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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Bob Lester - O Contador de histórias




Confesso: até o dia de sua morte, nunca havia ouvido falar de Bob Lester. E mesmo assim, na ocasião, fiquei apenas com a manchete — não me dei ao trabalho de ler a matéria. Parecia mais um daqueles obituários protocolarmente generosos, em que um nome de outro tempo, que ninguém se lembra de fato, recebe um último tapinha nas costas da posteridade.

O curioso — e é sempre aí que a história melhora — é que, dias depois, descobri pela coluna de Ruy Castro, na Folha de S.Paulo, que a biografia de Lester era, digamos, pura coreografia. E das mais inventivas.

Segundo ele mesmo — e apenas ele — Bob havia sido músico e dançarino de Carmen Miranda, contracenado com Fred Astaire, Bob Hope e outros astros de uma Hollywood que só existe nos filmes da TCM. Deu entrevistas, apareceu no Programa do Jô, encantou jornalistas com uma lábia que nem precisava de coreografia. Uma busca rápida no Google nos leva a uma página robusta na Wikipédia — recheada, claro, de informações tão verossímeis quanto um musical da Metro (o autor desse texto na wikipedia também caiu no conto)

Ora, se Bob queria entrar para a história, entrou. Sua lenda tornou-se maior do que ele. E isso, no fundo, é a verdadeira glória de certos personagens: não serem verdadeiros, mas convincentes. O Brasil, esse país que adora um personagem (melhor ainda se for inventado), o acolheu como tal.

E pensar que bastava um jornalista — um só — ter se perguntado por que o nome de Lester jamais apareceu nos discos da Pequena Notável. Mas quem é que resiste a uma boa história, ainda que falsa?

Se Lester merece uma grande matéria nesse grande circo que é a mídia? Talvez. Ou talvez apenas esta notinha. Mas, por favor, com cortina vermelha, luz dramática e aplausos na coxia. Afinal, a lenda já está criada. Que não se atrapalhe agora com detalhes tão desnecessários como a verdade.