Dois anos depois, em 2000, assinaram contrato com a Universal com o qual lançaram "O Circo está armado", com produção de Rafael Ramos,e participação de Eduardo Dusek e Milton Guedes, mas não foi desta vez que a Relespública alcançaria Vôos maiores.
2- Já o segundo CD, "O Circo está armado" foi gravado por uma grande gravadora e produzido pelo Rafael Ramos . O resultado foi o esperado ?
Imagine esse bando de malucos chegando pra gravar no maior estúdio do país? Éramos uns cabeludos bebuns e talentosos tratados como “rock stars” pela primeira vez. Aquilo era um conto de fadas! Lembro o Rafael falando: - Bem vindos à Hollywwod! hahaha Mas estávamos despreparados. A grana que ganhávamos era torrada em festas todo dia depois da gravação. Éramos uns zoneiros mesmo! Todos ficavam putos com a gente e com razão! Mas tocamos pra valer e fizemos um belo disco, mesmo assim. Tivemos arranjo de metais e cordas do maestro J. Moraes, o Eduardo Dussek cantou “Pesadelos”, Milton Guedes também participou tocando harmônica em “Só Sei um Soul” e sax em “Tão Linda”. Fizemos um ótimo trabalho com o Rafael no comando. Mas algumas coisas acabaram descaracterizando o grupo e perdemos o foco. Na hora de tirar as fotos pro disco foi um horror! Chegamos de terninho, bem mod mesmo e eles diziam: “Esse visual é ultrapassado! J. Quest não usa essas coisas velhas!” Um ano depois o Strokes estourou no mundo inteiro exatamente com as mesmas roupas e os instrumentos Fender e Rickenbacker que a gente usava... Além disso, era uma época em que a pirataria estava comendo solta e deu um prejuízo grande no mercado fonográfico. Isso tudo em pleno ano 2000. Uma loucura! E deu no que deu: pouca divulgação e nada de vendas expressivas. O Kako e o Gor pularam da barca.
3- Com o "As Histórias são Iguais" , lançado pela Monstro Discos, a Relespública chegou a um número maior de pessoas . Na minha opinião é o disco mais coeso do grupo , com um som mais definido do que os demais, com uma identidade formada (apesar de ser o terceiro CD a banda já tinha pelo menos 14 anos de estrada) . Você acha que depois de tantos anos, a Reles abriu um outro caminho, visou outros objetivos ? Se positivo, o que faltava ?
Esse disco foi uma espécie de volta às origens do grupo. Nunca o trio tinha lançado um disco inteiro de estúdio, como sempre sonhamos desde o início. Tivemos a ajuda importante do amigo/fã/produtor Marcelo Crivano e fomos ensaiar material novo. Eu tinha composto um material legal nesse tempo pós Universal. Foi um período difícil e por isso saíram canções como “Nunca Mais”, “Marcianos”, “Essa Canção” e “Garoa e Solidão”. No final de 2002 ia sair encartado no jornal Gazeta do Povo uma coletânea com várias bandas e artistas daqui. Na coletânea destinada às bandas de rock, entramos desacreditados pela maioria, pois achavam que estávamos acabados. Quando o responsável pela direção artística do projeto ouviu o single de “Garoa e Solidão”, imediatamente foi escolhida para abrir o cd. Ganhamos a faixa 1! Era o motivo pra nos dar novas esperanças no nosso trabalho e nos encher de gás novamente. Fomos preencher o repertório do disco e tinha uma canção do Ira! que eles nunca haviam gravado “A Fumaça é Melhor que o Ar” (Edgard Scandurra). Pedi a ele num show e ele liberou na boa. Aí veio o Nasi e disse: “Filho! Ai de vocês se não me chamarem pra cantar essa música!” hahaha E ele cantou duas! “Boatos de Bar” uma das primeiras músicas nossas, ficou sensacional na voz rouca dele! Daí pra frente lançamos o disco em Porto Alegre, fizemos quase todos os festivais no país e ralamos bastante, tocando semanalmente. Tínhamos dado a volta por cima e com o som e a atitude que sempre imaginamos pra Relespública.
4- Como surgiu a Relespública ?
Conheci o Moon na escola, em 1989. Tínhamos 13 anos na época. Ele tocava com outros alunos. Eles tinham uma banda! Uau! Lá fui eu fazer teste pra entrar no tal grupo. Fui reprovado por querer tocar minhas músicas e o Moon que já tava de saco cheio de tocar covers com eles, saiu da banda e formamos o embrião da Relespública. Marcamos um show durante o intervalo da aula no Dia do Estudante e chamamos o Ricardo, meu vizinho, pra tocar baixo. Detalhe: ele não tinha um baixo mas tinha uma graninha guardada. Fomos no centro da cidade e compramos o mais barato que tinha na loja. Passei o dia e a noite ensinando as notas pra ele e tocamos no dia seguinte, pra cerca de 3000 alunos. Ninguém vaiou e continuamos juntos até hoje! Hahahaha
5- Tanto o nome da banda quanto algumas letras sugerem uma identificação grande com a literatura . Fale um pouco sobre o nome da banda e o processo de composição de algumas letras ?
Compor é um exercício pra mim. E uma necessidade também. Preciso expressar minhas impressões desse mundo. Gosto de variar os temas e me inspiro na hora que estou sozinho em casa, de madrugada, após um cigarrinho pra pensar...
Nós três sempre gostamos de ler. Livros, revistas, jornais, gibis...tudo! E eles são bem críticos com relação às minhas letras, o que ajuda muito também.
Quanto à Relespública, era 1991 e não tínhamos um nome de verdade pra banda. Usávamos nomes provisórios horríveis! Até que um dia, tive em mãos o livro “Como Vejo o Mundo” de Albert Einstein. Li num dos parágrafos que ele achava um absurdo soldados desfilando ao som de música e que a guerra era a maior de todas as ignonímias! Cara! Aquilo mexeu comigo! Quem vai pra guerra é o povo e não os malditos homens da guerra, “protegidos” em seus “bunkers” e “sentados atrás de suas mesas”. Isso é desprezível! Tudo que é pro povo é desprezível, fulo, pífio, RELES! Então a Reles é pública! Legal... mas será que já existe esse nome? Então pichamos no muro da casa de um militar do alto escalão, na calada da noite bem grande “RELESPÚBLICA”. No outro dia meu pai me acordou batendo com o jornal na minha cara:
- O que é isso? Quer ser preso é?Pronto! Tínhamos um nome de verdade agora!
6- O Daniel Fagundes chegou a gravar com a Reles os primeiros Eps ? Você assumiu os vocais logo após o falecimento dele ? Digo isso porque , depois o Kako assumiu essa posição na banda. De qualquer forma, porque a relutância em assumir os vocais ?
Ah cara! Sempre curti fazer os backings... Pete Townshend e Edgard Scandurra eram e sempre serão os meus ídolos. Mas agora eu até gosto desse lance de ser o vocalista... hehehe
Mas sei das minhas limitações. Minha voz é rouca também e por isso não sou de ficar inventando malabarismos vocais. Nem acho que isso seja rock também...
7- Como o grupo lidou com a morte repentina do Daniel ?
Foi duro! Você perder um amigo de 16 anos num acidente de carro é tão estúpido e doloroso! A gente tem essa idade e pensa que nunca vai morrer, né? De repente levamos essa rasteira da vida. Até hoje sentimos falta dele. Era o mais novo, o irmão caçula...
8- Gosto muito da "Ele era realmente um Mod", gravada nos dois primeiros CDs. É uma musica que se encaixaria perfeitamente junto com "As histórias são iguais", já que possui uma levada bem forte, influenciada bastante pelo som de bateria de bandas como o The Who, The Jam, Ira ! , que são influências óbvias do som de vocês (e também explicitadas até no nome da música). Quais os outros sons que influênciaram cada um de vocês que não são tão óbvios assim ?
Valeu! Essa eu compus em memória do Daniel, 3 dias após o ocorrido. Sempre que canto nos shows, sinto a sua luz, a sua presença conosco. O Moon realmente fez um ótimo trabalho de bateria nessa faixa. Ele também estava no acidente e quebrou a bacia. Ficou meses sem tocar e essa foi a música que fizemos quando retomamos os ensaios. Ficava imaginado a vontade dele em tocar pra valer!
Temos várias influências de bandas e músicos de todas as épocas. Adoro Buddy Holly, Chuck Berry, James Brown, Dave Davies, Steve Crooper, Roberto Carlos, Raul Seixas, muito blues e punk rock também. O Ricardo aprendeu depois com um professor de jazz. Usava métodos de James Jameson e pira em Jack Bruce. O Moon é outro que se amarra em Max Roach, Gene Krupa, Ginger Backer, Charlie Watts, etc... ouvimos de tudo, enfim. Não temos preconceito com ritmos e estilos.
9- Durante toda a carreira da banda vocês sempre forneceram material para a MTV . Quais são os clipes que vcs já fizeram até hoje ?
Fizemos “Mina Rock’n’Roll” do E o Rock’n’Roll Brasil?!, “Sem Você Jamais” d’O Circo Está Armado e “Nunca Mais” e “Garoa e Solidão” do As Histórias São Iguais.
10- Eu moro em uma cidade do interior de São Paulo e embora a Reles atingiu um publico cada vez maior, principalmente nas capitais , não é possivel encontrar pessoas que conheçam o som da mesma. E sempre que mostro o Cd ou coloco para tocar a reação é de aprovação , mas falta uma afinidade maior em relação ao som da banda . A gravação do ao Vivo pela MTV atingiu o esperado ou faltou um pouco mais de dedicação por parte da mídia ?
Com certeza o que faltou foi grana pra mídia! Veja bem; o Brasil é um país de dimensões continentais! E o rock não tem a mesma amplitude que outros ritmos mais populares no interior principalmente. Pra chegar em todo mundo, tem que tocar nas rádios que cobram jabá, na Globo, na novela, no Faustão, no Gugu etc... E isso requer um caminhão de dinheiro pra poder rolar. Digamos que não temos nem o caminhão ainda! Sacou? É muito difícil conseguir atingir geral. Ainda mais que temos grandes artistas na mídia e o espaço é reduzido. Mas ficamos felizes de poder realizar um sonho e ter gravado um material tão legal. Fomos reconhecidos pelo selo MTV. Isso já nos enche de orgulho e satisfação. Vamos em frente que temos muito gás ainda e o rock não pode parar de maneira alguma!
11- "Garoa e Solidão" é uma musica que reflete bem o modo de vida curitibano, enquanto "A fumaça é melhor que o ar" que vocês gravaram do Scandurra é a típica canção paulistana do IRA!. O Quanto de Curitiba tem nesta canção ?
Ao contrário do que muitos pensam e a mídia mostra, Curitiba tem os mesmos problemas de uma metrópole. Miséria, menores abandonados, fome, pobreza, lixo aos montes, carros entupindo as ruas e poluindo o ar todos os dias...
Quanto às letras, elas expressam coisas opostas, apenas o clima é a garoa de sempre! A idéia do Edgard Scandurra era mostrar as diferenças entre São Paulo e Rio, eternas rivais, ligadas pelo famoso eixo cultural que forma o centro efervescente e caótico do país.
Aqui em Curitiba, pacata e colona, com um clima um tanto mais frio, vivemos buscando essa identidade e tínhamos que nos mirar nesse exemplo. Mas estamos sozinhos, isolados... garoa e solidão total!
12- Vou citar algumas frases e gostaria que você comentasse o que te vem à cabeça atualmente:
"Somos jovens / todos temos que lutar / num mundo sem paz"
O grande hino mod da Relespública, “Capaz de Tudo” compus aos 15 anos de idade, já sabendo o que queria ser da vida.
"Rock no Brasil é diversão de maluco / mas onde ele surgiu é profissão que dá lucro"
Toda brincadeira tem um fundo de verdade!
"Enquanto o tempo está passando / Eu vou tentar parar e me acalmar"
Portugal de Navio, outra música divertida dos geniais Mutantes. Não tocamos mais, faz um tempão!
"Realmente estou indeciso como o Sol / Sem ao menos saber de que lado ficar"
Indecisão é algo comum na mente de um jovem que busca respostas pra tudo. Uma das melhores letras que fiz foi “Sol em Estocolmo”.
"Me perguntar se é essa a questão / Meu coração na frente da razão"
Sempre fazemos as coisas com o coração, pois sem amor, nada vai pra frente. Essa letra fiz para meu grande amigo e irmão Daniel Fagundes, que cantava na banda. Tínhamos o mesmo amor pela música e isso é o que importa para mim hoje e sempre.
" Não quero nem saber / acendo um cigarrinho pra pensar / Que meu passado foi pra nunca mais / E que até hoje onde vou, percebo que ninguém / Vai parar para assistir"
Estava sentado numa varanda e assistindo o pôr do sol mais fantástico e maravilhoso do mundo. Acendi um cigarrinho e escrevi essa letra. A melodia surgiu antes um pouco. Casou direitinho a idéia estava no ar e “pesquei”, simplesmente... hehehe
"Se há uma luz quero tocar / antes de nunca mais"
Se há vida, é porque existe música! Enquanto viver, serei seu propagador...
13- Como se deu a parceria com o Nasi , o típico sonho de fã que vocês conseguiram realizar de uma forma , no mínimo, satisfatória ?
Foi demais! Ele nos ensinou muitas coisas devido à sua experiência dentro e fora dos palcos. É uma figurassa e sempre seremos ligados pela música que um dia fizemos. Não tenho muito o que dizer... valeu Nasi e Ira! por existirem e fazerem a música de vocês! Rock!!!
14- Curitiba está com boas bandas , com estilos diferentes , que alcançaram um reconhecimento nacional como o Faichecleres, Pelebroi não sei, Terminal Guadalupe, Bondê do Rolê (Esta até intercionalmente)... Indique algumas outras bandas da cidade que valeria a pena ser reconhecidas .
Dissonantes, Mordida, Gianninis, Anacrônica... são tantas bandas legais. O que falta aqui é mídia pro povo ficar conhecendo mais e melhor nossos artistas.
15- O que você anda escutando de novo ?
Bandas novas surgem todo dia, cada um fazendo seu som e curtindo. Isso é o rock’n’roll! Enquanto houverem revoltados e malucos, maravilha!!! Ouço tudo que cai na mão...
16- E o novo álbum, o sucessor do Ao vivo MTV, o que você pode adiantar ?
Algumas músicas que só lançamos ao vivo no dvd, terão suas versões de estúdio e claro, novidades e raridades tudo junto, mas só ano que vem!
17- Quais são os planos da Reles para esse segundo semestre de 2007 ?
Continuar a fazer shows do dvd, tentar dar mais um gás na divulgação final pra preparar o terreno pro próximo!
Ah! E queremos dominar o mundooooooooo!!!!! Hahahahahahaaaaaa!!!!!
A Sorte começou a mudar em 2003. Novamente como um trio, a Reles lançou o ótimo "As histórias são iguais", o melhor álbum de rock nacional daquele ano. A banda enfim estava com um som mais definido e trazia como trunfo o apoio de Nasi do Ira! (que canta em duas faixas) além de uma musica da velha guarda do Scandurra (mas nunca gravada pelo Ira!), "A fumaça é melhor que o ar".
Já em preparação para um novo álbum , a Banda foi convidada pela MTV para gravar em 2006 um álbum ao Vivo e como de praxe nos lançamentos do selo, um DVD. Foi aí que a banda , já reconhecida no cenário independente do país conseguiu atingir um público maior e novamente com a benção do padrinho Nasi, uma espécie de quarto membro do grupo (Alías ele e o Scandurra fizeram questão de assinar o meu disco da Reles).
Fiquem agora com uma entrevista exclusiva com o vocalista Fàbio Elias para o POPICES.
1- A Relespública existe desde 1989 e apesar do lançamento do EP em 93 demorou quase 10 anos para lançar o primeiro CD. Qual o motivo da demora ? Ele foi gravado somente pelo trio original ou já teve a participação do Roger e do Kako ?
Pois é, lançamos um EP! Compacto com 3 músicas: “Capaz de Tudo”, “Preciso Pensar” e “Quem é que entende o mundo?” ainda com o Daniel Fagundes no vocal. E na época, cds eram coisas importadas e caras. No Brasil, em Curitiba e sem grana, era difícil conseguir entrar em estúdio, imagine só lançar um cd! Então formamos com outras bandas da cidade uma espécie de “cooperativa” dividida em grupos de 10 bandas que tentavam vender umas as outras. Era difícil controlar isso, mas serviu para divulgarmos apenas em 1998 nosso primeiro cd, gravado às custas de Lei de Incentivo um ano antes, apenas com o trio. O cd foi produzido pela banda mesmo, com a “mãozinha” de Rolando Castello Jr., baterista do Made in Brazil, Patrulha do Espaço... conhecia o Arnaldo Baptista, os Mutantes e toda a moçada do rock brasileiro dos anos 70. Muito louco esse tempo! Foi aí que tive problema na voz, devido à falta de uma aula de canto, hehehe. Fora que éramos uns pivetes que viviam nas ruas do centro e caindo na noite direto, tomando todas! Mas valeu! Dessas noites de blues e uísque surgiu o Roger “Gor”, lenda entre os malucos daqui de Curitiba e que tocava piano. Éramos muito camaradas e somos até hoje. O Kako veio logo depois, e o “Gor” que trouxe ele pra banda. Acrescentamos as vozes e teclas no disco e viramos quinteto de uma hora para outra. Saímos rodar todos os bares e casas da cidade e do Paraná. Aí conseguimos um contrato com a Universal.
Pois é, lançamos um EP! Compacto com 3 músicas: “Capaz de Tudo”, “Preciso Pensar” e “Quem é que entende o mundo?” ainda com o Daniel Fagundes no vocal. E na época, cds eram coisas importadas e caras. No Brasil, em Curitiba e sem grana, era difícil conseguir entrar em estúdio, imagine só lançar um cd! Então formamos com outras bandas da cidade uma espécie de “cooperativa” dividida em grupos de 10 bandas que tentavam vender umas as outras. Era difícil controlar isso, mas serviu para divulgarmos apenas em 1998 nosso primeiro cd, gravado às custas de Lei de Incentivo um ano antes, apenas com o trio. O cd foi produzido pela banda mesmo, com a “mãozinha” de Rolando Castello Jr., baterista do Made in Brazil, Patrulha do Espaço... conhecia o Arnaldo Baptista, os Mutantes e toda a moçada do rock brasileiro dos anos 70. Muito louco esse tempo! Foi aí que tive problema na voz, devido à falta de uma aula de canto, hehehe. Fora que éramos uns pivetes que viviam nas ruas do centro e caindo na noite direto, tomando todas! Mas valeu! Dessas noites de blues e uísque surgiu o Roger “Gor”, lenda entre os malucos daqui de Curitiba e que tocava piano. Éramos muito camaradas e somos até hoje. O Kako veio logo depois, e o “Gor” que trouxe ele pra banda. Acrescentamos as vozes e teclas no disco e viramos quinteto de uma hora para outra. Saímos rodar todos os bares e casas da cidade e do Paraná. Aí conseguimos um contrato com a Universal.
2- Já o segundo CD, "O Circo está armado" foi gravado por uma grande gravadora e produzido pelo Rafael Ramos . O resultado foi o esperado ?
Imagine esse bando de malucos chegando pra gravar no maior estúdio do país? Éramos uns cabeludos bebuns e talentosos tratados como “rock stars” pela primeira vez. Aquilo era um conto de fadas! Lembro o Rafael falando: - Bem vindos à Hollywwod! hahaha Mas estávamos despreparados. A grana que ganhávamos era torrada em festas todo dia depois da gravação. Éramos uns zoneiros mesmo! Todos ficavam putos com a gente e com razão! Mas tocamos pra valer e fizemos um belo disco, mesmo assim. Tivemos arranjo de metais e cordas do maestro J. Moraes, o Eduardo Dussek cantou “Pesadelos”, Milton Guedes também participou tocando harmônica em “Só Sei um Soul” e sax em “Tão Linda”. Fizemos um ótimo trabalho com o Rafael no comando. Mas algumas coisas acabaram descaracterizando o grupo e perdemos o foco. Na hora de tirar as fotos pro disco foi um horror! Chegamos de terninho, bem mod mesmo e eles diziam: “Esse visual é ultrapassado! J. Quest não usa essas coisas velhas!” Um ano depois o Strokes estourou no mundo inteiro exatamente com as mesmas roupas e os instrumentos Fender e Rickenbacker que a gente usava... Além disso, era uma época em que a pirataria estava comendo solta e deu um prejuízo grande no mercado fonográfico. Isso tudo em pleno ano 2000. Uma loucura! E deu no que deu: pouca divulgação e nada de vendas expressivas. O Kako e o Gor pularam da barca.
3- Com o "As Histórias são Iguais" , lançado pela Monstro Discos, a Relespública chegou a um número maior de pessoas . Na minha opinião é o disco mais coeso do grupo , com um som mais definido do que os demais, com uma identidade formada (apesar de ser o terceiro CD a banda já tinha pelo menos 14 anos de estrada) . Você acha que depois de tantos anos, a Reles abriu um outro caminho, visou outros objetivos ? Se positivo, o que faltava ?
Esse disco foi uma espécie de volta às origens do grupo. Nunca o trio tinha lançado um disco inteiro de estúdio, como sempre sonhamos desde o início. Tivemos a ajuda importante do amigo/fã/produtor Marcelo Crivano e fomos ensaiar material novo. Eu tinha composto um material legal nesse tempo pós Universal. Foi um período difícil e por isso saíram canções como “Nunca Mais”, “Marcianos”, “Essa Canção” e “Garoa e Solidão”. No final de 2002 ia sair encartado no jornal Gazeta do Povo uma coletânea com várias bandas e artistas daqui. Na coletânea destinada às bandas de rock, entramos desacreditados pela maioria, pois achavam que estávamos acabados. Quando o responsável pela direção artística do projeto ouviu o single de “Garoa e Solidão”, imediatamente foi escolhida para abrir o cd. Ganhamos a faixa 1! Era o motivo pra nos dar novas esperanças no nosso trabalho e nos encher de gás novamente. Fomos preencher o repertório do disco e tinha uma canção do Ira! que eles nunca haviam gravado “A Fumaça é Melhor que o Ar” (Edgard Scandurra). Pedi a ele num show e ele liberou na boa. Aí veio o Nasi e disse: “Filho! Ai de vocês se não me chamarem pra cantar essa música!” hahaha E ele cantou duas! “Boatos de Bar” uma das primeiras músicas nossas, ficou sensacional na voz rouca dele! Daí pra frente lançamos o disco em Porto Alegre, fizemos quase todos os festivais no país e ralamos bastante, tocando semanalmente. Tínhamos dado a volta por cima e com o som e a atitude que sempre imaginamos pra Relespública.
Conheci o Moon na escola, em 1989. Tínhamos 13 anos na época. Ele tocava com outros alunos. Eles tinham uma banda! Uau! Lá fui eu fazer teste pra entrar no tal grupo. Fui reprovado por querer tocar minhas músicas e o Moon que já tava de saco cheio de tocar covers com eles, saiu da banda e formamos o embrião da Relespública. Marcamos um show durante o intervalo da aula no Dia do Estudante e chamamos o Ricardo, meu vizinho, pra tocar baixo. Detalhe: ele não tinha um baixo mas tinha uma graninha guardada. Fomos no centro da cidade e compramos o mais barato que tinha na loja. Passei o dia e a noite ensinando as notas pra ele e tocamos no dia seguinte, pra cerca de 3000 alunos. Ninguém vaiou e continuamos juntos até hoje! Hahahaha
5- Tanto o nome da banda quanto algumas letras sugerem uma identificação grande com a literatura . Fale um pouco sobre o nome da banda e o processo de composição de algumas letras ?
Compor é um exercício pra mim. E uma necessidade também. Preciso expressar minhas impressões desse mundo. Gosto de variar os temas e me inspiro na hora que estou sozinho em casa, de madrugada, após um cigarrinho pra pensar...
Nós três sempre gostamos de ler. Livros, revistas, jornais, gibis...tudo! E eles são bem críticos com relação às minhas letras, o que ajuda muito também.
Quanto à Relespública, era 1991 e não tínhamos um nome de verdade pra banda. Usávamos nomes provisórios horríveis! Até que um dia, tive em mãos o livro “Como Vejo o Mundo” de Albert Einstein. Li num dos parágrafos que ele achava um absurdo soldados desfilando ao som de música e que a guerra era a maior de todas as ignonímias! Cara! Aquilo mexeu comigo! Quem vai pra guerra é o povo e não os malditos homens da guerra, “protegidos” em seus “bunkers” e “sentados atrás de suas mesas”. Isso é desprezível! Tudo que é pro povo é desprezível, fulo, pífio, RELES! Então a Reles é pública! Legal... mas será que já existe esse nome? Então pichamos no muro da casa de um militar do alto escalão, na calada da noite bem grande “RELESPÚBLICA”. No outro dia meu pai me acordou batendo com o jornal na minha cara:
- O que é isso? Quer ser preso é?Pronto! Tínhamos um nome de verdade agora!
6- O Daniel Fagundes chegou a gravar com a Reles os primeiros Eps ? Você assumiu os vocais logo após o falecimento dele ? Digo isso porque , depois o Kako assumiu essa posição na banda. De qualquer forma, porque a relutância em assumir os vocais ?
Ah cara! Sempre curti fazer os backings... Pete Townshend e Edgard Scandurra eram e sempre serão os meus ídolos. Mas agora eu até gosto desse lance de ser o vocalista... hehehe
Mas sei das minhas limitações. Minha voz é rouca também e por isso não sou de ficar inventando malabarismos vocais. Nem acho que isso seja rock também...
7- Como o grupo lidou com a morte repentina do Daniel ?
Foi duro! Você perder um amigo de 16 anos num acidente de carro é tão estúpido e doloroso! A gente tem essa idade e pensa que nunca vai morrer, né? De repente levamos essa rasteira da vida. Até hoje sentimos falta dele. Era o mais novo, o irmão caçula...
8- Gosto muito da "Ele era realmente um Mod", gravada nos dois primeiros CDs. É uma musica que se encaixaria perfeitamente junto com "As histórias são iguais", já que possui uma levada bem forte, influenciada bastante pelo som de bateria de bandas como o The Who, The Jam, Ira ! , que são influências óbvias do som de vocês (e também explicitadas até no nome da música). Quais os outros sons que influênciaram cada um de vocês que não são tão óbvios assim ?
Valeu! Essa eu compus em memória do Daniel, 3 dias após o ocorrido. Sempre que canto nos shows, sinto a sua luz, a sua presença conosco. O Moon realmente fez um ótimo trabalho de bateria nessa faixa. Ele também estava no acidente e quebrou a bacia. Ficou meses sem tocar e essa foi a música que fizemos quando retomamos os ensaios. Ficava imaginado a vontade dele em tocar pra valer!
Temos várias influências de bandas e músicos de todas as épocas. Adoro Buddy Holly, Chuck Berry, James Brown, Dave Davies, Steve Crooper, Roberto Carlos, Raul Seixas, muito blues e punk rock também. O Ricardo aprendeu depois com um professor de jazz. Usava métodos de James Jameson e pira em Jack Bruce. O Moon é outro que se amarra em Max Roach, Gene Krupa, Ginger Backer, Charlie Watts, etc... ouvimos de tudo, enfim. Não temos preconceito com ritmos e estilos.
9- Durante toda a carreira da banda vocês sempre forneceram material para a MTV . Quais são os clipes que vcs já fizeram até hoje ?
Fizemos “Mina Rock’n’Roll” do E o Rock’n’Roll Brasil?!, “Sem Você Jamais” d’O Circo Está Armado e “Nunca Mais” e “Garoa e Solidão” do As Histórias São Iguais.
10- Eu moro em uma cidade do interior de São Paulo e embora a Reles atingiu um publico cada vez maior, principalmente nas capitais , não é possivel encontrar pessoas que conheçam o som da mesma. E sempre que mostro o Cd ou coloco para tocar a reação é de aprovação , mas falta uma afinidade maior em relação ao som da banda . A gravação do ao Vivo pela MTV atingiu o esperado ou faltou um pouco mais de dedicação por parte da mídia ?
Com certeza o que faltou foi grana pra mídia! Veja bem; o Brasil é um país de dimensões continentais! E o rock não tem a mesma amplitude que outros ritmos mais populares no interior principalmente. Pra chegar em todo mundo, tem que tocar nas rádios que cobram jabá, na Globo, na novela, no Faustão, no Gugu etc... E isso requer um caminhão de dinheiro pra poder rolar. Digamos que não temos nem o caminhão ainda! Sacou? É muito difícil conseguir atingir geral. Ainda mais que temos grandes artistas na mídia e o espaço é reduzido. Mas ficamos felizes de poder realizar um sonho e ter gravado um material tão legal. Fomos reconhecidos pelo selo MTV. Isso já nos enche de orgulho e satisfação. Vamos em frente que temos muito gás ainda e o rock não pode parar de maneira alguma!
11- "Garoa e Solidão" é uma musica que reflete bem o modo de vida curitibano, enquanto "A fumaça é melhor que o ar" que vocês gravaram do Scandurra é a típica canção paulistana do IRA!. O Quanto de Curitiba tem nesta canção ?
Ao contrário do que muitos pensam e a mídia mostra, Curitiba tem os mesmos problemas de uma metrópole. Miséria, menores abandonados, fome, pobreza, lixo aos montes, carros entupindo as ruas e poluindo o ar todos os dias...
Quanto às letras, elas expressam coisas opostas, apenas o clima é a garoa de sempre! A idéia do Edgard Scandurra era mostrar as diferenças entre São Paulo e Rio, eternas rivais, ligadas pelo famoso eixo cultural que forma o centro efervescente e caótico do país.
Aqui em Curitiba, pacata e colona, com um clima um tanto mais frio, vivemos buscando essa identidade e tínhamos que nos mirar nesse exemplo. Mas estamos sozinhos, isolados... garoa e solidão total!
"Somos jovens / todos temos que lutar / num mundo sem paz"
O grande hino mod da Relespública, “Capaz de Tudo” compus aos 15 anos de idade, já sabendo o que queria ser da vida.
"Rock no Brasil é diversão de maluco / mas onde ele surgiu é profissão que dá lucro"
Toda brincadeira tem um fundo de verdade!
"Enquanto o tempo está passando / Eu vou tentar parar e me acalmar"
Portugal de Navio, outra música divertida dos geniais Mutantes. Não tocamos mais, faz um tempão!
"Realmente estou indeciso como o Sol / Sem ao menos saber de que lado ficar"
Indecisão é algo comum na mente de um jovem que busca respostas pra tudo. Uma das melhores letras que fiz foi “Sol em Estocolmo”.
"Me perguntar se é essa a questão / Meu coração na frente da razão"
Sempre fazemos as coisas com o coração, pois sem amor, nada vai pra frente. Essa letra fiz para meu grande amigo e irmão Daniel Fagundes, que cantava na banda. Tínhamos o mesmo amor pela música e isso é o que importa para mim hoje e sempre.
" Não quero nem saber / acendo um cigarrinho pra pensar / Que meu passado foi pra nunca mais / E que até hoje onde vou, percebo que ninguém / Vai parar para assistir"
Estava sentado numa varanda e assistindo o pôr do sol mais fantástico e maravilhoso do mundo. Acendi um cigarrinho e escrevi essa letra. A melodia surgiu antes um pouco. Casou direitinho a idéia estava no ar e “pesquei”, simplesmente... hehehe
"Se há uma luz quero tocar / antes de nunca mais"
Se há vida, é porque existe música! Enquanto viver, serei seu propagador...
13- Como se deu a parceria com o Nasi , o típico sonho de fã que vocês conseguiram realizar de uma forma , no mínimo, satisfatória ?
Foi demais! Ele nos ensinou muitas coisas devido à sua experiência dentro e fora dos palcos. É uma figurassa e sempre seremos ligados pela música que um dia fizemos. Não tenho muito o que dizer... valeu Nasi e Ira! por existirem e fazerem a música de vocês! Rock!!!
14- Curitiba está com boas bandas , com estilos diferentes , que alcançaram um reconhecimento nacional como o Faichecleres, Pelebroi não sei, Terminal Guadalupe, Bondê do Rolê (Esta até intercionalmente)... Indique algumas outras bandas da cidade que valeria a pena ser reconhecidas .
Dissonantes, Mordida, Gianninis, Anacrônica... são tantas bandas legais. O que falta aqui é mídia pro povo ficar conhecendo mais e melhor nossos artistas.
15- O que você anda escutando de novo ?
Bandas novas surgem todo dia, cada um fazendo seu som e curtindo. Isso é o rock’n’roll! Enquanto houverem revoltados e malucos, maravilha!!! Ouço tudo que cai na mão...
16- E o novo álbum, o sucessor do Ao vivo MTV, o que você pode adiantar ?
Algumas músicas que só lançamos ao vivo no dvd, terão suas versões de estúdio e claro, novidades e raridades tudo junto, mas só ano que vem!
17- Quais são os planos da Reles para esse segundo semestre de 2007 ?
Continuar a fazer shows do dvd, tentar dar mais um gás na divulgação final pra preparar o terreno pro próximo!
Ah! E queremos dominar o mundooooooooo!!!!! Hahahahahahaaaaaa!!!!!
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