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terça-feira, 19 de junho de 2007

Entrevista - André Jung (IRA !)

André Jung dispensa apresentações, mas vai lá: Tocou no início dos Titãs, com quem gravou o primeiro disco. Depois de um tempo houve uma "troca" com o Gavin, baterista do IRA ! , que foi para o Titãs, e a partir dai não saiu mais do IRA !, que está desde o primeiro Vinil até hoje, contabilizando 13 álbuns (2 ao vivo pela MTV) mais algumas coletâneas "caça-niqueis" que as gravadoras adoram soltar pelo mercado.

O IRA ! lançou recentemente seu mais novo trabalho, "Invisível DJ" ,

Clipe "Eu vou tentar" do novo disco , dirigido novamente pelo Selton Mello , o quinto IRA!


Abaixo um entrevista exclusiva com Andre Jung sobre sua carreira, seu processo de composição e o novo disco:

1- Como começou a sua HIstória com a Musica ? Qual o primeiro disco que te inspirou e que "mudou a sua vida" ?
Comecei a me interessar por música quando entrei na adolescência, aos 14 fui estudar música barroca, mas não tinha a menor pretensão em me tornar músico(queria ser jornalista), só no colegial é que comecei a levar música mais a sério e quando terminei o segundo grau, embora tenha começado a cursar jornalismo na eca(usp), já estava decidido a ser músico (era então um percussionista).
Dizer um disco só é difícil para mim, portanto vou citar alguns:imagine(john lennon), secos e molhados, fruto proibido(rita lee), clube da esquina(milton nascimento e lô borges).

2- Você gravou o primeiro disco dos Titãs . Depois, lembro - me de você tocando com o grupo no Fábrica do Som, enquanto o IRA ! ainda se apresentava com o Gavin. A sua saida dos Titãs se deu antes de ser convidado para o IRA ! ou rolou um tempo parado antes da troca ?
Sim, deixei os titãs no dia primeiro de janeiro de 1985, estava no rio quando fui despedido, voltei para são paulo, meio sem chão e tive a grata surpresa de ser convidado pelo nasi e pelo edgard para entrar para o ira!, o que aconteceu no dia 2 de janeiro, rolou um tempo de algumas horas.

3- O seu jeito de tocar bateria pelo IRA ! ,mais perceptível nos primeiros discos ,é bem influênciada pelo som MOD, principalmente do Keith Moon, que aliás é referência explícita do IRA!. A Pergunta é, isso já era uma influência sua, ou tem a ver com o momento que você passou a fazer parte do grupo ?
Tem a ver com o momento do ira! que antes da minha entrada era um grupo de forte influência pós-punk e que quando juntou a formação atual identificou no movimento mod uma tradução do que éramos então.

4- Moon usava um kit de bateria duplo , se livrando completamente do chimbau baseando sua ritmação no bumbo duplo e nos pratos de condução e ataque. Desta forma a bateria e o baixo de Entwistle praticamente solavam junto com a guitarra de Townshend, fazendo do WHO uma banda única. O quanto disso se aplica a você e consequentemente , quais as outras influências nãotão óbvias na sua maneira de tocar ?
Moon foi um artista único, talvez a maior expressão de pura arte na bateria, sem conhecimentos acadêmicos, ele revolucionou a colocação do instrumento criando arrajos de bateria que mais se assemelhavam a uma orquestração erudita, ele foi um gênio, sem dúvida um dos mais viscerais e criativos músicos do rock, não tento imitá-lo, posto que não conseguiria, mais sua forma de lidar com a bateria é uma das minhas mais importantes referências.

5- Ainda na linha acima, cite alguns discos essênciais de sua coleção. ALías, você é um grande colecionador, ávido por coisas novas ?
Tenho am bom número de discos, mas não sou um grande colecionador, amo música de um modo bem amplo e portanto não sou extamente um consumidor de rock, mas tenho vários discos do who (high numbers, who´s next, the who sings my generation, tommy, etc . . .), gosto de coisas novas, especialmente quando são realmente coisas novas, o que é bem diferente de coisas recentes.

6- Em uma conversa que tivemos em Araraquara certa vez , ao comentar com você que gostava do disco Clandestino, apesar de achar que faltava algo no mesmo, principalmente na mixagem, você me disse que odiava a bateria do disco, que achava mal gravada. Comente um pouco essa sua opinião, e da mesma forma,qual o seu trabalho que mais se aproximou de suas expectativas ?
O som do "clandestino" me parece muito irregular, embora haja momentos que eu tenho muito apreço, especialmente a faixa título e "cabeças quentes" que considero um dos meus melhores momentos no ira! .Como discos do ira! em que gosto muito do som de bateria destaco "psicoacústica" e "você não sabe quem eu sou".

7- Fui num show do Edgar Scandurra há vários anos atrás e era somente ele e você na bateria. Você ainda o acompanha ?

Foi no início do trabalho do edgard com música eletrônica. Quando ele começou o "benzina" e estava lançando seu primeiro disco tive a oportunidade de assisti-lo com outro baterista e senti alí que poderia dar uma grande contribuição à performance do disco se assumisse as baquetas, então o edgard me convidou e eu tive o prazer de acompanhá-lo em alguns shows, sou entusiasta do trabalho do edgard e sempre estarei à disposição se ele achar que precisa de mim.

8- A Warner lançou uma época um disco de raridades com uma mixagem muito ruim de várias musicas do IRA ! . Mostrando para o Nasi uma vez ele nem conhecia o CD. Vocês tiveram participações em alguns discos e tributos lançados esporadicamente, como "1914" e "Tororó" .Você saberia listar algumas dessas participações e se é dos planos do IRA !
reunir esse material ?


Não conheço essas "raridades", deve ser algum caça-níquel, também fizemosuma versão de "garota de ipanema", participamos do tributo aos secos e molhados, com "amor" e deve ter mais alguma coisa que não me lembro, mas como cada tabalho saiu por uma gravadora - algumas coisas ainda em tapes
que nem existem mais - é difícil encarar a empreitada.

9- O IRA ! é uma das poupas bandas nacionais com carreira ininterrupta e com os mesmos integrantes (ao menos nos discos de estúdio) que sobrevivem lançando materiais de qualidade e sendo referência de atitude, palavra muito usada por vários artistas, mas raramente posta em prática. Muito famoso aquele episódio das "toquinhas de Papai Noel" no Chacrinha e que atrapalhou um pouco o IRA ! com a relação à mídia no final dos anos 80, mas ao mesmo tempo esse tipo de atitude contribuiu muito para criar uma carreira solída para a banda. Afinal, a que você atribui boa parte do sucesso desse casamento de 25 anos ?
sem falsa modéstia, ao fato de sermos bons no que fazemos, cada um individualmente tem uma peculiaridade que faz com que a soma produza uma música poderosa, se não fosse assim, não estariamos mais juntos.

10 - No começo dos anos 90 , poucas bandas dos anos 80 conseguiram sobreviver na Mídia. O IRA ! continuou lançando discos mas a geração mais nova não tinha muito acesso à ele. Também tiveram bastantes problemas pessoais . Como isso afetou a banda, vocês pensaram em parar ?
já pensamos em parar muitas vezes, mas a questão nunca foi o sucesso em sí, desde o primeiro álbum, formamos um público em caráter nacional, e mesmo que estivessemos distantes das rádios e dos programas de tv,conseguiamos viajar pelo brasil tocando para um público ávido por nossas
músicas, temos um pé cravado no underground e, jovens e fortes, não foi difícil lidar com alguns desconfortos, os problemas dos anos 90 deveram-se muito mais `a excessos do que a "sucessos".

11- Gosto muito dos discos anos 9O do IRA !, principalmente o"Você não sabe quem eu sou", que , na minha opinião apresentou uma evolução no som da banda e resultou num disco mais elaborado. Depois foi lançado o ótimo disco de covers, "Isso é amor", um projeto que as vezes causa muitas reações negativas, mas que no caso do IRA ! resultou num trabalho honesto e maduro. Você , como integrante da banda , consegue definir as fases por qual ela passou durante os anos ?
Esse tempo especificamente, foi um tempo de transição, saímos da warner e estavamos desacreditados entre as majors, então aconteceu uma tour pelo japão e voltamos de lá para assinar com a paraddoxx, pequeno selo com o qual fizemos dois discos muito legais, o "7", resgate de um rock básico e urgente, com sotaque de garagem, e o "vc não sabe quem eu sou", antítese, disco extremamente ousado onde usamos o estúdio como um laboratório criativo e subvertemos alguns procedimentos tradicionais do rock'n roll.
O "isso é amor" marca nossa entrada na abril music, efêmera, porém poderosa então, e de certa forma vem a ser o momento em que a grande mídia voltou a olhar para o ira!. Com esse disco ganhamos o prêmio de melhor disco de música popular do ano, da associação paulista dos críticos de arte.

12 - As letras em sua maioria são do Edgard e do Nasi. Você tem participação em alguma musica nesta parte ? De qualquer forma, cite algumas musicas onde o seu envolvimento foi mais constante.
a grande maioria das músicas do ira! são do edgard, eu diria que cerca de 70% são exclusivamente dele, e mais uns 15% tem ele como autor da letra (principalmente em parceria com o gaspa) ou da música (com Arnaldo Antunes por exemplo), tive participação em músicas como; "advogado do
diabo", "melissa", "pra ficar comigo"(versão de "train in vain" minha e do nasi).

13- Como funciona o processo de criação da banda ?
Não existe uma fórmula especifica, mas sempre sob pressão.

14- Em época de mp3 , o que eu vejo como o "Invisível DJ" , onde a nova geração está deixando de ter aquele fetiche pelo disco "físico", você se preocupa com o aspecto visual , toda essa concepção com a capa , o encarte ?

Para o objeto disco vender nos dias de hoje, ele tem que oferecer um valor agregado, uma capa legal, fotos bem feitas, encarte, senhas, barulhos,stickers, tudo vale para que o disco resulte em grana que pague os custos,bastante altos, de fazer uma gravação de bom nível técnico.

15 - E falando nisso, o que há por trás de todas aquelas Moscas no novo CD ?
Uma idéia, ao mesmo tempo provocativa e abstrata de criar uma identidade visual para o cd, aquele "da mosca".

16- Te incomoda os downloads que são feitos de suas musicas . Como você encara essas mudanças no mercado ?
Não incomoda nada, não dá pra segurar a tecnologia e ela vai enterrar a mídia física como forma de comercialização da música, só que no momento tudo ainda é incerto e ninguém tem uma previsão confiável do que vai suceder o atual e moribundo modelo.

17- E você costuma baixar musicas , sejam elas raridades de artistas que você gosta ou novos trabalhos ?
Não, ainda compro cds.

18- O que você tem ouvido de bom, de nacional a internacional ? O que você encara como uma banda que realmente trouxe algo de novo para a música, ou que pelo menos soube aproveitar as grandes influências do passado se tornando algo , ao menos relevante ?

Nacional, gosto do Cachorro Grande, do Gram, do Relespública, da Nação Zumbi, e poraí vai. Gringo, escuto coisas novas como o Magic Numbers,Dresden Dolls, Ellen Allien, gosto de Air,Daft Punk, mas também escuto mestres como o Bob Dylan e seu ótimo "Modern Times" ou o "Smile" ao vivo
do brian wilson (Beach Boys).
Eessa sua segunda pergunta é muito ampla,mas acho que o rock não é um território exatamente de inovação mas em cada tempo surgem grupos que renovam aquela "mesma coisa", foi assim com os Beatles, Stones, Who, foi assim com o Police, os Ramones e o The Clash.



19- Você tem algum projeto paralelo ao IRA ! seja ele musical ou de outra forma ?

Criei um projeto no qual atuo como diretor, produtor e músico chamado "totem", dele fazem parte, além de mim, o Lino Crizz nos vocais, a Michelle Abu na percussão e bateria, o Jonas Moncaio no cello e o Adriano Grineberg nos teclados e baixo.
O primeiro disco do totem,"pindorama", está nesse momento sendo masterizado pelo Ricardo Garcia, a mixagem foi feita pelo Carlo Bartollini (Você não sabe quem eu sou) e por Ricardo Ortega.
estou em tratativas para lançá-lo no brasil e na europa e devemos começar a ensaiar em breve (o grupo ainda não tocou junto).

20- Quais são os planos do IRA ! para esse ano ? O que você espera do novo trabalho, "Invisível Dj" ? Claro que ainda é cedo para ter o distanciamento necessário para responder, mas , você está satisfeito com o resultado ?

Espero que façamos uma boa turne que possibilite um giro por todo o país, e nos traga um bom retorno.Estou muito contente com o disco ,e acho que ele tem luz própria dentro da nossa obra.


21- O novo "Invisível Dj" transpira amor (de forma direta e irônica), mas também política , sendo na ótima "O Candidato" , seja de formas mais sutís. É muito difícil fazer uma musica política direta e não parecer datada ou mesmo relevante de certa forma . Como você encara tudo isso, e esse momento que o Brasil está passando , com uma das Esquerdas mais "de Direita" que se tem notícia ?
acho que vivemos um momento em que o pais avança mas não depura suas lideranças, nossa esquerda nunca mais será a mesma, mas isso é bom, não existe o monopólio da verdade.

22- o Acutico MTV trouxe para o grande publico grandes musicas do IRA !que não tiveram muito chance no passado , como o caso de "Girassol" e "Eu quero sempre mais", do obscuro "7", lançado à época pela Paradoxx. Existe alguma musica que acha que ainda falta que seja feita justiça (não vale a ótima "Cabeças Quentes" e "Clandestino") ?

Campos prais e paixões é uma música que acho muito forte, muitas do cd "meninos da rua paulo" também.


23- Para finalizar, de praxe , deixe uma mensagem para os fãs e comente algo que você queira e possa não ter tido oportunidade ?

Abraços aos que acompanharam essa entrevista, a música pode não mudar o mundo, mas com certeza, faz dele um lugar muito mais suportável.

Um comentário:

Andre Mansim disse...

Bela estrevista Gus!!!
Eu também gosto muito e Campos praias e paixões e achei um desperdício ela não estar no Acústico.
Pena que o André e o Gaspa saíram.

Um abraço!