Notas Cinéfilas são como o nome diz, Notas. São pequenos pensamentos que me passaram rapidamente e que pretendo depois reescrever de outra forma. Aqui abordar coisas no estilo "Tudo ao mesmo tempo agora", sem me preocupar em fugir do tema e passar para outro. Pequenos fragmentos de ideias que não pensei muito ao escrever e possivelmente vou achar bobagem quando reler mais para frente mas que podem servir como base para futuros textos
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É quase um bordão: "melhora na terceira temporada". Ou então: “depois do terceiro disco é que a banda se encontra”. Seja em séries, álbuns ou histórias em quadrinhos, essa ideia se repete como um mantra crítico, uma sabedoria popular entre os fãs que, muitas vezes, se transforma em verdade incontestável. E, de fato, há lógica nisso. O tempo de maturação artística é real. A narrativa se acomoda, os personagens ganham camadas, os músicos encontram a química, os roteiristas aprendem o que funciona. Mas o risco dessa lógica é outro: ao celebrar demais o "auge", esquecemos de onde tudo começou.
No caso das bandas, o roteiro é quase padrão. O primeiro disco, por mais cru que soe, geralmente nasce de um repertório lapidado ao longo dos anos. Músicas que sobreviveram a ensaios em garagens abafadas, shows em bares vazios, fitas demo descartadas e mudanças de formação. Quando finalmente entra em estúdio, o grupo escolhe o melhor que tem — e, com sorte, também o mais sincero. É ali que a faísca aparece, mesmo que o fogo ainda não seja pleno. O segundo álbum, por outro lado, costuma ser o verdadeiro teste. Agora com expectativa nas costas, o grupo precisa criar sob pressão e, muitas vezes, deixa de lado canções antigas em nome do “novo”. E é só depois disso, lá pelo terceiro trabalho, com os holofotes já menos hostis, que costuma vir o disco “maduro”, “conceitual”, “definitivo”.
Mas essa curva de crescimento também acontece fora do estúdio. Nos quadrinhos, por exemplo, é comum ouvir que só se deve levar a sério uma série a partir de certa edição. No caso de Ken Parker, clássico do faroeste italiano, costuma-se dizer que a genialidade só se revela lá pela edição 12. Pode até ser verdade em parte — ali a complexidade narrativa e a ousadia estética se tornam mais evidentes. Mas é um erro assumir que as edições anteriores não valem tanto. Como se a semente não tivesse, desde o início, o DNA da grande árvore.
A questão talvez seja de olhar. Muita gente não enxerga além da superfície e prefere rotular o começo como “supervalorizado” — palavra favorita dos impacientes. Não percebem que os primeiros capítulos, músicas ou episódios são os alicerces que sustentam o que vem depois. Que sem a crueza inicial, não haveria lapidação futura.
A cultura do “melhora depois” tem seu valor, mas precisa ser usada com cuidado. Porque ela pode ensinar a paciência, sim — mas também pode fomentar o desprezo por aquilo que não se apresenta imediatamente como grandioso. E muitas vezes é justamente nesse “nada demais” que mora o germe da genialidade.
A beleza das origens é que, mesmo imperfeitas, já trazem o futuro nas entrelinhas. Basta saber ouvir, ler, assistir — com atenção e curiosidade. Porque os grandes artistas não surgem do nada. Eles se anunciam. E quase sempre já estão lá, bem diante de nossos olhos, enquanto ainda aprendemos a enxergar.
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