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domingo, 10 de outubro de 2010

Tropa de Elite


O primeiro Tropa de Elite foi acima de tudo um grande fenômeno cultural . O Capitão Nascimento, um dos grandes vilões do cinema nacional tornou se um icône pop, frases do filme viraram citações na boca do povo, e a péssima trilha sonora foi um sucesso. Portanto natural que o filme ganhasse uma continuação.

Particularmente não tinha muitas expectativas para essa continuação. Tropa de Elite parecia mais um piloto de seriado de TV e o recurso do Voice Over (ou narração em off), que me pareceu inserida apressadamente, atrapalhava demais o filme. Não acredito que o Cinema deva usar muito esse recurso. O Cinema tem outras maneiras de passar uma mensagem e sempre me pareceu meio que vagabundagem e subestima o publico o uso frequente deste tipo de narrativa.

Não que Tropa de Elite seja ruim. Ao contrário, é justamente um raro exemplar de cinema de ação feito no Brasil (bem feito acima de tudo e melhor que muito blockbuster americano) e apesar de violento, era divertido em muitos momentos e trazia acima de tudo grandes questões para reflexão, como a verdadeira função da policia e quem é o verdadeiro culpado pela violência que vemos na TV. O filme, apesar de tendencioso ao ser narrado pelo protagonista, não trazia muitas respostas. Nascimento, acreditava trazer as respostas, mas ia se afundando lentamente, demorando para cair a ficha,ignorando os sinais que seu corpo dava do que estava lhe acontecendo.


E eis que estreou o novo Tropa de Elite, um sucesso de público garantido. A continuação começa com uma estrutura de seriado com um pequena apresentação antes dos créditos iniciais (novamente com uma trilha sonora aquém das qualidades do filme) e o expectador se sente em casa.

Todavia, pode ser que esse novo Tropa de Elite não seja tão bem assimilado pelo grande público.Tem menos ação do que o esperado e traz um contexto político forte. Dito isso, Tropa de Elite 2 é um filmaço, anos-luz a frente do primeiro. José Padilha amadureceu seu discurso. Com as personagens principais devidamente apresentadas, deixa de lado as lenga-lengas e parte para a trama propriamente dita e nos entrega um filme empolgante e corajoso.

José Padilha coloca o dedo na ferida e atira para todos os lados. Os vilões são devidamente delineados e vão se revelando naturalmente no decorrer do filme. Contudo as personagens estão longe de ser unilaterais, são profundas. Alguns caricatos (André Matos que faz o Fortunato "Datena" é muito ruim pro papel. Se faz rir é por causa do texto, mas muito mal aproveitado).

Além de Wagner Moura, que agora começa como Tenente-Coronel,e está mais como um anti-herói quixotesco, André Ramiro (André Matias), Maria Ribeiro (Rosane, esposa de Nascimento) e Milhem Cortaz (Capitão Fábio) voltam aos seus papeis.

O elenco ganha ótimos acrescimos como Tainá Miller (Cão sem Dono) no papel, infelizmente pequeno, de uma jornalista , Sandro Rocha como Russo, o vilão da vez, o fraco Pedro Van-Held como Rafael, filho de Nascimento , Iradhir Santos como o ativista Fraga e Seu Jorge como o chefão Beirada (alias, ele devia deixar a musica de lado e se dedicar mais a carreira de ator).

Nascimento é uma personagem digna da trágédia grega. Seus atos o caminham para a fundo do poço desde o primeiro filme (onde termina abandonado e infeliz por suas escolhas) e aqui novamente demora a cair a ficha de que, a cada degrau que sobe na vida pública uma teia de ramificações e consequências cada vez mais dificeis de desfazer vão se formando. Ele é vítima de um sistema corrupto que o próprio acaba por fortalecer. Quando cai em sí pode ser tarde demais, mas o filme trás uma mensagem de esperança, ainda que dificil de identificar os verdadeiros culpados. E como já dizia Rauzito "você mata uma e vem outra em seu lugar".


Tropa de Elite 2 tem suas falhas, mas elas são atenuadas por um excelente roteiro, uma montagem primorosa e uma coragem que falta a muito cineasta brasileiro, que não deixa ninguém de fora de suas críticas, desde os intelectuais e ativistas, passando pelo jornalismo e culminando nos verdadeiros culpados, estes invisíveis e dificeis de indentificar. Mas difícil mesmo é prever o impacto que pode ter em mês que decidimos o futuro de nosso pais com as eleições presidenciais.

Enfim, um filme que apresenta várias perguntas e que faz o o expectador refletir. E de certa forma (principalmente nas palavras de Fraga acerca do simbolo do Bope) até atesta um pouco o que disse no post "O Brasil de todos nós".

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