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domingo, 23 de maio de 2010

SEU CHICO (Virada Cultural - Araraquara)


A Banda Seu Chico era pra ser um projeto paralelo do pessoal da Banda Mula Manca & a Fabulosa Figura, porém o projeto tomou proporções maiores que o imaginado e a Mula Manca ficou em segundo plano, o que convenhamos é uma pena. Mas enquanto o Mula Manca permanece no Limbo de que um dia esperamos voltar.
Dito isso, vamos ao que interessa. A banda tem esse nome porque toca apenas musicas do Chico Buarque. Algo parecido com o projeto Del Rey, que revisa Roberto Carlos.

Chico Buarque sempre foi um compositor de mão cheia, otimo letrista, o melhor de seu trabalho é o da década de 60 e 70 onde ainda sob o manto da ditadura escrevia letras inteligentes diblando os censores, que a certo momento viam ataques ao governo até em letras que não tinham sentido politico. Chico porém , de voz limitada, nunca foi um grande vocalista, e hoje não possui mais uma grande presença de palco (ao contrário do belo show gravado junto com Caetano nos anos 70) , o que nos leva agora de volta ao Seu Chico.

A idéia por trás do Seu Chico é a de trazer o Chico Buarque para o ambiente jovem, para dançar. A Banda não é uma simples cover do trabalho do compositor, é antes que tudo uma banda autoral, dado os limites impostos. Formada por excelentes musicos, todos na faixa dos 20 a 30 anos, sendo o mais novo do grupo o jovem virtuose dos pianos, Vitor Araujo (que lançou o ótimo "Toc" que transita de Heitor Villa Lobos a Radiohead com uma desenvoltura surpreendente). Vale ressaltar que nesse caso, virtuoso não quer dizer chato e sem alma, como a palavra pode dar a entender.

Tive a chance de ver uma performance do Seu Chico em um pequeno evento realizando pelo governo na cidade de Jau, em um dia de frio atípico em Outubro, e que não contava com mais de 30 pessoas. A Banda estava mais introvertida, até por causa do vendo e do frio como o diminuto espaço do local, mas já demonstrava paixão no trabalho, com uma apresentação cheia de intervenções poéticas por parte do vocalista e várias explicações entre as musicas.

Porém foi na Virada Cultural realizada neste Domingo em Araraquara que pude ver a força da banda no palco. Tiberio Azul é um verdadeiro frontman. Sua performance é cheia de paixão e canta como se as musicas fosse escrita por ele proprio, demonstrando total conhecimento, subvertendo ordem de rimas e letras e hipnotizando o publico com seus gestuais, uma verdadeira transubstanciação das palavras de Chico. Pode parecer exagero, mas quem assitiu um show da Banda pode compreender o alcance dela.

Tiberio funciona ainda como uma espécie de maestro para a Banda, mas sempre passando a batuta e deixando seus companheiros livres no palco para improvisar e criar.

Quem já conhece Vitor Araujo já sabe da paixão que ele se entrega ao instrumento. Toca o piano ou teclado como se estivesse tocando uma bateria, transformando o som num turbilhão de emoções. No já citado show de Jau apresentou uma performance mais timida, ainda que de grande sensibilidade harmonica.

Infelizmente os shows da viradas são mais curtos que os normais e faltaram grandes canções como "João e Maria", "Hollywood" , "Não existe pecado...". E sem desmerecer as demias cançÕes vou citar aqui a derradeira, "Jorge Maravilha", gravada por Chico sobre a alcunha de Julinho da Adelaide, como forma de diblar a censura, e que aqui parece ter sido composta pela banda e talvez a razão de ser da mesma. Dificil explicar em palavras, mas foi o sentimento que me veio.

Voltando a comparação com o Chico, o que pode até desagradar os integrantes da banda, que negarão qualquer superioridade, agradeço a banda por apresentar arranjos e vocais tão apaixonados para a obra desse genial compositor, que mesmo se cercando de ótimos arranjadores, é somente na releitura dos garotos do Seu Chico que vi o grande alcance radiofônico e dançante das mesmas e não servindo como fundo musical de novelas de segunda categoria.

Não sei se Chico já viu algum show dos garotos, mas duvido que se tiver, não tenha se emocionado com a dimensão dada pelos novos arranjos. E quem sabe num futuro proximo não estejamos dançando ao som de Seu Chico numa Danceteria qualquer, ao invés de (nem prefiro citar).

João e Maria (introdução Amelie Poulan)

Logo disponibilizarei aqui alguns videos da apresentação em Araraquara.

Um comentário:

Azul disse...

Belas palavras. Delicadas, certeiras. Uma descrição autoral, um olhar apropriado. Agradeço tudo o que li aqui. Um grande abraço