18 (se você levar em conta a de Roy,  do paintball, que não mostra)

ORDEM DAS MORTES
 as de Jason na primeira contagem não levam em conta as 2 em sonho do começo do filme anterior 
  1. Allen Hawes: Coração arrancado (8 MIN) (35ª/37ª vítima de Jason e 68ª dos filmes)
  2. Darren Robinson: Lança no peito (14 MIN) (36ª/38ª vítima de Jason e 69ª dos filmes)
  3. Lizbeth Mott: afogada numa poça (15 MIN) (37ª/39ª vítima de Jason e 70ª dos filmes)
  4. Burt: rosto esmagado numa arvore (22 MIN) (38ª/40ª vítima de Jason e 71ª dos filmes)
  5. Stan: Decapitado (24 MIN) (39ª/41ª vítima de Jason e 72ª dos filmes)
  6. Katie: Decapitado (24 MIN) (40ª/42ª vítima de Jason e 73ª dos filmes)
  7. Larry: Decapitado (24 MIN) (41ª/43ª vítima de Jason e 74ª dos filmes)
  8. Martin: cortado com uma garrafa (31 MIN) (42ª/44ª vítima de Jason e 75ª dos filmes)
  9. Steven Halavex: Empalado (31 MIN) (43ª/45ª vítima de Jason e 76ª dos filmes)
  10. Annette Edwards: Empalado (31 MIN) (44ª/46ª vítima de Jason e 77ª dos filmes)
  11. Nikki Parsley: Rosto esmagado no trailer (40 MIN) (45ª/47ª vítima de Jason e 78ª dos filmes)
  12. Cort Andrews: Esfaqueado na cabeça(40 MIN) (46ª/48ª vítima de Jason e 79ª dos filmes)
  13. Roy: Desmembrado (entre os 14 e 45 MIN) (47ª/49ª vítima de Jason e 80ª dos filmes)
  14. Sissy Baker: Cabeça torcida (48 MIN) (48ª/50ª vítima de Jason e 81ª dos filmes)
  15. Paula Mott: Só sei que foi feio (59 MIN) (49ª/51ª vítima de Jason e 82ª dos filmes)
  16. Policial Thornton: Dardo na cabeça(1h 6 MIN) (50ª/52ª vítima de Jason e 83ª dos filmes)
  17. Policial Pappas: Cabeça esmagada (1h 7 MIN) (51ª/53ª vítima de Jason e 84ª dos filmes)
  18. Xerife Mike Garris: Dobrado ao meio (1h 13 MIN) (52ª/54ª vítima de Jason e 85ª dos filmes)
SALDO FINAL DOS 6 FILMES

9 cenas de Nudez (esse não agregou nada) e 85 Mortes (Jason ficou irritado por Roy ter matado 17 no filme anterior e matou 18 nesse)

52 mortes só do Jason (ou 54 se contar as 2 em sonho no começo do filme anterior)
9 da Pamela (no primeiro filme)
1 do Victor (nesse filme)
17 do Roy 
1 a própria Pamela , 1 o próprio Jason e 1 o próprio Roy. 

Temos ainda 3 em sonhos (2 no começo da parte V pelo Jason e 1 pelo Tommy na cena final do V , outro sonho)