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terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Guerra Nas Estrelas - A Ascensão Skywalker

Vamos ser francos: não é razoável esperar revoluções narrativas de um nono episódio de uma das franquias mais icônicas do cinema. Ainda assim, Guerra nas Estrelas: A Ascensão Skywalker, dirigido por J.J. Abrams, assume com segurança a missão de encerrar a jornada da família Skywalker — mesmo que, para isso, precise desfazer boa parte das ousadias narrativas propostas por Rian Johnson no episódio anterior.

Lançado em 2017, Os Últimos Jedi conseguiu o que parecia impossível: manter o charme da trilogia clássica enquanto desconstruía os próprios mitos da série. Luke Skywalker foi apresentado como um mestre falho, humano, desencantado. Rey, por sua vez, surgia como uma personagem comum, sem herança de sangue nobre, mas profundamente conectada à Força — uma proposta que democratizava o legado Jedi. E tudo isso envolto por soluções visuais elegantes, como a já célebre batalha no planeta de sal, onde o vermelho sob o branco se tornou metáfora plástica e política.

Mas o risco criativo cobrou seu preço: parte dos fãs mais conservadores reagiu mal. A resposta da Disney foi devolver o controle a Abrams — um nome seguro, que conhece a série e sabe como entregar aquilo que o público tradicional espera.

Ascensão Skywalker, portanto, representa um recuo. Abandona as ideias de Johnson, retoma velhos arquétipos e reconecta Rey à linhagem dos Skywalker — ainda que às custas de um retcon que soa artificial. Para os fãs que queriam respostas e familiaridade, o filme entrega tudo isso. Para os que buscavam novidade, restam apenas as boas intenções do episódio anterior.

Isso não significa que o filme falhe tecnicamente. Abrams conduz a narrativa com ritmo ágil e compreensão clara da mitologia da série. O roteiro é funcional, ainda que excessivamente didático em suas resoluções. Como capítulo final, o longa aposta alto no épico: é, de longe, o filme com maior volume de cenas de ação da saga — o que, paradoxalmente, compromete o impacto de algumas delas, diante da repetição.

Também não faltam elementos clássicos de desfechos cinematográficos: reencontros emocionados, revelações familiares e até romances pontuais. Afinal, trata-se de fechar um ciclo — mesmo que, como a história já mostrou, esse tipo de encerramento seja sempre provisório. O Retorno de Jedi e A Vingança dos Sith que o digam.

Ascensão Skywalker oferece ainda o que se convencionou chamar de “fan service” — uma série de acenos ao público que acompanha a saga há décadas. O termo, aliás, tornou-se onipresente nesta era de revivals, reboots e universos compartilhados. E se por um lado agrada aos nostálgicos, por outro, aprisiona a narrativa em convenções previsíveis.

A volta de personagens clássicos — mesmo sem função orgânica à trama — é exemplo claro dessa estratégia. Sua presença evoca memórias, preenche lacunas emocionais, mas raramente move a história adiante. Ainda assim, há quem se emocione com essas participações, e não há nada de errado nisso. Guerra nas Estrelas sempre foi sobre legado — mesmo quando isso pesa mais do que impulsiona.

Apesar de apagar os avanços de Os Últimos JediA Ascensão Skywalker cumpre sua função: fecha de forma digna uma saga que marcou gerações. O resultado não é inovador, mas também não é desonesto. É uma conclusão segura, pensada para agradar ao maior número possível de fãs — inclusive os mais exigentes, que se consideram “verdadeiros conhecedores” por acompanhar cada HQ ou derivado da série (ainda que muito desse material expandido não resista a uma análise crítica mais rigorosa).

Só não é o capítulo mais fraco da franquia porque a trilogia prelúdio, idealizada por George Lucas entre 1999 e 2005, continua sendo um lembrete de que boas intenções nem sempre se traduzem em bom cinema.