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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Cinema Politico (Nada a ver com aquela bobagem de propaganda)

“Édipo não se cegou por culpa, mas por excesso de informação” (Foucault)



Em tempos de crise política é interessante notar como o cinema argentino consegue retratar as mazelas econômicas que assolam o páis de uma forma universal e criativa.


O primeiros desses filmes a fazer sucesso por aqui (e no resto do mundo) foi o divertido “9 rainhas”, que conta a história de dois trambiqueiros que se encontram por acaso e recebem por sorte do destino a chance de conseguirem uma “bolada”, vendendo uma série rara de selos (as 9 rainhas do título) para um colecionador em fuga do país (um deputado corrupto cheio da grana). Para o expectador mais atento está tudo aí: o modo de vida, os desejos e falta de ética de uma maioria da população, centrada nas duas figuras (não por acaso trambiqueiros simpáticos). De fundo , uma Argentina pré-crise. E é incrível constatar como a “européia” Argentina, aqui, se parece com o centro decadente de São Paulo.


Os americanos refilmaram “9 rainhas” , que por aqui teve o oportuno título de “171” . A história é a mesma, mas perdeu toda a inteligência e implicações políticas do original.


E enquanto os cineastas brasileiros ficam mendigando ajuda do governo a Argentina fez mais uma obra prima. Trata-se de “O Pântano” de Lucrécia Martel. Fez grande sucesso no circuito alternativo brasileiros e pode ser facilmente encontrado em DVD. É possivelmente o melhor título a pintar por aqui esse ano.

O “Pântano” é cinema político de primeira. Talvez não o típico filme político a que você esteja acostumando já que se trata de uma comédia. A primeira cena já diz ao que veio: Um grupo de pessoas . reunidas à beira de uma piscina imunda. Uma delas cai e se machuca enquanto ninguém faz nada para ajudar. As crianças (o futuro) parecem viver em um mundo à parte.


Em outra cena , estas mesmas crianças encontram uma vaca atolada no charco. A morte é iminente, não à nada a se fazer. Mais direto impossível. É uma síntese precisa de uma sociedade em crise e que guarda mais particularidades com a nossa do que aceitamos à acreditar.


Ambos os filmes são um ótimo retrato social e político, feito com inteligência e que está anos-luz á frente dos títulos alienantes que reinam nas prateleiras. Uma comédia caustica que se vista com um olho crítico e um mínimo de inteligência se transformará numa ótima lição sobre a natureza humana


A parte acima do texto foi escrita há um tempo em razão da crise na Argentina. Infelizmente se assemelha bem ao que o Brasil está passando. O clima de “eu já sabia” sobre os escândalos do Governo serve também para ilustrar o individualismo, a falta de ideologias e do posicionamento moral do povo brasileiro, melhor traduzido como o famoso “jeitinho brasileiro”.


Dois outros títulos interessantes, já não tão novos também mas igualmente imperdíveis são dois filmes alemães . O primeiro , “Adeus Lenin” conta a história de uma mulher, comunista ferrenha, que, momentos antes da derrubada do Muro de Berlin e da mudança de regime, entra em coma. Ao acordar o médico adverte ao filho que ela não pode ter grandes emoções devido ao seu estado. Assim, ele , como a ajuda de um amigo e do resto da família, escondem o fato dela e fazem de tudo para que ela pense viver no mesmo país de antes. O filme é gênial, irônico e crítico, sem ser chato e panfletário. O outro título é “Edukators” , sobre um grupo de jovens que entram em casas de ricaços enquanto estes viajam e “redecoram-a” a seu gosto.


Um que passou meio que desapercebido pelo grande publico é uma pequena pérola de Danny Boyle (Trainspotting, Extermínio, Quem quer ser um Milionário, Cova Rasa), “Caiu do céu” (Millions). O filme tem lá suas falhas mas é interessante acompanhar a história de dois garotos que perderam a mãe. O mais novo e suscetível deles interessa-se por Santos e vive isolado. Um dia , uma mala de dinheiro cai do céu. São pelo menos 300 mil libras e à poucos dias a moeda mudará para o Euro. O menino quer doar para os pobres, achando que é isso que Deus quer dele, mas seu irmão tem motivos bem menos nobres para o dinheiro. Enfim é o quadro social que o filme retrata o que mais interessa no momento. Não é o mais profundo dos filmes é interessante notar como os temas estão ligados;


Por fim, já que o assunto é política, com a recente morte de um dos maiores mitos jornalísticos dos últimos tempos, “garganta profunda” (que só nessa década foi revelada a verdadeira identidade), informante chave do caso Waltergate, o escândalo que causou a renúncia do Presidente Nixon, uma boa pedida é o filme “Todos os Homens do Presidente”, com Robert Redford e Dustin Hoffman. É antigo mas quem sabe com ele aprendamos alguma coisa sobre os homens do Presidente.

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