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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Estamos Juntos


A distribuição do cinema nacional continua sendo um entrave real para quem vive fora dos grandes centros. Filmes como Estamos Juntos, do diretor Toni Venturi, acabam sendo descobertos com atraso por boa parte do público, salvo exceções que recebem o selo Globo Filmes ou que viralizam em torno de fenômenos como Tropa de Elite. Ainda assim, quando finalmente se tem acesso a produções como essa, é possível encontrar obras que, mesmo com seus tropeços, tentam retratar com autenticidade as camadas contraditórias da vida urbana brasileira.

Lançado em 2011, Estamos Juntos aposta em um drama social com tintas existenciais, centrado na trajetória de Carmem, jovem médica vivida por Leandra Leal. A escolha da atriz, conhecida por sua sensibilidade e presença marcante desde A Ostra e o Vento, é um dos maiores acertos do longa. Leandra entrega uma performance contida, que transmite a solidão de uma mulher aparentemente cercada de pessoas, mas internamente desconectada.

O roteiro, assinado por Hilton Lacerda (Febre do RatoBaixio das Bestas) em parceria com Venturi, acompanha Carmem em seu cotidiano como residente em um hospital público de São Paulo. A cidade, aliás, é um personagem à parte: imponente nas imagens aéreas iniciais, mas rapidamente revelando suas fissuras sociais à medida que a trama avança para uma periferia quase invisível ao olhar médio do paulistano. É nessa tensão entre centro e margem que o filme tenta se equilibrar — com sucesso parcial.

O elenco de apoio é competente, com destaque para Débora Duboc, como colega de trabalho e ponto de apoio emocional, e Cauã Reymond, em uma atuação discreta e funcional. Há também a figura do amigo gay, espécie de conselheiro moderno e sensível, um clichê que o filme quase ultrapassa, mas que ainda carece de complexidade dramática.

Estamos Juntos se propõe a ser um retrato das contradições da juventude urbana de classe média brasileira: solidão, relações líquidas, dilemas éticos e até flertes com engajamentos sociais mais profundos. O problema está na costura desses temas. O roteiro oscila entre o drama íntimo e o comentário social, e embora os dois funcionem em momentos isolados, nem sempre dialogam com naturalidade. O resultado é um filme sincero e bem-intencionado, mas que por vezes parece não saber ao certo qual discurso deseja priorizar.

Ainda assim, Toni Venturi, conhecido por títulos como Latitude Zero e Cabra Cega, mostra domínio da linguagem cinematográfica, especialmente nas escolhas de direção de arte e fotografia, que ajudam a construir uma São Paulo viva, crua e, paradoxalmente, bela em seu caos.

Estamos Juntos não é um filme revolucionário, mas tem seu valor. E apesar de não ser amplamente conhecido, é mais uma prova de que o cinema brasileiro, mesmo fora do radar comercial, ainda tem muito a dizer — e merece ser mais visto, discutido e distribuíd


Toni Venturi abre seu longa Estamos Juntos com um plano aéreo de São Paulo que beira o deslumbramento — a metrópole emerge grandiosa, vibrante. Mas a reverência não dura muito: logo a câmera desce, e o que se vê é a realidade crua das periferias. A imagem é potente e simbólica, antecipando o mergulho do filme nas contradições sociais e emocionais de seus personagens.

É nesse cenário que conhecemos Carmem (Leandra Leal), uma jovem médica residente em um hospital público. Ela divide o apartamento com um rapaz prestativo, conta com o apoio de uma colega de trabalho (vivida por Débora Duboc, sempre precisa) e tem a presença constante de um amigo gay. Ainda assim, Carmem é uma ilha: sua solidão transborda em pequenos gestos, silêncios e na rotina exaustiva que parece sugar qualquer possibilidade de pertencimento.

Leandra Leal segura o filme com a firmeza de quem sabe que está diante de um papel importante — e entrega uma atuação que mescla contenção e fragilidade com grande naturalidade. Carmem é dessas personagens que caminham com o peso do mundo nas costas, mesmo quando estão cercadas de gente. A atriz, que foge dos holofotes fáceis, reafirma aqui seu compromisso com um cinema mais autoral e de conteúdo.

O roteiro, que até então constrói bem esse retrato íntimo da solidão urbana, dá uma guinada ao introduzir o interesse amoroso da protagonista: um músico argentino. Infelizmente, a escolha do ator enfraquece a narrativa. Não se trata apenas de sua aparência física — o cinema está longe de exigir estereótipos de galãs para validar romances —, mas da falta de química e presença cênica. O personagem, que deveria ser catalisador de tensões e transformações, soa deslocado e inverossímil.

Sua presença é tão frágil que compromete inclusive o conflito com o amigo gay de Carmem, que, em teoria, deveria ser um dos pontos dramáticos do filme. A rivalidade amorosa entre os dois soa forçada, quase protocolar, como se estivesse ali apenas para preencher uma cartilha narrativa.

É nesse momento que Estamos Juntos tropeça: ao tentar explorar múltiplas camadas — drama existencial, crítica social, triângulo amoroso —, o filme perde parte da força e da sutileza com que começou. Ainda assim, a direção de Venturi mantém um olhar atento para os detalhes cotidianos, e a fotografia ajuda a reforçar a atmosfera melancólica e abafada de uma São Paulo que nunca dorme — mas tampouco acolhe.

Estamos Juntos não é um filme perfeito, mas é uma característica que admiro no Cinema, o prazer na imperfeição. Tem coração, tem ambição e, principalmente, tem Leandra Leal em um dos melhores momentos de sua carreira. Se tropeça em alguns personagens e em certas escolhas narrativas, compensa com sensibilidade e honestidade. E, num panorama ainda desigual do cinema nacional, isso já é mais do que muita coisa que se vê por aí.

Há filmes que possuem todos os elementos para emocionar — elenco competente, direção experiente, temas socialmente relevantes — mas que, por alguma razão, não conseguem estabelecer uma conexão verdadeira com o espectador. Estamos Juntos, de Toni Venturi, é um exemplo emblemático dessa equação frustrada.

Visualmente, o longa é um deleite. A fotografia, marcada por contrastes entre o concreto melancólico de São Paulo e a intimidade dos espaços fechados, compõe com excelência o retrato de uma cidade impessoal. Há cenas que parecem extraídas de um ensaio fotográfico urbano: são belas, densas, e sugerem muito. Mas o que falta é justamente o essencial — substância dramática que sustente essa estética.

Leandra Leal, uma atriz de talento reconhecido, assume aqui um papel ingrato: Carmem, uma jovem médica fria, distante, emocionalmente disfuncional. É uma personagem que exige empatia, mas não a oferece. Desde o início, há algo de hermético nela — e não no bom sentido. Sua solidão é construída não como uma dor a ser compartilhada, mas como uma indiferença quase arrogante. Mesmo em momentos de suposto altruísmo, como o trabalho comunitário em que se envolve, a personagem se mantém blindada. A causa parece mais ilustrativa do que genuína — como se Carmem estivesse lá para preencher um roteiro que exige, obrigatoriamente, uma preocupação social.

Essa artificialidade reverbera em todo o enredo. O argentino que surge como interesse amoroso não apenas é mal escalado como representa o ápice da desconexão narrativa. Frágil como pivô de conflito, pouco carismático, ele encabeça uma sequência de relações que simplesmente não convencem. A briga com o melhor amigo — clichê dramático esperado — soa desnecessária e pouco fundamentada. A personagem mente para todos, afasta quem tenta se aproximar, rejeita o afeto, e ainda assim, o filme pede que torçamos por ela.

O roteiro, já confuso em suas motivações emocionais, ainda tenta encaixar uma camada social quase documental. Venturi parece dividido entre o drama intimista e o comentário político. E nessa hesitação, o filme enfraquece os dois lados. As inserções de cunho social — que poderiam ser potentes — acabam por soar deslocadas, como se viessem de outro filme. Pior: distanciam ainda mais o espectador da trajetória pessoal de Carmem, que já vinha sendo conduzida com certo desinteresse narrativo.

Em algum momento, Estamos Juntos flerta com os dilemas existenciais de Um Golpe do Destino (1991), estrelado por William Hurt. Mas onde o clássico americano mergulha com sensibilidade no processo de autoconhecimento de seu protagonista, o filme de Venturi parece hesitar, sem nunca abraçar plenamente nem o drama humano nem o social.

No fim, Estamos Juntos é um título irônico. Porque, ao longo de seus minutos, o que se sente é exatamente o oposto: estamos todos — público, personagens e até mesmo a trama — desconectados. Uma pena, porque a intenção parecia nobre. Mas, como o próprio filme sugere, boas intenções, sozinhas, não bastam.

Há uma regra não escrita no cinema: se o espectador não se conecta com os personagens, o envolvimento com a história dificilmente se sustenta. Estamos Juntos, de Toni Venturi, infelizmente, confirma essa máxima ao nos apresentar um conjunto de figuras humanas que, apesar das boas intenções, parecem existir numa bolha emocional inacessível — e não no sentido poético.

Leandra Leal, ainda que competentemente entregue ao papel, encarna uma protagonista difícil de se simpatizar. Sua personagem, Carmem, é tão introspectiva e impenetrável que não nos permite criar qualquer vínculo. Mas ela não está sozinha nessa jornada de distanciamento emocional. O amigo gay, em tese figura de afeto e leveza, surge com uma antipatia quase caricatural. Dira Paes, presença sempre forte no cinema nacional, é relegada a um papel tão irrelevante que chega a constranger — parece estar em cena apenas por obrigação contratual. Já Débora Duboc, uma das poucas tentativas de calor humano no filme, aparece pouco e sem espaço para se desenvolver.

A sensação é a de que todos os personagens estão presos em versões emocionalmente desidratadas de si mesmos — como se o roteiro tivesse receio de permitir qualquer fagulha de empatia. O resultado é um drama que até se esforça para parecer denso, mas que na prática esbarra num vazio emocional que o torna difícil de assistir.

É impossível não lembrar de Como Esquecer, drama de 2010 protagonizado por Ana Paula Arósio, no qual também acompanhamos uma protagonista fria e traumatizada. Mas, ao contrário de Estamos Juntos, aquele filme ao menos tinha um roteiro mais coeso e uma condução emocional menos dispersa. Aqui, o roteiro confuso e enigmático parece não confiar no espectador, como se esconder o que pensa ou sente fosse o único jeito de parecer profundo.

O que sobra? A bela fotografia. De fato, visualmente, o filme é competente. A estética salva momentos soltos e ajuda a compor a atmosfera urbana e melancólica de São Paulo — uma cidade que, ironicamente, acaba sendo mais interessante que todos os seus habitantes ficcionais.

No fim das contas, Estamos Juntos se torna uma experiência distante, pouco recompensadora, que só deve interessar a quem é profundamente dedicado ao cinema nacional ou quer ver qualquer coisa com Leandra Leal — por mais que nem ela consiga carregar, sozinha, o peso de um filme tão emocionalmente bloqueado.

Uma pena. O título sugere proximidade, mas a sensação que fica é de afastamento. Estamos juntos... mas cada um por si.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Veja Só



Picasso ficou famoso pelas obras da sua chamada fase azul.
Sangue azul é uma qualidade reservada a aristocratas.
A terra vista do espaço é azul.
O blues é um estilo musical, criado pelos negros americanos, e fala d' alma.

Em inglês, blue também é sinônimo de tristeza, sofrimento.

O que nos leva a Tibério Azul, front man da "Mula Manca e a triste (fabulosa) figura" e ultimamente mais conhecido como vocalista da "Seu Chico" . Agora estreado em carreira solo. Uma boa notícia pra aqueles que sonhavam com a volta da banda após a sucedida empreitada Buarquiana. Há alguns dias atrás mostrou ao mundo , "Veja só", em forma de um belíssimo video clipe e agora acaba de lançar seu novo disco, Bandarra (Link pra download no final da materia)

Mas o som de Tiberio não é triste, exalta uma alegria que parece perdida no tempo. Não que não cite a trizteza. Há dor, um sofrimento inerente que permeia a cancão. Sensível que doi.

Mas por mais que lembre a saudosa banda (dificil desvincular, quando se trata do vocalista), aqui os erros e acertos podem ser atribuidos a uma unica pessoa. É Tiberio quem manda. É sua alma em estado puro, apesar das colaborações. É dele a ultima palavra.
Tibério já havia demonstrado seu apreço ao passado. Se antes havia uma envocação ao antigo Carnaval, a tristeza das marchinhas (sim, sempre tristissimas essas cantigas de Carnaval), aqui o clima é de vaudeville, um certo ar vintage. O som, embora datado, é sincero, soa como moderno.

E há poesia nas letras de Tibério. O misterio das letras, harmonicamente desconexas. Uma frase recortada, um verso incompleto. São poucos os letristas nacionais qie podem gabar-se das letras funcionarem sem a musica. Cazuza é um bom exemplo disso. Renato Russo, apenas pra citar um mais popular e famoso, e seus versos de auto ajuda barata ganham forças pela pela voz e melodias, mas não funcionam como poesia.

Aqui você pode baixar a versão acustica de "Bandarra" (que dá nome ao disco) e que já é um dos discos fundamentais do ano.

Mas não perca mais tempo, para fazer o DOWNLOAD do mesmo é só clicar aqui.



terça-feira, 5 de abril de 2011

Tiê - A Coruja e o Coração (ou o Coração da Mamãe Coruja)



Muito se falou das mudanças de sonoridade entre o primeiro e o segundo recém lançado CD da cantora Tiê, porém as mesmas podem ser analisadas pela capa. Enquanto o primeiro CD “Sweet Jardim” , todo em preto e branco apenas com o desenho de um passarinho (referência obvia) o segundo “A Coruja e o Coração” tem a capa branca, com o desenho da artista e alguns tímidos detalhes coloridos.

Se no primeiro predominava o domínio da cantora nas composições no novo apenas “For you and for me”e “Te Mereço” são assinadas exclusivamente pela artista. Não por acaso esta ultima, uma continuação de “Te valorizo” e com sonoridade mais próxima do primeiro disco, fecha o novo trabalho e serve de ponte entre ambos.

Além das parcerias nas letras desta vez são 3 as regravações (o primeiro trazia em uma nova tiragem a singela e honesta cover de “Se Enamora”), sendo duas recentes e até certo ponto óbvias: “Mapa Mundi” do Thiago Pethit e “Só sei dançar com você” da Tulipa Ruiz, ambas lançadas no ano passado. A terceira, já mais ousada eque vai dividir opiniões é o sucesso popular também recente “Você não vale Nada” (aquela mesma que você deve estar pensando). Voltarei a ela depois.

Mais parcerias, vários instrumentos, 3 Covers. Apesar de tudo as canções continuam intimistas como a do primeiro trabalho. Não sei direito mas escrevendo essa resenha me lembrei do filme “Encontros e Desencontros” da Sofia Coppola (se bem que o titulo original “Lost in Translation” vem mais a calhar).

Tiê foi feliz a expandir suas idéias. As parcerias trouxeram novas texturas e ela sabiamente conseguiu sobressair-se a elas.

“For you and for me” a única em inglês tem um clima e levada a lá Velvet Underground. Fiquei esperando Nico entrar com sua voz, mas tão imediato a canção foi se tornando uma legítima musica da Tiê.

“Hide and Seek” com participação de Helio Flanders e que antes tinha aparecido na Internet com letra totalmente em inglês agora mantem apenas o “yes” do começo (ponto pra cantora) e tem uma levada que combina com a próxima canção a já comentada cover de “Você não vale nada”.

Por trás de toda a breguice de “Você não vale nada”, Tiê deve ter percebido uma oculta delicadeza, assim como Zeca Baleiro ao regravar “Proibida pra mim” do enfadonho Charlie Brown. Poderia ser um tiro no pé, mas a bizarrice da mesma, auxiliada pela textura flamenca tornou a musica apropriada e divertida. A letra furiosa contrasta com a voz delicada da artista como se fosse aquela pessoa te dando um fora e gentilmente (ou cinicamente) dizendo que o problema e com ela e não com você. Um tapa com luvas de pelica.

“Te mereço” já comentada e que fecha o disco remete diretamente a sonoridade de “Sweet Jardim” e espertamente convida o ouvinte a ouvi-lo novamente. Um modo esperto de perceber a similaridade entre ambos os trabalhos é colocar ambos pra tocar aleatoriamente, uma musica de um e outra do outro.


Assim , Tiê que já tinha lançado um belo trabalho de “estreia” em 2009 dá um passo à frente, deixando para trás o fantasma do segundo disco e entregando um trabalho mais sólido e consistente, sabendo utilizar as ricas parcerias musicais sem deixar-se descaracterizar ( um perigo quando se trabalha com talentos como Jorge Drexler, Thiago Pethit, Helio Flanders e Karina Zeviani, que aqui trazem suas influências, mas o domínio da obra é totalmente de sua idealizadora).

De ruim, assim como o primeiro apenas a curta duração (herança dos trabalhos de jingles da autora ? ). De qualquer forma, o melhor é ainda deixar o trabalho amadurecer mas dá pra esperar ansiosamente pelo terceiro trabalho, que tenho a teoria que é sempre o auge do artista.



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O texto acima é de um estilo mais blog.
Agora o texto original, e enxuto, publicado no Jornal Candeia esse mesmo ano

Muito se falou sobre as mudanças sonoras entre o primeiro e o segundo disco de Tiê, mas talvez a capa já fosse um bom indicativo. Enquanto Sweet Jardim se apresentava em preto e branco, com o desenho singelo de um passarinho — símbolo quase óbvio da cantora — o novo trabalho, A Coruja e o Coração, traz uma capa branca, com a própria Tiê desenhada e alguns tímidos detalhes coloridos. Uma transição visual que anuncia um pouco do que vem por aí.

Se no primeiro álbum Tiê dominava quase que exclusivamente as composições, aqui apenas duas faixas são assinadas apenas por ela: “For You and For Me” e “Te Mereço”. A última, que fecha o disco com uma ponte direta para o Sweet Jardim, soa como uma continuação natural, reconectando os dois trabalhos sem rupturas bruscas.

As parcerias são protagonistas nesse disco, assim como as regravações: três, no total. Duas delas relativamente óbvias — “Mapa Mundi”, do Thiago Pethit, e “Só Sei Dançar com Você”, da Tulipa Ruiz, ambas recentes e bem encaixadas. A terceira, “Você Não Vale Nada”, é a verdadeira bomba do álbum — a música que você provavelmente está pensando, aquela que é quase um convite ao choque. Mas surpreendentemente, Tiê faz funcionar. A breguice da faixa, envolta em uma textura flamenca, se torna charmosa e até divertida. É como um tapa com luvas de pelica: a letra furiosa é entregue com uma voz doce e quase cínica, como se a própria cantora estivesse dizendo “o problema é você, não eu”, com um sorriso malicioso.

Em termos de sonoridade, as parcerias deram novas camadas às músicas sem que Tiê perdesse o controle da obra. “For You and For Me”, a única em inglês, tem aquele clima Velvet Underground que faz a gente esperar pela voz da Nico a qualquer momento, mas a canção rapidamente se transforma em algo genuinamente Tiê. Já “Hide and Seek”, com participação de Hélio Flanders, suavizou sua versão anterior inteiramente em inglês, mantendo só um “yes” no início, e ganhou uma levada que combina com a sequência do disco.

Apesar do acréscimo de colaboradores como Jorge Drexler, Thiago Pethit, Hélio Flanders e Karina Zeviani, que imprimem suas marcas, o domínio do álbum é, sem dúvida, de Tiê — a verdadeira idealizadora por trás de tudo.

O único ponto negativo — que parece uma herança da época dos jingles da cantora — é a curta duração do álbum, que deixa aquele gostinho de “quero mais”. Mas, no mais, A Coruja e o Coração é um passo à frente, um trabalho mais sólido, que revela uma artista em expansão sem perder a sua essência intimista.

Agora, é esperar ansiosamente pelo terceiro disco — o momento em que, na teoria, o artista realmente alcança seu auge.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Levando o Jô Soares a sério (ou uma desculpa para falar de Internet)

As pessoas parecem ter uma dificuldade danada em entender que o Programa do Jô é, antes de tudo, um programa de humor. Sério, fico me divertindo com a turma que leva aquilo a ferro e fogo, como se fosse uma sessão solene da Academia Brasileira de Letras. E pior: tem fã que encara tudo aquilo como se fosse o discurso da ONU.

Volta e meia, quando assisto algum cantor ou cantora que gosto, dou aquela bisbilhotada nos fóruns, principalmente no Orkut — aquele museu dos nossos tempos — e vejo uma legião de xingamentos que faria até o mais paciente dos monges tirar o salto. Aí fico pensando: será que essas pessoas nunca assistiram ao programa do Jô? Ou será que não perceberam que o que rola ali é uma mistura de bate-papo com comédia, um “stand-up” leve, tipo aquele tio meio louco que faz piada na ceia de Natal e você finge que acha engraçado?

O barato do programa é justamente a habilidade do Jô de despir o cantor daquela pose séria, quase sacra, e mostrar um lado mais humano, mais mundano. O problema é que a raça dos fãs é praticamente inimiga do bom humor. Não todos, claro, mas aqueles fãs xiitas — que, às vezes, nem são tão fanáticos, mas perderam o senso crítico em algum ponto do caminho e vivem numa espécie de delírio coletivo, tipo um culto ao santo vinil.

Quando o artista é obrigado a tocar antigos sucessos, a turma já reclama, “ai, só toca essas velharias”. Quando toca algo novo, inédito, é outro horror: “Mas que porcaria é essa? Cadê o som que eu gostava?” É claro que às vezes o novo não é lá essas coisas — eu mesmo já ouvi umas músicas que me fizeram pensar se o microfone não estava ligado pra captar o som ambiente — mas muitas vezes é só preguiça do fã em abrir a mente para o novo.

E olha, uso o termo fã, mas será que isso é fã mesmo? Ou “Maria vai com as outras” que só repete o que o coleguinha da internet falou? Porque, convenhamos, fã que é fã não deveria ser tão facilmente manipulável — e sim capaz de rir do próprio ídolo, afinal, ninguém é santo, nem o João Gilberto, que deve ser o cara mais sisudo da face da terra, mas tenho quase certeza que em casa ele deve rir de alguma piada besta, mesmo que só por educação.

Pense no fã do Los Hermanos, por exemplo — essa galera que disputa com os do Legião Urbana e Raul Seixas o título de fã mais “cru” do país. Já pensou o que seria ver o Marcelo Camelo rindo com o Amarante falando de churrasco, papo furado, essas coisas mundanas? Seria o fim do mito, o apocalipse da seriedade da banda!

Ontem, por exemplo, a vítima da vez foi a cantora Tiê. Um pouco tímida, sim, mas que soltou um lado dela que poucos conhecem. Jô, com seu jeito quase paternal, foi puxando as curiosidades da cantora como quem caça marimbondo com vara curta: devagar, com jeitinho, mas sem deixar escapar nada. Aí vem os fãs, que já sabem tudo — ou acham que sabem — e querem ouvir só a mesma ladainha de sempre, como se eles fossem os donos da verdade.

E não adianta: o fã morre de medo de que a imagem do ídolo se quebre, que o “mito” vire gente como a gente — que, aliás, é exatamente o que o programa do Jô tenta mostrar. Tem também o fã enciumado, que fica bravo porque o artista que ele jurava exclusivo está agora na boca do povo, depois de aparecer num programa que tem audiência. Claro, o fã legítimo é aquele que estava lá desde a fase underground, antes do artista ter site, blog, Twitter e até canal no TikTok.

Agora, vamos combinar: a internet revolucionou tudo, isso é fato. Mas muitos artistas ainda não sacaram que, por mais que o YouTube e Spotify ajudem a espalhar o som, o alcance popular só vem mesmo pela velha e boa TV e rádio. A internet é um reflexo disso, uma espécie de espelho onde a gente procura o que viu no outro meio. Mallu Magalhães, por exemplo, bombou no MySpace, mas só virou fenômeno nacional depois que apareceu no Jô e no Faustão — isso para o bem e para o mal, claro.

No fim das contas, o artista que acha que pode viver só da internet está meio enganado. O melhor é usar a rede como uma ferramenta a mais, um atalho para se conectar com o público, mas jamais esquecer que ainda tem muita gente que prefere sentar no sofá, ligar a TV e ver um programa na boa, sem precisar ficar mudando de aba no navegador.



domingo, 27 de fevereiro de 2011

Q




O DISCURSO DO REI

Ok, não teve jeito, "O Discurso do Rei" foi o grande ganhador, com os prêmios de Filme, Diretor, Ator e Roteiro Original. O filme pode ser definidido como a "cara do Oscar". Produção impecável, bem dirigido, fotografia perfeita, atuações marcantes, roteiro excelente. Praticamente um filme perfeito. O ponto negativo, se é que se pode ser definido assim é que é uma produção "antiquada" para os padrões modernos. Mas mesmo isso não foi barreira para o filme.

Colin Firth, que não é tão conhecido do grande publico e que no ano passado teve grande chance de levar o Oscar pelo seu papel em " Direito de Amar" repete o feito esse ano, e não deu chance para seu concorrente direto , o jovem Jesse Eisenberg (A rede social) mas este é jovem demais para levar um Oscar, que sempre preferiu os atores mais velhos.

A REDE SOCIAL

O Grande filme do ano. E também dos maiores criticados. Alguns o acusa de ser um filme frio, mas isso é mais reflexo da personagem principal (e toda a geração que ele representa) do que do filme em si. Sem desmerecer o grande filme que "O Discurso do Rei" é, "A Rede Social" é um retrato dessa nova geração e dos tempos que vivemos. Porém é daqueles filmes que só vai ser devidamente reconhecido daqui a alguns anos.

Fui assistir o filme sem esperar nada demais (apesar do nome de David Fincher dar uma certa segurança), afinal não conhecia a historia do Facebook e um filme inspirado numa rede social me parecia algo como adaptar um jogo como "Pac Man" para o cinema. Felizmente "A Rede Social" tem um roteiro excelênte e diálogos rápidos e certeiros. A cena inicial, onde a personagem discute com sua então namorada tem um texto primoroso. E os demais diálogos são feitos na medida certa de irônia e perspicácia.

É daqueles filmes que o expectador comum entende, mas é necessário um olhar apurado para se dar conta de toda a genialidade por trás dele, o que explica a grande revolta das pessoas quando bem elogiado. Sem exageros, pode se afirmar que é o grande filme americano dos últimos anos.

Se "O Discurso do Rei" era a aposta certa no ultimo mês com a notabilidade recente nas premiações (afinal ganhou do Sindicato dos Diretores que vem antecipando os ganhadores nos ultimos anos), ""A Rede Social" poderia levar o prêmio, afinal a Acadêmia vem premiando filmes mais "independentes" nos ultimos tempos (o fraquíssimo "Guerra ao Terror" e o ótimo "Onde os Bravos não tem vez" para citar os mas recentes).

Seria na minha vista um Oscar justo, dado a atualidade do tema e a importância do mesmo.

O CISNE NEGRO

Grande momento de Darren Aronofsky, que ultimamente anda acertando comercialmente. Esse filme de Terror psicológico parece não ter grandes chances diante de "A Rede Social" e "O Discurso do Rei" , mas é um excelente triller, cheio de significados e interpretações. Apesar de previsível (ainda mais para aqueles acostumados com esse tipo de filme) o filme trás interpretações magistrais e Natalie Portman foi barbada como melhor atriz, em um papel compexo e controverso.

Parece ser um pouco ousado para os padrões da Academia, mas ultimamente eles votam mais pela propaganda em si do que assistem realmente o filme (já que a grande maioria é velha demais para ir ao Cinema) e portando a fama pode ter dado o Oscar para Natalie, que está em seu melhor momento da carreira. Curiosamente a Academia premia atrizes jovens em detrimento as mais velhas , o contrário do que acontece com os atores. Sua grande concorrente era Anette Bening que está excelente em sua terceira indicação por "Minhas mães e meu pai" (mas será ela já velha o suficiente para o Oscar ?).

127 HORAS

Danny Boyle novamente prova que é um grande Diretor. Depois do Oscar pelo ótimo "Quem quer ser um Milionário" eis que ele retorna com uma história difícil de ser contada, mas que consegue manter o ritmo com maestria. É praticamente um filme de um só ator, James Franco (o "Duende Verde" de Homem Aranha) que consegue manter o interesse do filme durante todo o momento. Danny Boyle consegue deixar uma história previsível e maçante em algo empolgante, embora uma verdadeira tour masoquista.

Espertamente Boyle não cometeu o mesmo erro de Robert Zemicks em "O Naufrago" (uma referência obvia) e terminou a história no momento certo (na primeira montagem o filme continuava). Filmaço, ainda que para poucos. E bota poucos nisso !

O VENCEDOR

Novamente o nome de Arronovski, cada vez mais Hollywoodiano. Desta vez como produtor. Ele mesmo ia dirigir o filme , mas acredito que percebendo a semelhança com o anterior "O Lutador" resolveu passar a direção para outro. Mas o estilo é totalmente dele, desde a fotografia aos movimentos de camera, guardando pouca semelhança com os trabalhos anteriores do diretor David O. Russel.

Curiosamente , ao contrario de "O Lutador", um grande filme prejudicado pela atuação canastrona de Mickey Rourke, este aqui é um filme mediano valorizado pelas grandes atuações de Christian Bale e Melissa Leo, não por acaso os vencedores na categoria de coadjuvantes. Teve também uma outra indicação supervalorizada para Amy Adams (aqui menos "fofinha" do que de costume) como coadjuvante, concorrendo com a vencedora Melissa Leo. Mark Wahlberg continua ruim como de costume, ainda que as outras boas interpretações (até do coro grego das filhas) ajudam a disfarçar.

Mas " O Vencedor" é daquelas produções certinhas e agradáveis de assistir, com todos os cliches de filmes americanos sobre Superação, ao estilo que a Academia costuma gosta. Um Rocky com mais sensibilidade. Não foi dessas vez que "Touro Indomável" foi superado como o filme definitivo de "Boxe".

A ORIGEM

Christopher Nolan se afirma como um dos maiores diretores da atualidade com essa excelente produção de Ficção Científica, com roteiro elaborado e aliada a efeitos especiais de primeira que contribuem ainda mais com a história. E claro ganhou os prêmios tecnicos como mixagem de som, efeitos especiais. Foram ao todo 4 prêmios, empatando com o grande Vencedor "O Discurso do Rei", porém de menor importância.

A Origem é um filme complexo e cheio de significados, porém pode ser assistido sem medo pelo espectador comum, que terá nele entretenimento de primeira. É isso também que o torna um grande filme, que agrada a vários tipos de publico, o que se interessa por filmes mais elaborados e o que procura o cinema apenas para escapismo. Porém, assim como em "A Rede Social" isso pode fazer com que o espectador com uma menor bagagem cultural (note-se, nada a ver com inteligência, são coisas distintas) não enxergue toda o conteudo. Algo tipo o que aconteceu com "O Iluminado" e "Blade Runner" no passado. Mas o tempo dará ao filme o Status que ele já merece.

Uma comparação preguiçosa é achar o filme parecido com Matrix apenas pelo fato de que o filme se passa em sua totalidade dentro da mente do protagonista (ou não), E não é necessário ser fã incondicional de Ficção para gostar do filme (eu particularmente não sou, apesar de gostar de algumas obras isoladas). E os Efeitos especias e a fotografia realmente são de primeira.


BRAVURA INDÔMITA

Sou grande admirador do trabalho dos Irmãos Coen, porém não sou entusiasta dos remakes dos mesmos como Matadores de Velhinhas e este Bravura.
Bravura é o maior sucesso comercial da carreira dos dois irmãos, batendo o oscarizado "Onde os Fracos não tem vez". E o povo tem gostado. Talvez por que o publico desse tipo de filme seja um pouco mais velho e seja esse o publico que hoje está voltando aos cinemas, já que os jovens da era "A Rede Social" estão vendo mais filmes baixados do que ido ao cinema.

Primeiramente é um faroeste, gênero que já foi soberano em Hollywood na era de Ouro e hoje rende apenas algumas produções B que acabam indo direto pro video. Raramente se encontra uma grande produção com grandes astros para se ver na Tela Grande. Curiosamente "Onde os Fracos..." pode até ser definido como um filme do gênero.

Não gostei da atuação apática de Jeff Bridges e de Matt Damon e nem vi graça na menina. Dificil também de tirar da cabeça a versão original com John Wayne e apesar dos Coen disserem que quiseram adaptar mais fielmente o livro , até onde me recordo não vi grandes diferenças. Mas não deixa de ser um filme bem realizado, com bela fotografia e trilha sonora.Embora alguns acusem-a de manipulativa, uma das qualidades do cinemão americano é essa de mexer com as emoções, e não há nada de errado quando bem utilizada como nesse caso.

INVERNO DA ALMA

Esse é um daqueles filmes independentes para poucos. Seco e direto, cheio de tragédias e com um elenco desconhecido. Apesar disso trás grandes atuações dos coadjuvantes que dão um interesse maior para o filme.Jennifer Lawrence não está ruim no papel porém é a mais fraca do elenco e não justifica a sua indicação para o Oscar. Já John Hawkes(que achei a cara do Paulo Miklos) foi uma indicação merecida.

De resto é um bom filme, mas que em outros tempos, onde os filmes independentes eram muito mais criativos, não faria tanto barulho.

MINHAS MÃES E MEU PAI

Assim como "Inverno da Alma" não teria grande destaque em tempos mais áureos. E assim como ele e "O Vencedor" , o grande e afiado elenco disfarça um pouco as coisas e o eleva a um grande trabalho. Mas as comparações param por ai, pois esse é bem mais leve que os citados, uma agradável comédia familiar, sobre dois irmãos que começam a se aproximar do pai biológico.

Mark Ruffalo está natural e perfeito como sempre. Annete Bening nos brinda com mais uma grande atuação e se fosse Homem levava o Oscar, mas a Academia não disfarça sua preferencia por atrizes mais jovens.

E o filme ainda conta com a magnífica Julianne Moore. Até a insossa Mia Wasikowska (de "Alice" do Tim Burton) está bem no filme. Mas não tinha mesmo grandes chances. Levou o Globo de Ouro por causa da fraca safra de comédias (tiveram que indicar até o ridículo "O Turista", que nem comédia é). A diretora Lisa Cholodenko vem trabalhado mais em televisão (À 7 Palmos, Hung, The L World) mas é dela o (somente) interessante Laurel Canyon.

TOY STORY 3

Não se tem muito mais a falar de Toy Story, certamente o melhor dos 3 filmes da trilogia, um filme para crianças de todas as idades como costumam falar. Se não tinha grandes chances no quesito melhor filme era praticamente impossível não levar o premio de animação, embora eu preferisse o francês "O Ilusionista". Talvez Toy Story não tenha me atingido tanto em cheio, uma vez que não sofro dos dilemas do protagonista e ainda conserve em minha casa meus brinquedos e artigos de infância. Curiosamente não sou dos mais afeitos a animações, salvo as que eu via quando criança.


FILME ESTRANGEIRO

De todos os indicados talvez o unico que mereçesse alguma intenção seja o ótimo "Biutiful" com
Alejandro González Iñárritu provando que não precisa do Guillermo Arriaga para apresentar um grande filme e com Javier Barden que poderia ter levado o Oscar de melhor diretor para combinar junto com o de Coadjuvante que ganhou com "Onde os Fracos não tem vez".
De resto o Grego "Dente Canino" é esquisito demais, e não diz para que veio, para levar o premio e o chato "Em um mundo melhor" que foi o vencedor é muito fraco. A diretora Susanne Bier do Dogma 95 fez o interessante "Brødre", que ganhou a versão americana "Brothers". Mas o filme, que surpreendeu ganhando o Globo de Ouro, agora tinha virado favorito. Uma pena.




Melhor atriz

Nicole Kidman depois de quase enterrar sua carreira volta a entegrar uma boa atuação em um filme um tanto quanto depressivo e que não deu muito o que falar, a deasconhecida Jennifer Lawrence é a pior do elenco de Inverno da Alma (ainda que a principal), Michelle Williams é sempre competente como em Blue Valentine, Annette Bening por "Minhas Mães e meu Pai" está excelente, mas pode ter passado da idade para ganhar (ainda que mereça) e Natalie Portman não deixou a chance passar e ganhou por Cisne Negro, seu melhor momento na carreira (sempre de ótimos papéis como em "Closer")

Melhor ator

Jesse Eisenberg (de Zumbilândia (!)) está ótimo em "A Rede Social", mas ao contrário das atrizes está novo demais para ganhar de Colin Firth de "O Discurso do Rei" e que merecia ano passado por sua ótima interpretação em "Diretor de Amar" (titulo nacional ridículo para "A Single Man")
James Franco segura a barra durante toda a projeção de "127 Horas" e seria um prêmio justo, afinal é só ele em cena. Javier Bardem está perfeito em "Biutiful" e merecia ganhar e Jeff Bridges já teve seu grande momento ano passado e está apático em "Bravura Indomita". E como personagens com algum tipo de deficiência são imbatíveis, o que esperar de um Rei gago. Naturalmente iria ganhar, ainda mais bem interpretado como foi.

Melhor ator coadjuvante

Christian Bale era o grande favorito o Vencedor por "O Vencedor". E nem sua fama de Bad Boy atrapalhou. Jeremy Renner indicado por "Atração Perigosa" só podia mesmo ser uma piada de mal gosto (alias, o que viram nesse filme que não passa de um "Supercine" com pedigree ?). Geoffrey Rush poderia atrapalhar os planos de Christina Bale por "O Discurso do Rei", mas se nem a Helena Boham Carter venceu... John Hawkes (o Paulo Miklos cover) está ótimo assim como a maioria do elenco do insosso "Inverno da Alma", que deve sua fama pelo grande elenco de desconhecidos (o que torna o fato mais admirável) e Mark Ruffalo , um de meus atores favoritos, apenas se contentou com a indicação por "Minhas Mães e meu Pai".

Melhor atriz coadjuvante

Ainda não entendi a indicação de Amy Adams, que está apenas melhor que o costume por "O Vencedor". Helena Bonham Carter está ótima em "O Discurso do Rei" (curiosamente ela narra o curta de animação "O Gruffalo" que pode levar o Oscar da categoria, já que é o único que valha algo) , Jacki Weaver , da série australiana Satisfaction, é desconhecida ja passou da idade (para ganhar) e a indicação por "Animal Kingdom" deve bastar, a bonitinha Hailee Steinfeld não me convenceu nem um pouco por "Bravura Indômita" e Melissa Leo, de "O vencedor", uma atriz camaleônica, finalmente ganhou, já que é uma das razões de "O Vencedor" ser o bom filme que é. Quem duvida da sua capacidade basta ver seus outros trabalhos e comparar com a dama que deve recebeu o prêmio.






quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

pequena folha

Sinto o como um câncer
Crescendo dentro de mim,
Mas não está em mim —
É um invasor gentil,
Um estranho que não rouba,
Mas que transforma cada célula,
Cada pensamento, cada gesto.

São apenas sentimentos,
A ilusão tênue de que eu não posso mais ser,
De que tudo que fui se dissolve,
Como areia escorrendo pelos dedos,
E um novo mundo se abre,
Mas não para mim,
Para ele — para o outro —
Que cresce lá dentro, silencioso.

Mudança de identidade,
Deixar de ser seu, para ser dele,
Desfazer-se de velhas certezas,
Para construir pontes desconhecidas,
Entre o ontem e o amanhã,
Entre o que fui e o que serei.

Quero apenas continuar pelo mesmo caminho,
Mas sei que ele se bifurca —
O velho eu ao lado do novo pai,
Um paradoxo vivo, pulsante,
Que a cada batida me chama, me desafia,
A ser menos e a ser mais,
Ao mesmo tempo.

No silêncio do ventre,
Sinto o que não posso tocar,
Vejo o futuro que ainda não chegou,
E mesmo com medo, com dúvida,
Há uma chama que não se apaga:
O desejo infinito de caminhar,
De mãos dadas, na estrada que agora somos.

VERSÃO 2

Sinto como um câncer a expandir,
Dentro de mim a vida a surgir,
Mas não é em mim que está a florir,
É outro ser a me construir.

São sensações que vêm e vão,
Ilusão que rouba a razão,
De que sou eu a perder a mão,
E ele nasce na imensidão.

Mudança fina, identidade,
De ser teu a ser metade,
De deixar o eu, com saudade,
Pra abraçar a novidade.

Quero, sim, continuar,
Por trilhas que vêm a se dobrar,
Mas é preciso me reinventar,
Para o mesmo rumo caminhar.

No ventre, o tempo é segredo,
Mistério puro e enredo,
De um amor que é mais que medo,
É nascer inteiro no enredo.

E assim sigo em transformação,
Entre o fim e a criação,
Pai e filho em comunhão,
Eterno laço, eterna canção.

.














S



















.
Solidão Amiga,
Solidão que vicia
Quero ser sua
Quero ver te sozinha

Um Quarto Fechado
O Silêncio

O Vazio não é possivel

(Com os meus pensamentos nunca estou só)

Para podermos conviver com os Outros
É necessário poder ficar sozinho

Sinto falta do apenas o barulho do vento
Um Livro do começo ao fim
Transbordadando Emoções
Um filme intimista
Refletir
Poder escrever
Concluir um raciocinio

A Solidão é a melhor companheira
Não tenho medo dela
Ela sou Eu