Na estreia de O Despertar da Força, ficou evidente a intenção de J.J. Abrams: reacender o vínculo emocional com os fãs antigos e, ao mesmo tempo, apresentar uma nova geração de heróis. Não à toa, o filme de 2015 foi acusado por parte do público mais purista de ser uma releitura disfarçada do episódio IV. Ainda que a crítica tenha, em sua maioria, abraçado a proposta, havia ali o risco claro de excesso de reverência.
Rian Johnson assume a direção do novo longa e repete parte da fórmula: Os Últimos Jedi ecoa o episódio V — com rimas visuais, conflitos estruturais semelhantes e um tom mais sombrio. O herói em jornada solitária, o mestre relutante em exílio, a rebelião acuada: todos os elementos estão ali. Mas se Abrams fez um remake disfarçado, Johnson prefere transformar a homenagem em base para subversão.
Após o spin-off Rogue One, lançado no hiato de 2016, Os Últimos Jedi marca a volta da trama principal da família Skywalker. E faz isso com intenções claras: o filme quer ser grande. Tão grande quanto O Império Contra-Ataca, favorito declarado da maioria dos fãs. Em termos narrativos, carrega uma promessa de revelações importantes — mesmo que muitas delas apenas brinquem com as expectativas da audiência.
O título original, The Last Jedi, já indicava a ambiguidade da proposta. O plural em inglês é neutro, o que gerou, à época, dúvidas: seria “O último Jedi”? “A última Jedi”? “Os últimos Jedi”? O Brasil optou pela última alternativa — uma escolha que faz sentido, especialmente à luz do letreiro de abertura do filme anterior, que referia-se a Luke Skywalker como o último remanescente da ordem.
Luke, aliás, é o centro emocional do longa. E talvez o maior trunfo. Ao reencontrar Rey no final do episódio VII, esperava-se o retorno triunfante do herói. Mas Johnson entrega um personagem desencantado, recluso, relutante — e por isso mesmo mais humano. Quando recebe o sabre de luz, não o trata como um artefato sagrado, mas como um lembrete de perdas. A arma que tirou a vida de amigos e sua própria mão. Em vez de salvador, Luke é apresentado como alguém quebrado, desencantado com os próprios mitos. A escolha é ousada e poderosa — embora, previsivelmente, vá desagradar parte dos fãs mais conservadores.
No campo político e simbólico, o filme também espelha o presente. Se em 1977 era possível traçar limites nítidos entre o Bem e o Mal, hoje os tons são mais cinzentos — ainda que os sabres permaneçam vermelhos e azuis. A própria noção de heroísmo é revisitada, e a Força, antes um dom quase hereditário, se democratiza. Uma decisão que aponta para um futuro mais aberto dentro do universo da franquia.
Carrie Fisher, em sua última aparição na saga, tem aqui seu momento mais expressivo como Leia. Gravado antes de sua morte, seu desempenho é comovente e firme. Se em episódios anteriores sua presença era quase protocolar, Os Últimos Jedi a coloca no centro de decisões importantes. Um tributo digno.
Com as teorias de fãs fervilhando desde o final do episódio anterior — Rey seria filha de Luke? Netinha de Obi-Wan? Nova reencarnação de Anakin? — Os Últimos Jedi responde algumas perguntas e evita outras, preferindo construir novos caminhos em vez de apenas fechar pontas soltas. O filme rejeita muitas soluções fáceis que pululam em fan fics e vídeos de YouTube, e isso, por si só, já é um avanço.
A comparação com O Império Contra-Ataca é inevitável. Mas Rian Johnson, mesmo reverenciando o clássico, busca sua própria assinatura. E se decepciona quem esperava respostas diretas ou grandes reviravoltas à moda antiga, agrada ao espectador disposto a ver Guerra nas Estrelas como algo além de uma fórmula a ser repetida.